Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Dizer não à criança faz parte da tarefa educativa


Aprender é um exercício constante que transforma a vida
. Cecília Meireles


O não também educa.

Óbvio: orientar uma criança  implica afeto e, em consequência, acolher sentimentos, validar estados e necessidades. Contudo, e para o equilíbrio socioemocional do ser humano, que depende do outro para cumprir seu papel no mundo, é essencial a criança crescer sabendo ouvir um “não”.

Há muitos pais que sentem receio de deixar o filho nervoso, triste, contrariado e sucumbem na hora de impor limites, anunciar um “não” de forma categórica e, muitas vezes, inegociável.

Minha mãe nos obrigava a cumprir determinadas regras domésticas,  permitia que os filhos em casa se frustrassem, percebessem que nem tudo era autorizado. Havia lágrimas, decepção, mas isso nos ajudou a crescer cientes de que a frustração faz parte do jogo da vida.

O mundo real é feito de sabores e dissabores. Há coisas que nos são negadas e sem muitas explicações.  Por causa das incertezas, há desafios, obstáculos  e, por isso, precisamos educar nossas crianças aptas a abrir mão de recompensas imediatas. Nem sempre há sobremesa após o almoço ou passeio nos domingos.

Na prática, o contato com a negação será uma experiência comum para a criança, promovendo o aprendizado de limites e regras sociais. A escuta de um não gera pouco a pouco  um laço com a tolerância, paciência, ou seja, intimidade com a decepção.

A rotina é vital  para a saúde das crianças. Os horários de sono, por exemplo, devem ser respeitados porque influenciam no desenvolvimento e no crescimento. Então, nada de ceder à noite quando seu filho pede para ficar acordado depois do horário estipulado para o descanso. Todo mundo precisa de uma quantidade adequada de sono, principalmente na infância, e, por isso, o não deve ser dito à criança e com naturalidade, firmeza…

Educamos nossos filhos para a convivência. Assim, no dia a dia, se a criança  quer fazer algo que pode prejudicar outra pessoa, é fundamental dizer “não” explicando também as razões pelas quais ela não pode fazer o que quer. Exemplos? Ela quer  pegar o brinquedo do irmão, sem que ele tenha permitido, quer furar a fila no mercado…

É importante que nossos filhos tenham oportunidades criadas pelo próprio processo de educação para aprender regras sociais, desenvolvimento de resignação frente a certas negativas, experimentando obediência, adaptação, empatia, tolerância, pois nossas  atitudes com frequência impactam a vida de outras pessoas.

Insisto com os pais: dizer "não" é um ato educativo extremamente rico, porque auxilia a criança a lidar com regras e limites, aprendendo a conviver com respeito por si mesma e os outros…

 

Notinha

Tem criança que resiste ao não. Mas nem todo comportamento desafiador é motivo de preocupação. Crianças pequenas estão aprendendo a lidar com emoções e a entender regras sociais. Por isso, manter a calma, evitar gritar ou reagir com agressividade. Seja consistente e mantenha sem receio  os limites mesmo diante das birras. 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita