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por Sandra Fiore

 

O desafio da vida: prevenção ao suicídio e a esperança espírita


Vivemos um momento delicado da história humana. Infelizmente, temos percebido um aumento alarmante nos casos de suicídio, inclusive entre crianças e adolescentes. Esse fenômeno nos convida à reflexão: por que tantas pessoas estão desistindo de viver? O que está acontecendo com a alma humana que a faz perder o sentido da existência?

Todos nós enfrentamos desafios ao longo da vida. A dor, como parte da experiência humana, é inevitável — mas sua intensidade e impacto variam de pessoa para pessoa. Não podemos medir o sofrimento do outro com nossa régua emocional. Cada um carrega batalhas invisíveis, e muitas vezes silenciosas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta: a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. Desde a pandemia da COVID-19, esses números cresceram de forma preocupante, revelando uma crise silenciosa de saúde mental — inclusive entre jovens, cujas dores muitas vezes passam despercebidas por adultos que esperam “resiliência natural”.

Vivemos na era digital. Os jovens parecem nascer com habilidades inatas para lidar com tecnologia. São rápidos ao aprender, conectados o tempo todo, e muitas vezes parecem autossuficientes. Porém, a tecnologia que conecta também pode isolar.

Assim como uma enxada é uma ferramenta neutra, que pode plantar ou ferir, a tecnologia precisa de discernimento para ser bem utilizada. A internet mistura verdades e mentiras, afetando a percepção dos jovens e oferecendo “realidades” artificiais, comparações tóxicas e desafios perigosos.

Cito como exemplo o trágico caso da Baleia Azul, um jogo que incentivava metas autodestrutivas. Recentemente, vimos casos de adolescentes intoxicados por aerossol, motivados por vídeos e “tendências” nas redes. O virtual pode se tornar fatal quando falta presença real, diálogo, e orientação dos pais.

O suicídio, geralmente, é a expressão de uma dor psíquica profunda. Não se trata de fraqueza, mas de sofrimento intenso, que parece sem saída para quem o vive. Fatores como depressão, ansiedade, bullying, abuso, desemprego, perdas afetivas ou sensação de fracasso, frequentemente se somam e formam um peso insustentável.

Segundo a OMS, muitos suicídios poderiam ser evitados com detecção precoce, apoio adequado e tratamento.

É essencial estarmos atentos a sinais como:

· Isolamento repentino;

· Mudanças bruscas de comportamento;

· Frases como “não aguento mais” ou “vocês estariam melhor sem mim”;

· Desinteresse pela vida ou por atividades antes prazerosas.

A prevenção ao suicídio exige um compromisso de toda a sociedade. Algumas atitudes fundamentais incluem:

· Observar e acolher sinais de sofrimento emocional;

· Promover acesso universal a serviços de saúde mental de qualidade;

· Fortalecer vínculos familiares, escolares, religiosos e comunitários;

· Ensinar inteligência emocional desde a infância;

· Combater o estigma em torno das doenças mentais;

· Estimular a espiritualidade como recurso de apoio e sentido de vida.

O Espiritismo oferece uma luz consoladora e racional diante desse tema. Entendemos que a vida não termina com a morte do corpo. Somos espíritos imortais em uma jornada de aprendizado. A reencarnação nos mostra que cada existência tem um propósito, mesmo quando atravessamos momentos obscuros.

A dor não é castigo, mas instrumento de amadurecimento da alma. Quando alguém tenta escapar dela pela morte, infelizmente encontra sofrimento ainda maior na vida espiritual. Ivone Pereira, no livro Memórias de um Suicida, relata as duras consequências espirituais do suicídio, reforçando que a vida deve ser preservada sempre.

Jesus, o mestre da vida, nunca prometeu ausência de dores, mas sim presença consoladora: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Ele nos ensinou que o amor cura e a fé fortalece.

Falo também com o coração de quem já enfrentou a depressão. Houve um momento em que perdi o sentido da rotina, sentia um vazio sem nome. Ao buscar ajuda, compreendi que minha dor tinha origem em uma insatisfação profissional profunda. Foi então que me permiti mudar. Saí da zona de conforto e me reconectei com minha vocação como artista plástica. Isso me levou à realização da minha primeira exposição internacional.

A vida muda quando mudamos nossa atitude diante dela. Com fé, coragem e apoio, é possível recomeçar.

A família é o primeiro reduto de amor e proteção. Muitas vezes, a simples escuta acolhedora pode salvar uma vida. Estar presente, conversar, demonstrar afeto e criar espaço para o diálogo sincero pode fazer toda a diferença para alguém em crise.

Como dizia Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

A vida é o bem mais precioso que Deus nos deu. Ela é um dom, um presente com infinitas possibilidades de mudança e reconstrução. Mesmo nos dias mais escuros, há sempre uma fresta de luz esperando por nós. Buscar apoio, cuidar da saúde mental, nutrir a espiritualidade e valorizar os vínculos humanos são atitudes fundamentais para preservar a vida.

O Setembro Amarelo teve origem em 1994 nos Estados Unidos, após a morte do jovem Mike Emme, que se suicidou sem conseguir expressar suas dores emocionais. Seus pais e amigos criaram a campanha Yellow Ribbon (Fita Amarela), distribuindo cartões com mensagens de apoio, tornando o amarelo símbolo da prevenção ao suicídio.

No Brasil, a campanha foi oficializada em 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O CVV (Centro de Valorização da Vida), fundado em 1962, oferece apoio emocional gratuito pelo telefone 188, ajudando quem precisa conversar.

A mensagem central é: viver é sempre a melhor escolha. Nunca desistamos de nós mesmos nem dos que amamos, pois o amanhã pode trazer respostas que hoje não vemos.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita