Especial

por Anselmo Ferreira Vasconcelos

Os maiores inimigos do ser humano

 

É fascinante acompanhar a velocidade dos avanços científicos na era atual. Graças a eles, a criatura humana pode agora devassar inimagináveis horizontes do conhecimento. A especulação, tão cara à ciência, pode ser aferida minuciosamente. A medicina, por exemplo, nos aponta com exatidão o que devemos ou não cultivar em nossos hábitos para desfrutarmos de uma vida saudável. O que era antes considerado aceitável em termos de comportamento alimentar e modo de vida tem passado por severo escrutínio. Em decorrência da miríade de descobertas, novos índices estão sendo criados e/ou revistos, como são os casos dos que medem glicemia, colesterol (LDL), Lp(a), PSA, e assim por diante. Além disso, os parâmetros são permanentemente atualizados, e a ciência vai desvendando paulatinamente inumeráveis aspectos que podem prejudicar o corpo humano.

Entretanto, diferentemente dos expressivos avanços obtidos em praticamente todas as áreas do saber humano, temos sido assaz lentos em identificar e, sobretudo, enfrentar os nossos problemas espirituais. Dito de outra forma, carecemos de determinação e vontade para efetivamente focarmos nos escaninhos da alma e, desse modo, localizar o que impede a nossa evolução. Parafraseando Sócrates, ainda desconhecemos a nós mesmos. Igualmente carecemos de suficiente coragem moral para nos libertar das nossas heranças atávicas e imperfeições que carregamos dentro de nós desde tempos imemoriais. Não é por outra razão, aliás, que as sociedades humanas estão tão abaladas em suas estruturas e princípios. Como destaca o Espírito Amélia Rodrigues, no livro Pelos Caminhos de Jesus (psicografia de Divaldo Pereira Franco), nunca antes a figura de Jesus Cristo foi tão necessária e pertinente em nossas vidas. Por isso, ensina-nos a ínclita mentora, “Necessário parar na desabalada corrida da ‘falta de tempo’, para revisar, reconsiderar, repensar Jesus”, já que “Volver aos Seus caminhos e percorrê-los com reflexão e ternura, é tarefa inadiável”.

Posto isto, convém assinalar que o Mestre dos Mestres nos forneceu um diagnóstico perfeito da causa dos nossos infortúnios e que explorarei no presente artigo. A propósito, a realidade contemporânea mostra-nos com meridiana clareza personagens – muitos investidos de enorme poder – sendo derrotados por inimigos alojados no imo de suas almas. E suas derrotas pessoais certamente demandarão muito tempo para ser redimidas. Nesse sentido, Jesus legou-nos ensinamentos valiosíssimos,  e entre eles há um diálogo singular por ele travado com o Apóstolo Pedro, registrado por Amélia Rodrigues, na obra Dias Venturosos (psicografia de Divaldo Pereira Franco).

Para o Cristo de Deus “os verdadeiros adversários do homem não se encontram fora dele, porém em seu mundo íntimo”. Continuando a sua explicação, o Senhor ponderou que tendemos a associá-los equivocadamente às pessoas que, às vezes, nos foram muito caras, mas se não nos sintonizarmos com as suas emanações mentais deletérias pouco ou nada nos afetarão. Conforme o Mestre observou, “Há três inimigos ferozes no imo do ser humano, que respondem por todas as misérias que assolam a sociedade, dilacerando os tecidos sutis da alma”, a saber: o egoísmo, o orgulho e a ignorância. Aliás, temos visto demonstrações a respeito em profusão nas sociedades humanas.

Jesus acrescentou que “O egoísmo é responsável por males incontáveis, que devastam a humanidade. O egoísta somente pensa em si, a nada nem a ninguém respeita na sanha de amealhar exclusivamente em benefício próprio, a tudo quanto ambiciona. Faz-se avaro e perverso, porque transita insensível às necessidades alheias”.

Prosseguindo a sua explanação, destacou: “Por sua vez, o orgulho é tóxico que cega e destrói os valores morais do indivíduo, levando-o a desconsiderar as demais criaturas que a cercam. Acreditando-se excepcional e portador de valores que pensa possuir, subestima tudo para sobressair onde se encontra, exibindo a fragilidade moral e as distonias nervosas de que se torna vítima indefesa”.

Por último, temos “a ignorância”, que na visão crística “igualmente escraviza e torna o ser déspota, indiferente a tudo quanto não lhe diz respeito diretamente, esquecido de que todas as pessoas são membros importantes e interdependentes do organismo social”. Visando fixar o ensinamento, o Senhor ponderou: “O egoísmo é genitor abjeto dos males que espalha, como a ambição desregrada, o ressentimento, a irritação, a ira, o ódio, os sentimentos vis que denigrem a vida”. Em seguida enfatizou que “O orgulhoso desestrutura aquele que se deixa ensoberbecer sob a ação dos seus vapores venenosos, levando à loucura da presunção e da prepotência. Na raiz de inúmeros desequilíbrios morais estão as manifestações do orgulho” (ênfase minha). Jesus argumentou que “...a ignorância, serva da estupidez, é o ressumar da morte do conhecimento, dos sentimentos de beleza, da afetividade e da ternura, que enregela o coração e atormenta a conduta”.

Discorrendo sobre os remédios para tais males, o Senhor ensinou ao Apóstolo que a solidariedade deve contrapor o egoísmo do indivíduo, já que estimula o cultivo da gentileza e do altruísmo. Segundo o Mestre, “A solidariedade anula a solidão e amplia o círculo de auxílios mútuos, dignificando o ser que se eleva emocionalmente, engrandecendo a vida e a humanidade”. Já na questão do orgulho, conforme aconselhou o Apóstolo, tem-se na virtude da humildade o perfeito contraponto, uma vez que esta fornece ao indivíduo uma medida exata da sua realidade. Ou seja, a pessoa humilde tem plena consciência do que é na sua essência, denotando profundo conhecimento de si mesmo. Por fim, “À ignorância facultem-se o conhecimento e o dileto filho do sentimento maior, que é hálito do Pai vivificando tudo e todos, origem e finalidade do Universo: o amor!” Combater a ignorância requer esforço contínuo pela via do estudo e reflexões para dilatar a visão, a fim de se compreender e assimilar a verdade celestial.

Cabe também ressaltar que orgulho, egoísmo e ignorância são atributos de Terceira Ordem, isto é, de Espíritos Imperfeitos, conforme classificação de Allan Kardec n´O Livro dos Espíritos (Item 101), abrangendo fundamentalmente as almas ainda propensas para o mal. Encontrar-se ainda em tal condição é deveras lamentável. Seja como for, para Jesus, “A vitória real é sempre sobre si mesmo, nas províncias da alma”. Sendo assim, cabe a nós auscultarmos nossa conduta diária, de modo a mitigarmos qualquer possibilidade de que os males acima enfocados se manifestem em nós. Autoexame, meditação e constante orações facultam-nos a sintonia com a Espiritualidade maior, que nos indicará, pela via da intuição, os pontos mais obscuros do nosso ser que merecem atenção.

Como estamos todos ainda longe da perfeição, é imperioso atacar os nossos males interiores e comportamentais para que possamos ser dignos das bênçãos divinas. Não havendo outra alternativa para alcançarmos a felicidade permanente, trabalhemos, então, efetivamente por isso!

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita