Palavras de alerta
Sou um médium desencarnado, pedindo ajuda para os
médiuns que ainda se encontram no corpo físico… um
companheiro que baixou, ferido, à retaguarda, rogando
socorro para aqueles soldados que ainda perseveram na
frente.
Isso, porque a frente vive superlotada de inimigos
ferozes… inimigos que são a vaidade e o orgulho, a
ignorância e a fragilidade moral, a inconformação e o
egoísmo, a rebeldia e a ambição desregrada, a se
ocultarem na cidadela de nossa alma, e que, muitas
vezes, são reforçados em seu poder de assalto por nossos
próprios amigos, porquanto, a pretexto de afetividade e
devoção carinhosa, muitos deles nos comprometem o
trabalho e, quase sempre, levianos e infantis, nos
conduzem à ruína da sagrada esperança com que renascemos
na experiência terrestre.
Sou o companheiro J. C., que muitos de vós conhecestes.
A jornada foi curta, mas acidentada e difícil. E,
trazendo comigo os sinais da imensa luta, a se
exprimirem por remorsos e lágrimas, apelo para vós
outros, a fim de que haja em nós todos, médiuns,
doutrinadores, tarefeiros e beneficiários da Causa
Espírita, uma noção mais avançada de nossas
responsabilidades, diante do Cristo, nosso Mestre e
Senhor.
Comecei retamente a empreitada, mas era demasiadamente
moço e sem qualquer instrução que me acordasse a visão
íntima para as consequências que me adviriam do
cumprimento feliz ou infeliz das minhas obrigações.
Meus recursos medianímicos eram realmente os da
materialização e, com eles, denodados benfeitores das
Esferas mais elevadas tutelavam-me a existência;
entretanto, fugi ao estudo, injustificavelmente
entediado das lições alusivas aos meus deveres e minha
culpa foi agravada por todos aqueles amigos que, na sede
inveterada de fenômenos, me alentavam a ignorância, como
se eu não tivesse o compromisso de acender uma luz no
coração para que a romagem fosse menos árdua e o caminho
menos espinhoso.
Com semelhante leviandade, surgiram as exigências, —
exigências altamente remuneradas, não pelo dinheiro
fácil, mas pela notoriedade social, pelas relações
prestigiosas e por todas as situações que nos estimulam
a vaidade, — quais se fôssemos donos das riquezas que
nos bafejam o Espírito, ainda imperfeito, em nome de
Nosso Pai.
Em vista disso, mais cedo que eu poderia esperar,
multidões da sombra, interessadas no descrédito de
nossas atividades, cercaram-me o roteiro. E, por mais me
alertassem os Instrutores que jamais nos abandonam, as
grossas filas de quantos me acenavam com a falsa
estimação de meu concurso apagavam-me os gritos da
consciência, transferindo-me, assim, à condição de
joguete dos encarnados e dos desencarnados, menos apto
ao convívio das revelações de nossa Doutrina
Consoladora, com o que lhes aceitava, sem relutância, as
sugestões magnéticas, agindo ao sabor de caprichos
inferiores e delinquentes.
Cabe-me afirmar, com todo o amargor da realidade, que,
distraído de mim mesmo, apático e semi-inconsciente,
prejudiquei o elevado programa de nossos orientadores;
contudo, os atenuantes de minha falta revelaram-se aqui,
em meu favor, e a Providência Divina amparou o servo que
caiu, desastrado, e que somente não desceu mais
intensamente ao bojo das sombras, porque, com a bênção
de Jesus, me despedi do mundo em extrema pobreza
material, deixando a família em proveitosas
dificuldades.
Comecei bem, repito, mas a inexperiência incensada
fez-me olvidar o estudo edificante, o trabalho
espontâneo de socorro aos doentes, a proteção fraterna
aos necessitados e desvalidos e, segregado numa elite de
criaturas que me desconheciam a gravidade da tarefa,
entreguei-me, sem qualquer defensiva, ao domínio das
forças que me precipitaram no nevoeiro.
Com o auxílio do Senhor, porém, antes que a delinquência
mais responsável me estigmatizasse o espírito, a mão
piedosa da morte física me separou do corpo que eu não
soube aproveitar.
É por isso que, em vos visitando, qual soldado em
tratamento, rogo para que os médiuns encontrem junto de
vossos corações não apenas o testemunho das realidades
espirituais, tantas vezes doloroso de dar-se e difícil
de ser obtido, pelas deficiências e fraquezas de que
somos portadores, mas também a partilha do estudo nobre,
da fraternidade viva, do trabalho respeitável e da reta
consciência…
Que eles sejam recebidos tais quais são… Nem anjos, nem
demônios. Nem cobaias, nem criaturas milagreiras.
Guardemo-los por irmãos nossos, carregando consigo as
marcas da Humanidade, solicitando redenção e sacrifício,
abnegação e sofrimento.
A árvore para produzir com eficiência deve receber adubo
no trato de solo em que o Senhor a fez nascer.
O rio para espalhar os benefícios de que é mensageiro,
em nome da Natureza Divina, pode ser retificado e
auxiliado em seu curso, mas não pode afastar-se do leito
básico.
Oxalá possam os médiuns aprender que mais vale ser
instrumento das consolações do espírito, na intimidade
de um lar, ao aconchego de uma só família, que erigir-se
em cartaz da imprensa, submetido a experimentações que,
em muitas circunstâncias, acabam em frustração e
bancarrota moral.
Saibam todos que mais vale socorrer a chaga de um
doente, relegado ao desprezo público, que produzir
fenômenos de espetaculares efeitos, cuja fulguração,
quase sempre, cega aqueles que os recebem sem o preparo
devido.
Ah! Meus amigos, o Espiritismo é o tesouro de luz de que
somos, todos nós, quando entre os homens, carregadores
responsáveis, para que a Humanidade se redima!…
Lembremo-nos de semelhante verdade, para que todos nós,
na doutrinação e na mediunidade, na beneficência e no
estudo, estejamos de atalaia contra os desastres do
espírito, mantendo-nos no serviço constante da humildade
e do amor, de modo a vencermos, enfim, a escabrosa
viagem para os montes da Luz.
Do livro Vozes do Grande Além, comunicação
transmitida psicofonicamente pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
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