Lágrimas de Jesus
Cafarnaum, localizada em região próxima do Mar
da Galileia, tem sua fundação registrada como no
século II a.C. Considerada em estado de abandono
no século XI, hoje encontra-se em ruínas.
Escavações levadas a efeito pelos arqueólogos
Virgílio Canio Corbo (1918-1991) e Stanislao
Lofredda (1932-2025) ambos nascidos na Itália e
frades franciscanos em seus trabalhos desde
1968, comunicaram a descoberta nessa antiga
cidade de casas que remontam ao século I a.C.,
uma população de aproximadamente 1.500 pessoas.
Eles encontraram no sítio arqueológico um
Memorial contendo “baptistério” (século V) e
locais históricos como, provavelmente, a casa do
apóstolo Pedro e uma sinagoga judaica. Para os
arqueólogos, no local Cristo deixava seus
ensinamentos. Em relatos bíblicos, pelo fato de
possuir uma alfândega e local para uma guarnição
romana, sugere-se que se tratava de uma cidade
fronteiriça entre os estados de Filipe e Herodes
Antipas e atribui-se a Jesus a realização de
milagres como a cura de um paralítico e do filho
de um oficial romano, quando o Cristo passava
seus ensinamentos durante seu ministério na
Galileia e foi chamada à sua cidade, pelo fato
de ter adotado na cidade sua moradia.
A propósito da cura de um paralítico, Divaldo
Franco, em seu livro Primícias do Reino, de
autoria do Espírito Amélia Rodrigues, no texto
“O paralítico de Cafarnaum”, diz que Jesus amava
essa cidade com seu casario baixo, esparramado
entre árvores frondosas, marchetadas por
trepadeiras de miúdas flores, e onde teria dado
início ao seu ministério de amor.
A notícia de sua chegada à cidade atraiu
curiosos e sofredores das cercanias. Jesus impôs
silêncio ao leproso que curara e rogou à sogra
de Simão nada dizer do que lhe acontecera, mas o
silêncio era quase impossível.
Ele doava
seu amor àquelas populações ribeirinhas com
estremecimento, pois ali, também, reencontrava o
amor nos corações simples e ingênuos das gentes.
Chegara o momento de o Pastor levantar-se para
conduzir o rebanho imenso, vencendo rudes tratos
de terra, ásperos caminhos e transpondo abismos.
Era o prelúdio da Mensagem e o início das Suas
dores... O Rabi como era chamado sentou-se sobre
raízes altas de velha árvore que abria os braços
em direção ao lago e, em silêncio, perdeu-se em
meditação. Simão, como seu amigo fiel, sentou-se
a seu lado e pôs-se a contemplar-Lhe o rosto,
pálido, exaurido. – Como era belo o Rabi!
pensava Simão. – Havia nEle qualquer coisa que O
fazia diferente de todos os homens. Era dono de
força grandiosa e de majestade invulgar. Simples
e bom, era sábio e humilde. Falava pouco e dizia
muito... Inesperadamente, como se chegasse de
muito longe, Simão voltou a fitá-lo, e só então
percebeu. Os olhos grandes e claros do Rabi
estavam imersos em lágrimas. Com o coração
desatrelado e em desassossego íntimo que dele se
apossou, inquiriu ansioso:
– Rabi, estás chorando?Mestre, não compreendo.
Hoje te expuseste aos fariseus astutos, aos
escribas ambiciosos e falsos, perdoaste pecados
e curaste, silenciando-os com sabedoria e
elevação... e choras?!
– Sim! Pois que não me compreendeis, tu e eles.
Certamente que não espero ser entendido. Tenho,
no entanto, piedade deles, os sem juízo, e os
lamento. Havia na cidade um homem de nome
Natanael Ben Elias que era paralítico, esquecido
em uma cama rústica e vítima de extrema miséria
física e moral. Tinha ouvido falar do Rabi e
acreditava que poderia conhecê-Lo e Ele o
poderia curar. Pediu aos amigos que o levassem
até Sua presença. Na porta da casa a multidão
era compacta e para que ele chegasse até a
presença do Mestre foi preciso que, pelo telhado
da casa, sua maca fosse descida por cordas. O
Rabi perguntou-lhe: Crês que Eu te posso curar?
Natanael respondeu: – Sim, creio-o! Senhor, como
sabes o meu nome? – Sim, eu te conheço,
Natanael, desde ontem. Sou o Bom Pastor e em
razão disso conheço nominalmente todas as
ovelhas que o Pai me confiou. Teus pecados -
exclamou - estão perdoados! Levanta-te ! toma a
tua cama e vai para a tua casa. Natanael desejou
falar algo e não pôde. Ergueu a cama, explodiu
num grito de ventura: Salve, Rabi! E voltou
dando louvores, ante a admiração de quantos o
conheciam.
Não compreendendo, porém, o que lhe sucedeu, que
lhe pareceu um sonho, do qual receou acordar,
Simão indagou: - Por que dizes que Te não
compreendemos, Rabi? Estamos todos tão felizes!
Em resposta disse-lhe: - Neste momento, enquanto
consideras o Reino de Deus pelo que viste,
Natanael comenta o acontecimento entre amigos
embriagados e mulheres infelizes; outros, que
recuperaram a voz, precipitam-se no
despenhadeiro da insensatez, acarretando novos
desequilíbrios, desta vez, irreversíveis, pois
nem todos serão curados...
“... - lá fora a noite espiava a Terra pela
visão das estrelas.” (*)
(*) Primícias
do Reino, de autoria
do Espírito Amélia Rodrigues, psicografado por
Divaldo Franco.