As fatalidades da vida
O uso da palavra fatalidade tem-se tornado muito comum,
sendo, de modo geral, empregada em acontecimentos
trágicos, quando muitas vidas são ceifadas: acidentes
trágicos entre veículos, atropelamentos inusitados,
erros médicos, desabamentos, bala perdida, entre tantos
outros.
Banalizou-se o emprego do termo, contudo, analisando com
maior cuidado a questão, é preciso concluir, em todos
estes casos, e muitos outros, que a fatalidade não se
aplica, pois esta classificação de fatos do nosso
cotidiano pode sugerir que todas estas chamadas
desgraças - na compreensão popular - são inevitáveis,
muitas já estavam até previstas, foi o destino.
Religiosos crentes no Deus todo poderoso ficam atônitos,
diante destes desfechos e alguns mesmo indagam como Deus
pode permitir essas desditas!?
Com o advento do Espiritismo, pudemos melhor entender o
tema, evitando acusar a Divindade por permitir estes
tristes acontecimentos. Segundo a sabedoria dos
Imortais, há pouquíssimas fatalidades – ainda bem -,
contrariando, frontalmente, esta dita sabedoria popular.
Talvez a mais importante fatalidade existente dentro das
leis divinas seja a certeza de que todos nós
progrediremos até atingirmos a perfeição relativa. Sim,
nenhum Espírito poderá se esquivar de alcançar o estado
de pureza e, daí para a frente, colaborará na
administração do Universo junto e sob a tutela do Pai
Criador. Ele nos atribuirá variadas tarefas, muitas
ainda desconhecidas, vinculadas à condição de perfeição
de seus filhos. Todos nós estamos destinados a
contribuir no cumprimento de Seus sábios desígnios.
O exato instante da morte é outra fatalidade, uma vez
que dele ninguém pode escapar. Pelo outro lado da moeda,
o momento em que devemos reaparecer na Terra ou em
qualquer outro mundo, ou seja, reencarnar, também o é.
Vivenciar provas, expiações ou missões, previamente
selecionadas e discutidas na erraticidade, reunindo as
deliberações do nosso livre-arbítrio e as ponderações
dos Espíritos responsáveis pela nova reencarnação, tudo
baseado no mapa de realizações construído em existências
passadas do futuro reencarnante, representa outra
fatalidade. Como exemplos destas escolhas temos: gênero
ou causa da morte, duração da existência física, doença
específica podendo surgir em determinado momento de
nossa próxima existência, significativo revés econômico,
dificuldade familiar de monta, grandes dores morais como
resultado de infortúnios diversos, limitação física de
nascença oriunda de uma deficiência perispiritual, ou
seja, alguns aspectos materiais na existência podem
constituir fatalidades.
Contudo, mesmo esses prévios acertos podem ser
alterados, por exemplo, o tempo previsto da existência
corpórea pode ser abreviado ou postergado. No primeiro
caso, em função da forma como vivemos, usando
alcoólicos, fumo, drogas ilícitas, mantendo uma vida
desregrada..., enquanto, em relação ao segundo, caso o
Espírito tenha méritos construídos durante a atual
existência e sendo considerado que ele deve permanecer
reencarnado, embora seu tempo se haja esgotado, pois é
preciso acertar certas pendências de vida junto a
familiares e outras pessoas que também possam depender
dele, ou ainda em função do que faz de bem para a
Humanidade.
É de observar que as nossas decisões e opções tomadas
antes de uma nova reencarnação, em conjunto com os
Espíritos encarregados deste processo, só ocorrem quando
o reencarnante possui uma boa bagagem de entendimento,
viabilizando ser frutífera essa interação; caso
contrário, os grandes marcos da vida serão inteiramente
determinados pelos responsáveis por essa nova existência
corpórea, pois como escolher características de uma nova
existência se o interessado não possui ainda condições
de entender os mecanismos que regem a vida, muito menos
o que ele mais precisa aprender e experimentar em seu
estágio evolutivo?
Esta realidade nos faz perceber estar a fatalidade tão
mais presente na vida do Espírito quanto menos evoluído
ele se encontrar.
Sempre é bom lembrar que estes exemplos, até agora
apresentados, se prendem a aspectos materiais de uma
existência, entretanto, as posturas morais diante dos
variados desafios enfrentados jamais estão definidas,
nem poderiam estar, pois sempre dependem do modo como os
Espíritos encaram as diversas situações do cotidiano.
Por exemplo, imaginemos que tenha sido escolhida a prova
da riqueza material para a nova etapa evolutiva. Quando
o Espírito adquire os bens que o tornam rico, ele pode
usar esta riqueza espalhando o bem entre os seus
próximos, mas pode, também, se encastelar em seu modo
egoísta, deixando-se, mais uma vez, dominar pelo orgulho
e, desta forma, unindo o binômio egoísmo-orgulho, ao
final de outra existência, esse rico e abastado
personagem terá construído outras expiações para suas
futuras existências.
Assim, a conduta moral nunca está definida, ou seja, os
efeitos morais dos acontecimentos no Espírito jamais são
fatais, e podemos concluir que este lado da existência é
muito mais variado do que o lado material.
Como conclusão fatal desta breve análise, poderíamos
afirmar: A visão espírita no que tange a este fascinante
tema é intermediária entre os extremos do tudo está
escrito - o determinismo - e do seu oposto, nada está
escrito - a aleatoriedade - tendendo para o último, ou
seja, pouco está escrito.
Cabe a cada qual traçar o seu destino, dentro daquilo
que pode ser alterado.