Memórias implícitas e reencarnação
Durante a reencarnação, o Espírito perde a consciência
do seu passado, mas não as qualidades anteriormente
adquiridas, e nem tampouco inclinações, tendências,
facilidades, dificuldades, gostos e desgostos. O passado
espiritual vai se apresentar na forma de reminiscências,
que poderão atingir a consciência atual como temores e
conflitos (produzindo estados de desequilíbrio),
tendências vocacionais, um natural impulso para o bem ou
para o mal, simpatia ou antipatia com relação a pessoas,
locais ou diferentes atividades.
Como isso acontece? Uma boa explicação talvez esteja no
conceito de memórias implícitas, reconhecido pela
psicologia oficial.
O primeiro a identificar esse fenômeno foi o
neurologista suíço Edouard Claparède, no alvorecer do
século XX. O paciente era uma mulher de 47 anos com uma
deficiência cerebral causada pela síndrome Korsakoff,
uma forma de amnésia. Ela não era capaz de reter
quaisquer lembranças novas que remontassem a mais de
quinze minutos. Todas as manhãs ela chegava ao
escritório do dr. Claparède, sem lembrança de ter estado
lá antes, e o cumprimentava como se nunca estivesse
estado com ele.
Um dia, quando ela chegou a seu escritório, como de
costume, o médico estendeu a mão para apertar a de sua
paciente – mas trazia uma tachinha presa na palma da
mão. Ao apertar a mão dele, ela sentiu uma dor aguda
quando a tachinha espetou sua pele. Quinze minutos
depois, a lembrança desse incidente desagradável havia
desaparecido de sua consciência, e ele tornou a estender
a mão para um novo cumprimento. Esse era o momento no
qual Claparède esperava colher novos insights sobre como
– ou se – a memória inconsciente (ou implícita)
funcionava quando sua contrapartida consciente falhava.
E, de fato, a paciente aproximou-se dele, mas logo antes
de apertarem as mãos, ela retirou a sua abruptamente.
Conclusão: a memória dela estava tendo um efeito
implícito (inconsciente) em seu comportamento, na
ausência de sua memória explícita (a lembrança
consciente do doloroso aperto de mão anterior). [i]
A história desse experimento foi um pequeno passo para a
psicologia moderna compreender os efeitos do
inconsciente, e pesquisas contemporâneas com pessoas que
perderam a memória (amnésicos) têm confirmado os estudos
iniciais.
Outros autores descobriram que os pacientes que perderam
a memória demonstraram os mesmos padrões quanto a gostar
ou não de pessoas e de objetos que participantes
normais, mesmo que tivessem pouca ou nenhuma lembrança
dessas pessoas e desses objetos. Por exemplo,
mostrava-se aos participantes fotografias de um “bom
sujeito” ou de um “mau sujeito” (segundo descrições
inventadas pelos pesquisadores). Vinte dias depois, os
pacientes com Korsakoff não tinham lembrança alguma
dessa informação biográfica, mesmo assim, 78 % deles
gostaram do “bom sujeito” e não gostaram do “sujeito
mau”, apresentados nas fotos. Na falta de quaisquer
memórias conscientes dos motivos para isso, os amnésicos
ainda tinham sentimentos positivos ou negativos
apropriados gerados inconscientemente, sobre pessoas e
objetos que tinham conhecido em momento anterior.[ii]
Se uma psicologia com premissas materialistas consegue,
sem querer, ampliar nosso entendimento do psiquismo nas
diferentes reencarnações, o que não fará uma psicologia
reencarnacionista. Esperemos!
[i] O
cérebro intuitivo, John Bargh