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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Os pets são mais desejados do que filhos?


É absolutamente indiscutível que cada um pode e deve fazer as suas escolhas e opções de vida conforme lhe aprouver. No entanto, cada passo que damos em nossa trajetória produz consequências – estejamos também certos disto. O que me levou a enveredar sobre esse assunto foi um artigo publicado recentemente no portal UOL, cujo título é: “Menos filhos, mais pets: A ascensão de um mercado de US$ 500 bilhões”.

A autora do texto, a jornalista Maria Prata, com competência desnuda as características desse negócio que movimenta enormes cifras na atualidade, e dá emprego para muita gente igualmente, segundo me consta. Portanto, trata-se de uma atividade empresarial digna de nota por tudo que representa. Notem que a sua pujança é tal que já até existe a figura do “Petfluencer”, sem falar que "luxo com patas" não é modinha. "É uma macrotendência social e cultural ancorada em demografia e economia. Trata-se de um vetor de desejo e pertencimento em tempos de solidão e incertezas globais”, na sua avaliação.

Mas Prata também destacou um fato no mínimo inquietante e que merece a nossa reflexão: os jovens casais (muitos millenials e membros pertencentes à Geração Z, diga-se de passagem) estão deliberadamente adiando ou até mesmo excluindo a ideia de ter filhos ao optar por ter apenas pets. A razão apresentada no artigo é derivada de “uma combinação de custos altos, estilo de vida e falta de perspectiva de um futuro melhor”, e a própria autora chega, diante de fato tão surpreendente, e com muito acerto, a indagar se “haverá humanidade, afinal?”. Afinal de contas, já é um grave problema mundial o envelhecimento acelerado da população planetária, bem como a redução do número de crianças e jovens, particularmente em países mais desenvolvidos economicamente.

Voltando aos animais, é notório que são indubitavelmente seres encantadores, além de companhias perfeitas, especialmente para os idosos solitários. De modo geral, são tratados na atualidade como autênticos membros das famílias, recebendo enorme atenção e cuidados, sem falar dos mimos e o glamour de que são objeto.

Aliás, a rede social Facebook exibe vídeos muito interessantes retratando várias espécies de animais que estão sendo domesticadas tais como onças, leopardos, tigres, leões, guepardos, pumas, ursos, lontras, corujas, gambás, morcegos, lagartos de vários tipos e assim por diante. Geralmente os filhotes são encontrados recém-nascidos, bem pequenos ou feridos, e são cuidados com extremo carinho e afeto.

Os animais, como todos os espíritas sabem, são seres que estão trilhando o caminho evolutivo rumo ao reino hominal. Alguns são extraordinariamente sensíveis e inteligentes e se adaptam ao convívio humano com relativa facilidade. Exibem, não raro, um curioso senso  de gratidão – virtude nem sempre observada nos humanos, vale ressaltar –, conforme se pode observar em muitos vídeos que tratam do salvamento de certas espécies. Posto isto, temos sim uma considerável responsabilidade e dever moral de pelo menos preservar o seu habitat. Que fique bem claro: todos nós já passamos pelo reino animal em tempos imemoriáveis até chegarmos, enfim, à nossa atual condição de Homo sapiens.

Entretanto, cumpre lembrar também que temos  outros deveres sagrados com os da nossa própria espécie que não podem ser esquecidos. Se fosse o contrário, Jesus não teria sido tão incisivo ao estabelecer o amor ao próximo como um mandamento divino. Dito isso, é na relação com os nossos semelhantes – por mais dificultosas, ásperas e tempestuosas que possam ser – que lapidamos nossos Espíritos. Mais ainda, é com eles que temos uma missão celestial prioritária a desempenhar, seja na condição de filhos, irmãos ou pais. Com eles temos sagradas ligações, as quais, não raro, necessitamos aperfeiçoar através da prática da paciência, espírito de fraternidade e sobretudo amor. Portanto, construir uma família representa uma sublime dádiva divina para que nos pacifiquemos e exercitemos a caridade elementar.

Como bem pondera o Espírito Joanna de Ângelis, no livro Vidas Vazias (psicografia de Divaldo Pereira Franco):

“Nada se perde no curso da existência, acumulando-se em formas de experiências vividas assim como de necessidades retificadoras.

“A reencarnação propicia os abençoados tesouros para o refazimento das consequências das atitudes equivocadas, traçando as linhas de recuperação moral naqueles que se encontram incursos das Leis do Progresso.

“Desse modo, as situações facilitadoras ou problemáticas para a evolução do Espírito são os programas nos quais todos se encontram escritos.”

Sendo imperiosa, como salienta ainda a nobre mentora, “a necessidade de evoluir”, não deveria haver a substituição de filhos por pets em nossos corações. Em suma, é indiscutivelmente lícito possuir animais, mas ter filhos é e sempre será um profundo ato de amor, que o Senhor certamente abençoará.   
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita