O nosso terreno
Três irmãos viviam em situação de penúria
necessitando de esmolar à caridade pública para
sobreviver.
Um senhor de idade, que possuía um pequeno
sítio, ofereceu a eles, para que trabalhassem, a
terra bruta de onde poderiam obter o necessário
e ter uma vida com dignidade.
De início entusiasmados com a proposta,
aceitaram o oferecimento.
A terra necessitava de muito cuidado. Estava
ressecada, cheia de pedras, de pedregulhos,
pedaços de gravetos e troncos de árvores
espalhados pela gleba invadida por muito mato.
Requisitava, portanto, muito trabalho antes que
tivesse condições de produzir.
Iniciaram o serviço em um verão muito quente, o
que exigia o suor do rosto e do corpo inteiro na
labuta.
Findo esse período da natureza, principiou o
outono com dias escuros e tristes. Um dos irmãos
resolveu desistir da empreitada, alegando que
aquela terra toda não responderia a tanto
sacrifício como vinha realizando. Deixou a sua
parte para os outros dois e partiu em direção a
rumo desconhecido.
Acabado o outono, principiou o período de um
rigoroso inverno tornando o trabalho ainda mais
cansativo. Isso foi o suficiente para que o
segundo dos irmãos também desistisse daquela
tentativa que reputava de inútil e não
compensadora de todo aquele trabalho.
Assim, restou apenas um deles, que prosseguiu
decidido e ultrapassou as dificuldades do
inverno, ingressando na primavera, que trouxe
muita chuva e ventos fortes soprando em várias
direções.
Quando o novo período de verão principiou, toda
a terra estava trabalhada o suficiente abrigando
as sementes esparramadas pelo vento e acolhida
no solo abençoado pelas águas da chuva e pelo
trabalho desempenhado até aquele momento,
respondendo com farta colheita para o homem que
não desistiu do serviço.
Muitas vezes nos sentimos, quando desencarnados,
como os três irmãos que ganharam um pedaço de
terra para cultivar. Nossa consciência sente-se
incomodada pelas oportunidades de crescimento
espiritual não aproveitada. Diante de nós mesmos
sentimo-nos como necessitados do socorro do
Criador e esse pedido íntimo é atendido através
de uma nova oportunidade que a reencarnação nos
proporciona. Ela representa, à semelhança dos
três irmãos, uma nova oportunidade no terreno da
existência para que possamos trabalhar
adequadamente o solo da vida.
Sentimos como se Deus nos ofertasse um novo
pedaço de oportunidade para ser adequadamente
trabalhado. Precisamos da firma decisão do
trabalhador que permaneceu no sítio apesar de
todas as dificuldades que as estações do ano
impuseram a ele.
Passou pelo verão derramando o suor do rosto e o
cansaço físico no cabo da enxada rústica.
Permaneceu nos dias tristes do outono que
acenava com o convite para o desânimo. No
inverno, com dias de temperaturas dolorosas, não
abandonou o trabalho.
Viu o surgir da primavera com promessas risonhas
de um futuro melhor que acabou se concretizando
em um novo verão de colheitas fartas e
compensadoras.
Como Espíritos imortais, transitamos pelos
períodos das semeaduras livres seguidas das
colheitas necessárias. Precisamos permanecer no
campo do amor semeado em todas as oportunidades
que a nova existência nos proporcionar para o
adequado cultivo do solo de nossas almas.
Para que possamos meditar no valor
extraordinário de estarmos reencarnados e
aproveitarmos essa oportunidade abençoada, vamos
lembrar uma página do Irmão José, contida no
livro Ajuda-te e o Céu Te Ajudará,
editora LEEPP, psicografia de Carlos A.
Baccelli, intitulada O Peso da Luta:
“Muitas vezes, te sentes fraquejar sob o peso da
luta. Dificuldades que se avolumam. Problemas
que, há muito tempo, se arrastam. Trabalho
estafante sem pausa. Responsabilidades que
assumiste perante a família. Cobranças
excessivas daqueles que te cercam. Seja, porém,
qual for o teu grau de desgaste físico e
emocional, nem sequer cogites de deserção ao
dever. Ainda que tenhas que reduzir as tuas
atividades, a fim de que consigas respirar um
pouco mais aliviado, não te rendas ao desânimo.
Não te esqueças de que se, não raro, é o corpo
que carrega o espírito, sempre chega o momento
em que o espírito deve carregar o corpo.”
Posto essa realidade, seria bom que
analisássemos como temos trabalhado o terreno
desta nova existência na escola da Terra.
É conveniente a revisão das sementes que temos
lançado no solo desta nova existência diante da
realidade inexorável de que somos herdeiros de
nós mesmos.
Imploramos por nova oportunidade de retorno a um
veículo físico tanto para conquistar valores
morais de que estamos necessitados, como reparar
aquilo que incomoda nossa consciência
transformando-se, na razão de nosso
desassossego, como Espíritos imortais destinados
à perfeição possível de ser atingida.
Por certo enfrentaremos muitos períodos de sol
abrasador. Muitos outros de inverno rigoroso e
dolorido. No entanto, a misericórdia do Pai nos
acena com uma nova primavera que sucederá um
verão de luz e colheita farta para a semeadura
adequada de quem soube estar no mundo para
vencer o mundo, como recomendou Jesus.