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por Rogério Coelho

 

Os insondáveis elos das transmigrações palingenésicas


A evolução da humanidade está vinculada à lei de Causa e Efeito e à Justiça Divina.


“(...) aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.” 
Jesus. (Jo., 3:3.)


Com o apoucamento das potencialidades do Espírito em virtude de seu mergulho no corpo somático, assomam as perplexidades que não passam de simples corolários decorrentes dessa situação de exceção.

Quem já se deixou penetrar pelo conhecimento da formosa e singular Doutrina dos Espíritos, sabe que a reencarnação, isto é, a permanência do Espírito ergastulado no corpo carnal, é uma situação transitória, porque não desconhece que a vida verdadeira e normal, é aquela que antecede e sucede à encarnação, isto é: a vida espiritual.

Ao reencarnarmos passamos a rentear toda sorte de limitações e dificuldades em nós e à nossa volta. Por quê? Naturalmente porque o processo evolutivo não é um parto indolor. A ascensão espiritual requer esforço, perseverança, luta, suor, empenho...

Léon Denis chama esse mergulho no corpo físico de “eterno himeneu entre o Céu e a Terra, a infinita penetração da matéria pelo Espírito, a efusão crescente da vida psíquica na forma em evolução”.

Nessas emigrações e imigrações constantes entre os dois mundos através dos renascimentos e das “mortes”, vai-se estabelecendo na vida de cada um os patamares evolutivos, sempre vinculados à lei de Causa e Efeito e à Justiça Divina, pois não estamos sem norte nesse processo todo, vez que Deus, em Sua infinita misericórdia e bondade nos assiste a todos, ensejando-nos sempre a oportunidade de aprimoramento, de autoiluminação...

Percebemos, então, que graças ao livre-arbítrio somos nós mesmos os artífices de nosso destino.   Recebemos de acordo com a direção que imprimimos em nossas vidas, conforme muito bem asseverou Jesus[1]“a cada um será dado de acordo com as suas obras”.

Afirma Léon Denis[2] que “as menores particularidades da nossa vida registram-se em nós e deixam traços indeléveis. Pensamentos, desejos, paixões, atos bons ou maus, tudo se fixa, tudo se grava em nós. Durante o curso normal da vida, essas recordações acumulam-se em camadas sucessivas e as mais recentes acabam por delir aparentemente as mais antigas.

A Alma vem de Deus; é, em nós, o princípio da inteligência e da vida. Essência misteriosa, escapa à análise, como tudo quanto dimana do Absoluto. Criada por amor, criada para amar, tão mesquinha que pode ser encerrada numa forma acanhada e frágil; tão grande que, com um impulso do seu pensamento, abrange o Infinito, a Alma é uma partícula da essência divina projetada no mundo material.

Desde a hora em que caiu na matéria, qual foi o caminho que seguiu para remontar até ao ponto atual da sua carreira? Precisou passar por várias vias escuras, revestir formas, animar organismos que deixava ao sair de cada existência, como se faz com um vestuário inútil.   Todos esses corpos de carne pereceram; o sopro do destino dispersou-lhes as cinzas, mas a Alma persiste e permanece na sua perpetuidade, prossegue sua marcha ascendente, percorre as inumeráveis estações da sua viagem e dirige-se para um fim grande e apetecível, um fim que é a perfeição.

O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a felicidade terrestre, como muitos erradamente creem, mas o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meio do trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, até que nos tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao Estado Celeste. Se há na Terra menos alegria do que sofrimento, é que este é o instrumento por excelência da educação e do progresso, um estimulante para o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor física e moral formam a nossa experiência. A sabedoria é o prêmio!

A teoria da evolução deve ser completada pela da percussão, isto é, pela ação das potências invisíveis, que ativa e dirige essa lenta e prodigiosa marcha ascensional da vida do Globo, o mundo oculto intervém, em certas épocas, no desenvolvimento físico da humanidade, como intervém, no domínio intelectual e moral pela revelação medianímica. 

(...) Emergir grau a grau do abismo da vida para tornar-se Espírito, gênio superior, e isto por seus próprios méritos e esforços, conquistar o futuro hora a hora, ir-se libertando dia a dia um pouco mais da ganga das paixões, libertar-se das sugestões do egoísmo, da preguiça, do desânimo, resgatar-se pouco a pouco das suas fraquezas, da sua ignorância, ajudando os seus semelhantes a se resgatarem por sua vez, arrastando todo o meio humano para um estado superior, tal é o papel distribuído a cada Alma. Para desempenhá-lo, tem ela à sua disposição toda a série de existências inumeráveis na escala magnífica dos mundos.

Deus conhece todas as Almas que formou como o Seu pensamento e o Seu Amor.   A princípio deixa-as percorrer vagarosamente as sinuosas vias, subir os sombrios desfiladeiros das vidas terrestres, acumular pouco a pouco em si os tesouros da paciência, das virtudes, do saber, que se adquirem na escola do sofrimento.

Mais tarde, enternecidas pelas chuvas e pelas rajadas da adversidade, amadurecidas pelos raios do Sol Divino, saem da sombra dos tempos, da obscuridade das vidas inumeráveis e eis que suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes; a sua inteligência revela-se em Obras que são como que o reflexo do Gênio Divino.  

As imensas estradas do Infinito descortinar-se-ão à sua frente, e então estarão aptas a colaborar em grande escala para a evolução e aprimoramento das Almas retardatárias a fim de que possam elas também atingir os páramos celestes, a perfeição e felicidade imarcescíveis, enfim...”


 

[1] - BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983, cap. 16, vers.27.     

[2] - DENIS, Léon . O Problema do ser, do destino e da dor. Rio [de Janeiro]: FEB, 2880, 1ª parte – cap. 8 e 9.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita