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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Memórias implícitas e reencarnação


Durante a reencarnação, o Espírito perde a consciência do seu passado, mas não as qualidades anteriormente adquiridas, e nem tampouco inclinações, tendências, facilidades, dificuldades, gostos e desgostos. O passado espiritual vai se apresentar na forma de reminiscências, que poderão atingir a consciência atual como temores e conflitos (produzindo estados de desequilíbrio), tendências vocacionais, um natural impulso para o bem ou para o mal, simpatia ou antipatia com relação a pessoas, locais ou diferentes atividades.

Como isso acontece? Uma boa explicação talvez esteja no conceito de memórias implícitas, reconhecido pela psicologia oficial.

O primeiro a identificar esse fenômeno foi o neurologista suíço Edouard Claparède, no alvorecer do século XX. O paciente era uma mulher de 47 anos com uma deficiência cerebral causada pela síndrome Korsakoff, uma forma de amnésia. Ela não era capaz de reter quaisquer lembranças novas que remontassem a mais de quinze minutos. Todas as manhãs ela chegava ao escritório do dr. Claparède, sem lembrança de ter estado lá antes, e o cumprimentava como se nunca estivesse estado com ele.

Um dia, quando ela chegou a seu escritório, como de costume, o médico estendeu a mão para apertar a de sua paciente – mas trazia uma tachinha presa na palma da mão. Ao apertar a mão dele, ela sentiu uma dor aguda quando a tachinha espetou sua pele. Quinze minutos depois, a lembrança desse incidente desagradável havia desaparecido de sua consciência, e ele tornou a estender a mão para um novo cumprimento. Esse era o momento no qual Claparède esperava colher novos insights sobre como – ou se – a memória inconsciente (ou implícita) funcionava quando sua contrapartida consciente falhava. E, de fato, a paciente aproximou-se dele, mas logo antes de apertarem as mãos, ela retirou a sua abruptamente.

Conclusão: a memória dela estava tendo um efeito implícito (inconsciente) em seu comportamento, na ausência de sua memória explícita (a lembrança consciente do doloroso aperto de mão anterior). [i]

A história desse experimento foi um pequeno passo para a psicologia moderna compreender os efeitos do inconsciente, e pesquisas contemporâneas com pessoas que perderam a memória (amnésicos) têm confirmado os estudos iniciais.

Outros autores descobriram que os pacientes que perderam a memória demonstraram os mesmos padrões quanto a gostar ou não de pessoas e de objetos que participantes normais, mesmo que tivessem pouca ou nenhuma lembrança dessas pessoas e desses objetos. Por exemplo, mostrava-se aos participantes fotografias de um “bom sujeito” ou de um “mau sujeito” (segundo descrições inventadas pelos pesquisadores). Vinte dias depois, os pacientes com Korsakoff não tinham lembrança alguma dessa informação biográfica, mesmo assim, 78 % deles gostaram do “bom sujeito” e não gostaram do “sujeito mau”, apresentados nas fotos. Na falta de quaisquer memórias conscientes dos motivos para isso, os amnésicos ainda tinham sentimentos positivos ou negativos apropriados gerados inconscientemente, sobre pessoas e objetos que tinham conhecido em momento anterior.[ii]

Se uma psicologia com premissas materialistas consegue, sem querer, ampliar nosso entendimento do psiquismo nas diferentes reencarnações, o que não fará uma psicologia reencarnacionista. Esperemos!

 

 

[i] O cérebro intuitivo, John Bargh

[ii] idem

 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita