Tentação e virtude
Se uma criatura possui enorme fortuna, podendo
desmandar-se na prodigalidade ou na avareza, e busca
empregá-la no bem-estar e no progresso, na educação e no
aprimoramento dos semelhantes…
Se dispõe de autoridade com recursos para manejar a
própria influência em seu exclusivo proveito, e procura
aplicá-la no auxílio aos outros…
Se sofre acusação indébita com elementos para
justiçar-se do modo que considere mais justo, e prefere
esquecer a ofensa recebida, reconhecendo-se igualmente
passível de errar…
Se já efetuou em favor de alguém todos os serviços ao
seu alcance, recolhendo invariavelmente a incompreensão
por resposta, e prossegue amparando esse alguém, através
dos meios que se lhe fazem possíveis, sem exigência e
sem queixa…
Essa pessoa ter-se-á colocado, evidentemente, a
cavaleiro das piores tentações que lhe assediavam a
vida.
Todos nós — os Espíritos em evolução e resgate nas
trilhas do Universo — recapitulamos as experiências em
que tenhamos falido. À vista disso, todas as provações
na escola terrestre assumem a feição de ensinamentos e
testes indispensáveis. Há quem renasça mostrando extrema
beleza física, a fim de superar inclinações ao
desregramento; carregando um cérebro privilegiado para
vencer a vaidade da inteligência; detendo valiosa
titulação acadêmica de modo a subjugar a propensão para
o abuso; ou exercendo encargos difíceis nas causas
nobres, de maneira a extinguir os impulsos de deserção
ou deslealdade.
Cada qual de nós, no internato da reencarnação, é
examinado nas tendências inferiores que trazemos das
existências passadas, a fim de aprendermos que somente
nos será possível conquistar o bem vencendo o mal que
nos procure, tantas vezes quantas necessárias, mesmo
além do débito pago ou da sombra extinta.
Fácil, pois, observar que, sem a presença da tentação, a
virtude não aparece, e assim será sempre para que a
inocência não seja uma flor estéril e para que as
grandes teorias de elevação não se façam sementes
frustas no campo da Humanidade.
Nota: O
título original desta mensagem, publicada em 1969 no
livro “Alma e coração”, foi Em torno da virtude.
Do livro Rumo certo, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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