A
tradição do
“Lava-pés”
Há muitas
passagens
bíblicas que
guardam
informações e
instruções
valiosas para
uma vida útil e
feliz.
Entretanto, para
decodificar tais
mensagens é
preciso tanto
conhecimento,
quanto as
“chaves”
corretas.
Infelizmente
muitas
informações se
perderam ao
longo do tempo e
somente é
possível, às
vezes, certa
leitura
incompleta ou
superficial da
questão. Dentre
as passagens da
vida de Jesus
Cristo que nos
chegaram até
nós, pode-se
destacar a
atividade de
“lava-pés” como
uma das mais
emblemáticas e
importantes
(João 13:1-17).
Não apenas por
se tratar do
início do
“fechamento” das
lições de Jesus
com seus
discípulos, como
também uma
imagem forte do
modelo de
trabalho e de
serviço na Terra
e que se mantém
este ritual
ainda hoje nas
quintas-feiras
santas, como
preparativo para
a santa ceia. Ou
seja, antes do
banquete
desejado, a
tarefa de se
limpar. Não a
autolimpeza
rotineira e
cotidiana, mas a
atividade de
ajudar o outro a
se limpar. O que
pode nos remeter
ao conceito de
coevolução. Na
biologia, a
coevolução
refere-se ao
processo
evolucionário
mútuo que uma
espécie faz
sobre outra.
Esta pressão
evolutiva acaba
ocasionando
ajustes de uma
espécie para
outra. Para a
nossa área
espírita de
compreensão e
trabalho,
pode-se tratar a
coevolução como
sendo: eu me
ajudo ajudando o
outro. Não que
Jesus precisasse
desta ajuda, mas
que era
necessário ele
deixar e frisar
esta lição para
a humanidade. A
coevolução
representa
aspecto seguro
para que todos
saiam ganhando,
uma legítima
estratégia
ganha-ganha. Ou
nas palavras de
Emmanuel:
“apenas
tolerando e
entendendo a
poeira e o lodo
que ainda
repontem dos
caminhos
alheios, é que
redimiremos os
nossos,
atingindo a
verdadeira paz”.
Apesar de
emblemática na
tradição cristã,
a atividade do
lava-pés também
aparece em
outros trechos
bíblicos do
Antigo
Testamento, tais
como: Gênesis
18:4, Gênesis
19:2, Gênesis
24:32, Gênesis
43:24. Em tais
passagens, a
atividade
expressa o
oferecimento de
água para limpar
os pés como uma
forma de
hospitalidade
para que a
própria pessoa
limpe a si
mesmo.
Entretanto, no
texto do profeta
Samuel (1 Sm
25:41) aparece
algo semelhante
ao episódio
crístico por
meio do diálogo
de Abigail e os
serviçais do
rei: “Eis que a
tua serva é
criada para
lavar os pés dos
servos do meu
senhor”. Uma
criada especial
que é Abigail,
futura esposa do
rei Davi, viúva
de Nabal e
famosa tanto
pela sua beleza,
quanto
inteligência. O
ato de servir
como uma maneira
de dar o exemplo
e a exercitar
uma influência
positiva de
construção de
relações
saudáveis e
bem-quistas.
Apesar de
representar uma
passagem icônica
no texto sagrado
da bíblia, tal
passagem não é
exclusiva. Por
exemplo, na “A
Odisseia” de
Homero, escrita
por volta do
século VIII
a.C., o autor
nos brinda com
um episódio em
que o herói
Ulisses está
disfarçado de
mendigo para não
chamar a atenção
de seus inimigos
no reino.
Entretanto, ele
é reconhecido
por sua antiga
ama, Euricléia,
após ela ter
lavado seus pés.
Ela consegue
reconhecer
Ulisses devido a
uma cicatriz que
ele adquiriu em
um acidente numa
caçada de
javalis. “Ela
derrubou uma
bacia de água
com espanto.
Lágrimas
nublaram seus
olhos e, com a
voz trêmula de
alegria, ela
disse: -
Ulisses, é você,
meu querido
filho? Como não
reconheci você
antes!”.
O reconhecimento
por Euricléia
representa o
clímax da
epopeia e, a
partir daí, o
herói define
suas estratégias
e ações futuras.
Entretanto, a
atividade de
lava-pés
ultrapassa
continentes.
Buscando
referências
orientais, na
Índia da
tradição védica
também há uma
passagem de
Krishna com o
seu amigo de
infância Sudama.
Neste caso, o
lava-pés é uma
maneira de
Krishna tanto
reatar sua
amizade de longa
data, quanto de
prestar
homenagem ao
velho amigo para
que não se
esqueça do bom
caminho.
Assim, a
atividade de
lavar os pés
conota mais do
que uma simples
atividade de
asseio, mas de
humildade em
aproximar
corações e de
manter viva a
chama do amor e
do trabalho.
A atividade de
lavar o pé é um
exemplo que
permeia
diferentes
culturas e
tradições, sendo
talvez melhor
exemplificada
como uma maneira
de renovar as
energias e as
esperanças de
pessoas que
erraram muito e
que não podem
desistir da
caminhada.
Lições de longo
tempo e que
muitas vezes
esquecemos e
queremos sujar
os pés, os
corações e a
mente de nossos
semelhantes.
Palavras ácidas,
críticas
destrutivas,
imagens
negativas que
fazemos de
certas pessoas
são exemplos
contrários ao
lava-pés e que
representam
ainda passo
decisivo para a
humanidade este
abandono de
desamor.
Portanto,
tenhamos tanto o
lava-pés como
uma atividade e
uma metáfora
tanto da
renovação,
quanto de evitar
a sujeira, de se
silenciar nos
momentos
oportunos, de
viver a caridade
como atividade
de alma. Pois
como bem
expressou
Emmanuel:
“Alguém
proporciona
leveza aos seus
pés espirituais
para que marche
de modo
diferente nas
sendas
evolutivas. Tudo
se renova e a
criatura
compreende que
não fora essa
intervenção
maravilhosa e
não poderia
participar do
banquete da vida
real”.