Entrevista

por Orson Peter Carrara

O uso do método de Pestalozzi auxilia nas aulas para as crianças


 

Fernanda Ramos Gadelha (foto) nasceu em Belo Horizonte (MG), cresceu no Rio de Janeiro (RJ) e reside atualmente em Campinas (SP). Farmacêutica e docente da UNICAMP, na cidade onde reside, vincula-se ao Centro Espírita A Caminho da Luz, em Jundiaí (SP), em que atua como recepcionista nas manhãs de domingo para as reuniões do Evangelho, aplica passes e responsabiliza-se pela entrega da água fluidificada. Nossa entrevistada relata suas experiências com os alunos, relacionando a Bioquímica com o Espiritismo.


Como se tornou espírita?

Desde pequena fui apresentada à doutrina espírita pelos meus pais. 

Fale-nos de sua área de atuação com a Bioquímica. O que é, especialmente considerando os leigos.

A bioquímica é a ciência que estuda a química da vida. Em essência, ela investiga a estrutura, função e as reações químicas das moléculas que compõem os seres vivos. Estudamos assim a síntese e a degradação dos principais constituintes da nossa alimentação, ou seja, carboidratos, lipídios e proteínas e como o nosso organismo os utiliza para sobreviver. 

E como você utiliza o método de Pestalozzi junto aos alunos, para esse ensino?

O método de Pestalozzi, como a psicopedagoga Milena Barbosa Juliatti, de Jundiaí (SP), descreveu em entrevista disponível no YouTube - clique aqui - inclui quatro etapas importantes que são: observação, comparação, reflexão e conclusão. Utiliza a natureza como "livro", pois como ela mesmo citou: "Todo o círculo de conhecimentos que são adquiridos por nossos sentidos provém da observação da natureza…” Assim, como o estudo da bioquímica é muito abstrato e complexo, esse método me ajuda a trazer para o concreto o que estamos estudando.  Como fazemos isso? No início de cada novo tópico, realizamos uma aula prática demonstrativa com elementos do nosso cotidiano. Por exemplo, ao estudar proteínas, utilizamos ovos crus, cozidos e clara em neve para iniciar uma série de perguntas: 'Qual a textura e a cor do ovo cru? E do cozido? E da clara em neve? Por que essas mudanças ocorreram?’ A partir daí, trabalhamos com as respostas e as novas perguntas que surgem dos próprios alunos. A ideia é instigar a curiosidade, e é fascinante observar o processo: no início, eles são mais tímidos, mas, ao final da disciplina, a transformação é visível. Os alunos já fazem perguntas mais elaboradas e conectam o conteúdo com experiências vivenciadas, sobre as quais nunca haviam refletido. Essa curiosidade é tamanha que muitas vezes precisamos criar experimentos na hora para responder aos questionamentos que surgem. Além disso, em paralelo eu começo as aulas teóricas com histórias infantis, a análise de quadros de pintores ou a discussão sobre invenções de cientistas, destacando como suas vidas e descobertas impactaram a nossa. Essas abordagens estão sempre relacionadas ao conteúdo teórico e ajudam os alunos a ampliar a visão sobre o tema, permitindo que os alunos conectem o assunto a situações que, à primeira vista, não têm correlação, mas que, com o método de Pestalozzi, focado em observar, comparar e refletir, revelam-se muito semelhantes.

E como Deus entra nesse contexto acadêmico?

Como a Universidade é laica, o método de Pestalozzi aliado ao método da Evangelização de Espíritos, trazido por Eurípedes Barsanulfo e sua equipe, me ajuda a falar dos sentimentos, que são a força do Espírito. Ao discutir a saúde, explico que ela é resultado das escolhas alimentares que fazemos. Paralelamente, eu trago exemplos do nosso cotidiano mostrando que também podemos escolher quais sentimentos cultivar. Essa escolha, por sua vez, impacta não apenas a nossa saúde física e espiritual, mas também a maneira como nos relacionamos com os outros. Assim, procuro mostrar aos alunos que tudo parte de uma escolha, e que nossos atos geram consequências.

E a tarefa de estímulo para a iniciativa, a pesquisa, os questionamentos, que critério utiliza para crescimento dos alunos?

Meu objetivo é ajudá-los a desenvolver o senso crítico, a capacidade de observação e reflexão, o cuidado com o próprio pensamento e o respeito ao próximo. Esses são elementos essenciais para uma vida 'frutífera' e para a construção de relacionamentos saudáveis e construtivos.

Como ligar a Bioquímica ao Espiritismo?

Nosso caminho e nossa saúde são construídos pelas escolhas que fazemos a cada instante. Ao abandonarmos o 'homem velho', representado pela bioquímica como o hábito de nos alimentarmos com certos alimentos que não nos fazem bem e permitirmos que surja o 'homem novo' que representa uma nova e saudável escolha alimentar, tornamos nossa jornada mais saudável, leve e serena.

De sua vivência espírita, o que mais se destaca ao seu sentimento?

Amor ao próximo.

E da vivência acadêmica?

Solidariedade.

Fale-nos de sua ligação com a educadora Milena Barbosa Juliatti.

Conhecer o método de Pestalozzi, por meio dos estudos com a Milena, me deu uma base empírica sólida para estruturar minhas aulas de forma mais didática, com objetivos que vão além do que é ensinado em sala de aula. A Milena me ajuda a ampliar a minha visão da vida e dos sentimentos, me ajudando a conectá-los à natureza e assim, à bioquímica, que é a química da vida! E é isso que procuro trazer para as minhas aulas. 

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Gostaria de agradecer a Milena, a todos de Sacramento, a toda equipe do ‘A Caminho da Luz’ e da ‘Terra de Ismael’, que me acolheram, e me ajudam, dia a dia, a conhecer e a lapidar o Ser espiritual que sou. Neste processo, me auxiliam a ter ‘Olhos de ver e ouvidos de ouvir' para encontrar as 'ferramentas' certas para limpar o 'solo' do meu coração e assim a cada passo, viver uma vida mais leve, em paz e feliz!  

Suas palavras finais.

A cada escolha, por mais simples que seja, da refeição que fazemos aos sentimentos que nutrimos, assumimos a responsabilidade da nossa vida. É nessa jornada que somos guiados, através de escolhas que nos nutrem física e espiritualmente, a encontrar a leveza, a alegria e a paz na vida.

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita