Dizer não à criança faz parte da tarefa educativa
Aprender é um exercício constante que transforma a vida.
Cecília Meireles
O
não também educa.
Óbvio: orientar uma criança implica afeto e, em
consequência, acolher sentimentos, validar estados e
necessidades. Contudo, e para o equilíbrio
socioemocional do ser humano, que depende do outro para
cumprir seu papel no mundo, é essencial a criança
crescer sabendo ouvir um “não”.
Há
muitos pais que sentem receio de deixar o filho nervoso,
triste, contrariado e sucumbem na hora de impor limites,
anunciar um “não” de forma categórica e, muitas vezes,
inegociável.
Minha mãe nos obrigava a cumprir determinadas regras
domésticas, permitia que os filhos em casa se
frustrassem, percebessem que nem tudo era autorizado.
Havia lágrimas, decepção, mas isso nos ajudou a crescer
cientes de que a frustração faz parte do jogo da vida.
O
mundo real é feito de sabores e dissabores. Há coisas
que nos são negadas e sem muitas explicações. Por causa
das incertezas, há desafios, obstáculos e, por isso,
precisamos educar nossas crianças aptas a abrir mão de
recompensas imediatas. Nem sempre há sobremesa após o
almoço ou passeio nos domingos.
Na
prática, o contato com a negação será uma experiência
comum para a criança, promovendo o aprendizado de
limites e regras sociais. A escuta de um não gera pouco
a pouco um laço com a tolerância, paciência, ou seja,
intimidade com a decepção.
A
rotina é vital para a saúde das crianças. Os horários
de sono, por exemplo, devem ser respeitados porque
influenciam no desenvolvimento e no crescimento. Então,
nada de ceder à noite quando seu filho pede para ficar
acordado depois do horário estipulado para o descanso.
Todo mundo precisa de uma quantidade adequada de sono,
principalmente na infância, e, por isso, o não deve ser
dito à criança e com naturalidade, firmeza…
Educamos nossos filhos para a convivência. Assim, no dia
a dia, se a criança quer fazer algo que pode prejudicar
outra pessoa, é fundamental dizer “não” explicando
também as razões pelas quais ela não pode fazer o que
quer. Exemplos? Ela quer pegar o brinquedo do irmão,
sem que ele tenha permitido, quer furar a fila no
mercado…
É
importante que nossos filhos tenham oportunidades
criadas pelo próprio processo de educação para aprender
regras sociais, desenvolvimento de resignação frente a
certas negativas, experimentando obediência, adaptação,
empatia, tolerância, pois nossas atitudes com
frequência impactam a vida de outras pessoas.
Insisto com os pais: dizer "não" é um ato educativo
extremamente rico, porque auxilia a criança a lidar com
regras e limites, aprendendo a conviver com respeito por
si mesma e os outros…
Notinha
Tem
criança que resiste ao não. Mas nem todo comportamento
desafiador é motivo de preocupação. Crianças pequenas
estão aprendendo a lidar com emoções e a entender regras
sociais. Por isso, manter a calma, evitar gritar ou
reagir com agressividade. Seja consistente e mantenha
sem receio os limites mesmo diante das birras.