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por Ricardo Orestes Forni

 

O nosso terreno


Três irmãos viviam em situação de penúria necessitando de esmolar à caridade pública para sobreviver.

Um senhor de idade, que possuía um pequeno sítio, ofereceu a eles, para que trabalhassem, a terra bruta de onde poderiam obter o necessário e ter uma vida com dignidade.

De início entusiasmados com a proposta, aceitaram o oferecimento.

A terra necessitava de muito cuidado. Estava ressecada, cheia de pedras, de pedregulhos, pedaços de gravetos e troncos de árvores espalhados pela gleba invadida por muito mato. Requisitava, portanto, muito trabalho antes que tivesse condições de produzir.

Iniciaram o serviço em um verão muito quente, o que exigia o suor do rosto e do corpo inteiro na labuta.

Findo esse período da natureza, principiou o outono com dias escuros e tristes. Um dos irmãos resolveu desistir da empreitada, alegando que aquela terra toda não responderia a tanto sacrifício como vinha realizando. Deixou a sua parte para os outros dois e partiu em direção a rumo desconhecido.

Acabado o outono, principiou o período de um rigoroso inverno tornando o trabalho ainda mais cansativo. Isso foi o suficiente para que o segundo dos irmãos também desistisse daquela tentativa que reputava de inútil e não compensadora de todo aquele trabalho.

Assim, restou apenas um deles, que prosseguiu decidido e ultrapassou as dificuldades do inverno, ingressando na primavera, que trouxe muita chuva e ventos fortes soprando em várias direções.

Quando o novo período de verão principiou, toda a terra estava trabalhada o suficiente abrigando as sementes esparramadas pelo vento e acolhida no solo abençoado pelas águas da chuva e pelo trabalho desempenhado até aquele momento, respondendo com farta colheita para o homem que não desistiu do serviço.

Muitas vezes nos sentimos, quando desencarnados, como os três irmãos que ganharam um pedaço de terra para cultivar. Nossa consciência sente-se incomodada pelas oportunidades de crescimento espiritual não aproveitada. Diante de nós mesmos sentimo-nos como necessitados do socorro do Criador e esse pedido íntimo é atendido através de uma nova oportunidade que a reencarnação nos proporciona. Ela representa, à semelhança dos três irmãos, uma nova oportunidade no terreno da existência para que possamos trabalhar adequadamente o solo da vida.

Sentimos como se Deus nos ofertasse um novo pedaço de oportunidade para ser adequadamente trabalhado. Precisamos da firma decisão do trabalhador que permaneceu no sítio apesar de todas as dificuldades que as estações do ano impuseram a ele.

Passou pelo verão derramando o suor do rosto e o cansaço físico no cabo da enxada rústica. Permaneceu nos dias tristes do outono que acenava com o convite para o desânimo. No inverno, com dias de temperaturas dolorosas, não abandonou o trabalho.

Viu o surgir da primavera com promessas risonhas de um futuro melhor que acabou se concretizando em um novo verão de colheitas fartas e compensadoras.

Como Espíritos imortais, transitamos pelos períodos das semeaduras livres seguidas das colheitas necessárias. Precisamos permanecer no campo do amor semeado em todas as oportunidades que a nova existência nos proporcionar para o adequado cultivo do solo de nossas almas.

Para que possamos meditar no valor extraordinário de estarmos reencarnados e aproveitarmos essa oportunidade abençoada, vamos lembrar uma página do Irmão José, contida no livro Ajuda-te e o Céu Te Ajudará, editora LEEPP, psicografia de Carlos A. Baccelli, intitulada O Peso da Luta: “Muitas vezes, te sentes fraquejar sob o peso da luta. Dificuldades que se avolumam. Problemas que, há muito tempo, se arrastam. Trabalho estafante sem pausa. Responsabilidades que assumiste perante a família. Cobranças excessivas daqueles que te cercam. Seja, porém, qual for o teu grau de desgaste físico e emocional, nem sequer cogites de deserção ao dever. Ainda que tenhas que reduzir as tuas atividades, a fim de que consigas respirar um pouco mais aliviado, não te rendas ao desânimo. Não te esqueças de que se, não raro, é o corpo que carrega o espírito, sempre chega o momento em que o espírito deve carregar o corpo.”

Posto essa realidade, seria bom que analisássemos como temos trabalhado o terreno desta nova existência na escola da Terra.

É conveniente a revisão das sementes que temos lançado no solo desta nova existência diante da realidade inexorável de que somos herdeiros de nós mesmos.

Imploramos por nova oportunidade de retorno a um veículo físico tanto para conquistar valores morais de que estamos necessitados, como reparar aquilo que incomoda nossa consciência transformando-se, na razão de nosso desassossego, como Espíritos imortais destinados à perfeição possível de ser atingida.

Por certo enfrentaremos muitos períodos de sol abrasador. Muitos outros de inverno rigoroso e dolorido. No entanto, a misericórdia do Pai nos acena com uma nova primavera que sucederá um verão de luz e colheita farta para a semeadura adequada de quem soube estar no mundo para vencer o mundo, como recomendou Jesus.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita