Eis que estou à porta e bato
A revelação apocalíptica nos transporta a um dos
momentos mais íntimos e sublimes da relação entre o
Cristo e a alma humana: “Eis que estou à porta e bato;
se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em
sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap. 3:20).
Nessa imagem tocante, o Senhor se mostra como alguém que
espera, pacientemente, por um gesto de acolhida vindo do
coração de cada um de nós. Não irrompe pela força, mas
se apresenta com ternura, em meio às tempestades do
mundo, aguardando o consentimento da alma para nela
fazer morada. O Mestre Divino bate à porta de um amigo
humano que segue seus passos, convidando-o ao banquete
da redenção.
Esse convite amoroso ultrapassa a moldura da visão
profética e nos alcança agora, em nossa realidade
cotidiana, na linguagem da consciência e das
experiências que nos desafiam à renovação espiritual.
Jesus continua a bater, chamando-nos ao silêncio
interior, à superação dos medos, ao abandono das
vaidades, à prática do bem sem ostentação. O poema que
elaboramos, com inspiração nessa passagem, objetiva dar
forma poética à visita de nosso Divino Mestre,
transfigurando a fria noite do mundo na luminosa
presença daquele que é a Vida e a Luz dos homens.
O título do poema já nos antecipa a grandeza desse
momento. Eis que o Senhor, mesmo sendo o Rei deste
planeta, dispõe-se a entrar no recanto mais humilde de
nossa alma, desde que ouçamos sua suave batida e o
convidemos ao aconchego de nosso lar. Cada verso evoca a
emoção dessa epifania espiritual, em que o coração
humano se torna altar e morada do Cristo. E, como o
poema bem conclui, o sinal da verdadeira receptividade
está no exercício da caridade, porque, afinal, é pelo
amor vivido e a caridade praticada que mereceremos
acolher o Cristo quando Ele, velada ou explicitamente,
bater à nossa porta.
O HÓSPEDE DIVINO
Eu abro a porta de meu coração
Para atender a uma voz que chama,
Lá fora é noite e grande a ventania,
Por toda a parte o temporal rebrama...
Mas ao abri-la, oh! Deus, quanta emoção
Sobre minh’alma em prantos se derrama:
Pois contra a noite eu vejo, imerso em luz,
Em frente à porta o meu Senhor Jesus!
– “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida
E venho à Terra em busca de um amigo,
Por isso estou à tua porta e bato,
Se tu a abrires, cearei contigo;
De nosso Pai trago um manjar divino
Para compor a mesa em teu abrigo,
E, assim, unidos nessa refeição,
Bem junto ao meu terás teu coração.”
Jesus, agora, é o dono de minh’alma,
A esplandecente Estrela da Manhã
Que sobre a Terra espalha a luz do Amor
E faz do mundo uma só alma irmã.
Ah! meu amigo! ama e trabalha sempre,
Perdoa e espera de alma pura e sã:
A Caridade é tudo quanto importa,
Quando Jesus bater à tua porta!
Mário Frigéri é poeta, escritor, autor e youtuber com a
mente e o coração voltados para o esplendor do Evangelho
e da Doutrina Espírita. Campinas-SP.