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por Roque Roberto Pires de Carvalho

 

Lágrimas de Jesus


Cafarnaum, localizada em região próxima do Mar da Galileia, tem sua fundação registrada como no século II a.C. Considerada em estado de abandono no século XI, hoje encontra-se em ruínas.

Escavações levadas a efeito pelos arqueólogos Virgílio Canio Corbo (1918-1991)  e Stanislao Lofredda (1932-2025) ambos nascidos na Itália e frades franciscanos em seus trabalhos desde 1968, comunicaram a descoberta nessa antiga cidade de casas que remontam ao século I a.C., uma população de aproximadamente 1.500 pessoas. Eles encontraram no sítio arqueológico um Memorial contendo “baptistério” (século V) e locais históricos como, provavelmente, a casa do apóstolo Pedro e uma sinagoga judaica. Para os arqueólogos, no local Cristo deixava seus ensinamentos. Em relatos bíblicos, pelo fato de possuir uma alfândega e local para uma guarnição romana, sugere-se que se tratava de uma cidade fronteiriça entre os estados de Filipe e Herodes Antipas e atribui-se a Jesus a realização de milagres como a cura de um paralítico e do filho de um oficial romano, quando o Cristo passava seus ensinamentos durante seu ministério na Galileia e foi chamada à sua cidade, pelo fato de ter adotado na cidade sua moradia.

A propósito da cura de um paralítico, Divaldo Franco, em seu livro Primícias do Reino, de autoria do Espírito Amélia Rodrigues, no texto “O paralítico de Cafarnaum”, diz que Jesus amava essa cidade com seu casario baixo, esparramado entre árvores frondosas, marchetadas por trepadeiras de miúdas flores, e onde teria dado início ao seu ministério de amor.

A notícia de sua chegada à cidade atraiu curiosos e sofredores das cercanias. Jesus impôs silêncio ao leproso que curara e rogou à sogra de Simão nada dizer do que lhe acontecera, mas o silêncio era quase impossível.

Ele doava seu amor àquelas populações ribeirinhas com estremecimento, pois ali, também, reencontrava o amor nos corações simples e ingênuos das gentes. Chegara o momento de o Pastor levantar-se para conduzir o rebanho imenso, vencendo rudes tratos de terra, ásperos caminhos e transpondo abismos. Era o prelúdio da Mensagem e o início das Suas dores... O Rabi como era chamado sentou-se sobre raízes altas de velha árvore que abria os braços em direção ao lago e, em silêncio, perdeu-se em meditação. Simão, como seu amigo fiel, sentou-se a seu lado e pôs-se a contemplar-Lhe o rosto, pálido, exaurido.  – Como era belo o Rabi! pensava Simão. – Havia nEle qualquer coisa que O fazia diferente de todos os homens. Era dono de força grandiosa e de majestade invulgar. Simples e bom, era sábio e humilde. Falava pouco e dizia muito... Inesperadamente, como se chegasse de muito longe, Simão voltou a fitá-lo, e só então percebeu. Os olhos grandes e claros do Rabi estavam imersos em lágrimas. Com o coração desatrelado e em desassossego íntimo que dele se apossou, inquiriu ansioso:

– Rabi, estás chorando?Mestre, não compreendo. Hoje te expuseste aos fariseus astutos, aos escribas ambiciosos e falsos, perdoaste pecados e curaste, silenciando-os com sabedoria e elevação... e choras?!

– Sim! Pois que não me compreendeis, tu e eles. Certamente que não espero ser entendido. Tenho, no entanto, piedade deles, os sem juízo, e os lamento. Havia na cidade um homem de nome Natanael Ben Elias que era paralítico, esquecido em uma cama rústica e vítima de extrema miséria física e moral. Tinha ouvido falar do Rabi e acreditava que poderia conhecê-Lo e Ele o poderia curar. Pediu aos amigos que o levassem até Sua presença. Na porta da casa a multidão era compacta e para que ele chegasse até a presença do Mestre foi preciso que, pelo telhado da casa, sua maca fosse descida por cordas. O Rabi perguntou-lhe: Crês que Eu te posso curar? Natanael respondeu: – Sim, creio-o! Senhor, como sabes o meu nome? – Sim, eu te conheço, Natanael, desde ontem. Sou o Bom Pastor e em razão disso conheço nominalmente todas as ovelhas que o Pai me confiou. Teus pecados  - exclamou -  estão perdoados! Levanta-te ! toma a tua cama e vai para a tua casa. Natanael desejou falar algo e não pôde. Ergueu a cama, explodiu num grito de ventura: Salve, Rabi!  E voltou dando louvores, ante a admiração de quantos o conheciam.

Não compreendendo, porém, o que lhe sucedeu, que lhe pareceu um sonho, do qual receou acordar, Simão indagou: - Por que dizes que Te não compreendemos, Rabi? Estamos todos tão felizes!

Em resposta disse-lhe: - Neste momento, enquanto consideras o Reino de Deus pelo que viste, Natanael comenta o acontecimento entre amigos embriagados e mulheres infelizes; outros, que recuperaram a voz, precipitam-se no despenhadeiro da insensatez, acarretando novos desequilíbrios, desta vez, irreversíveis, pois nem todos serão curados...

“... - lá fora a noite espiava a Terra pela visão das estrelas.” (*)


(*) 
Primícias do Reino, de autoria do Espírito Amélia Rodrigues, psicografado por Divaldo Franco.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita