Especial

por Jorge Gomes

Orar faz bem à saúde

 

Vale a pena orar? A ser colocada ao homem da rua, esta pergunta deveria ter na sua maioria uma resposta indiferente. Mas se os factos forem analisados, a resposta toma melhor rumo.

Um dos vultos mais conhecidos nesta área de investigação, Harold Koenig, professor de Medicina da Universidade de Duke, EUA, afirma que sim, vale muito a pena orar bem, e toma por base dessa afirmação numerosas pesquisas científicas. Koenig é autor de cerca de 40 livros e publicou mais de 300 artigos científicos.

Em declarações à imprensa disse que "há uma relação significativa entre frequência da prática religiosa e longevidade. Acredito que o impacto na sobrevida seja em torno de 35%".

Por exemplo, o estudo publicado na revista científica "American Heart Journal", centrada em cardiologia, em 2001 já apontava nesse sentido. Num estudo sob a égide da Universidade de Duke, Koenig dividiu em dois grupos 120 pacientes de cardiologia submetidos a angioplastia, uma doença relacionada com enfarte agudo do miocárdio. Sem o saber, um grupo de pós-operados foi alvo de preces feitas por sacerdotes e outras pessoas durante um ano. Resultado: esses pacientes tiveram uma redução de efeitos colaterais (morte, insuficiência e ataque cardíaco) na ordem dos 25% a 30% em relação aos demais.


Será assim porque reduz o stress?

 

Um dos investigadores conhecidos que estudou o stress é Robert Sapolsky, professor de neurologia da Universidade de Stanford, EUA.

Numa certa fase da sua carreira centrou-se em grupos de babuínos selvagens, em África. Relativamente próximos da espécie humana, partilhamos com esses primatas diversas variáveis. Para sabermos um pouco mais sobre babuínos, deve ser dito que têm mais de 30 vocalizações para interagirem entre si. Há cinco espécies diferentes. Cada grupo pode contar mais de 300 membros e estabelecem hierarquia social com foco em elementos do grupo que são dominantes e outros dominados a vários níveis.

Identificada a posição de diversos indivíduos no bando, com uma zarabatana Sapolsky sedava o babuíno selecionado e extraía sangue para análises. Isso permitiu-lhe saber, por exemplo, como se apresentavam em cada um as hormonas de stress.

Verificou que os animais situados nos patamares inferiores da hierarquia tinham níveis mais elevados de hormonas de stress, apresentavam um ritmo cardíaco mais acelerado e maior pressão sanguínea. O sistema reprodutivo estava periclitante.

Por sua vez, outra das principais conclusões destacou que os babuínos dominantes tinham menor quantidade de hormonas de stress, ou seja, quanto mais para baixo na hierarquia do grupo mais stress evidenciavam.

Nos grupos humanos passa-se o mesmo.

O stress não é coisa pouca. Afirmam diversos cientistas que influencia as funções fisiológicas por processos estudados e tem impacto sobretudo sobre três sistemas ligados à defesa do organismo: o imunológico, o endócrino e o cardiovascular. Se esses sistemas não funcionarem bem, mais facilmente se fica doente.

Deve dizer-se, porém, que há diversos tipos de stress. Se o stress de curta duração é inofensivo, já o stress de continuidade carece de interruptor, caso contrário a saúde tenderá a ficar debilitada.

 

Disse saúde?

 

Sem dúvida. A ideia de saúde é vasta.

Na dimensão material, contudo, a Organização Mundial da Saúde destaca há vários anos um feliz alvitre: definiu saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença".

Soma-se a este sistema ampliado a saúde física e a saúde espiritual.

Nas reuniões mediúnicas de auxílio a quem parte para a vida espiritual sem o desejável equilíbrio interior esse facto é demasiado evidente.

Destaca-se a inoperância que caracteriza o amorfismo – inércia afetiva – como um estado de alma. Não basta ser neutro, é importante desenvolver trabalho íntimo de que venha a resultar uma vida interior de bem-estar. Kardec referiu assim esta lei da natureza: fora da caridade – leia-se amor em movimento – não há salvação. Salvação dos efeitos da nossa ignorância. Sem fatalismo, entenda-se. A possibilidade de melhoria está ao virar de cada minuto.

Está esclarecido igualmente que orar com sinceridade melhora a sintonia espiritual. Orar é sentir e pensar no melhor patamar dos sentimentos que cada um abriga no seu psiquismo. Todo o pensamento interage entre afinidades, e reforça-se com isso. As propriedades do corpo espiritual, o perispírito, vão espelhar em qualquer momento o teor do que pensamos e sentimos, restringindo ou ampliando as perceções espirituais.

Com uma higiene mental cuidada, as sugestões oportunas dos amigos espirituais tornam-se mais acessíveis, mais assimiláveis. O aproveitamento das experiências de vida aumenta e o raciocínio pacificado fica mais claro e cristalino. Criam-se condições para agir melhor com esse processo iluminativo do mundo interior de cada um ao respirar amor tão incondicional quanto possível.

Ainda assim, é verdade que orar não dispensa ninguém do trabalho que lhe cumpre realizar. No livro À luz da oração, psicografado por Francisco Cândido Xavier, de Emmanuel (Espírito), no capítulo "Em louvor da oração" lê-se: "A oração, dentro da alma comprometida em lutas na sombra, assemelha-se à lâmpada que se acende numa casa desarranjada; a presença da luz não altera a situação do ambiente desajustado, nem remove os detritos acumulados no recinto doméstico, entretanto, mostra sem alarde o serviço que se deve fazer".

Por sua vez, lê-se em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na questão 659:

"Qual o caráter geral da prece?

- A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele, é aproximar-se dele, é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer."

Um estado de espontaneidade e de gratidão pela abundância diária de bênçãos discretas ou ostensivas que nos cercam os passos evolutivos favorece uma boa sintonia.

A prece não é um ato de representação, como Jesus de Nazaré refere na boa nova (S. MATEUS, cap. VI, vv., 5 a 8).

Por outro lado, alguém pensará: "Às vezes queremos orar com um sentimento bom e não conseguimos senti-lo". O amorfismo sedimentou. Há solução para isso?

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, no capítulo XV, "Fora da caridade não há salvação", há esta conclusão experimental: "(...) uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para não se praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a negligência". As memórias afetivas próprias de cada um são poderoso dínamo de reativação dos bons sentimentos, o respaldo indispensável para uma sintonia espiritual mais feliz.

 

Prática mediúnica

 

Uma vertente experimental muito evidente decorre da prática mediúnica. Observa-se nessas reuniões de auxílio que a entrada na vida espiritual através da morte do corpo físico não revela um solavanco evolutivo. É uma continuidade, sem máscaras. Conflitos por resolver, asneiras escondidas e resultados de comportamentos autolesivos não são por si só interrompidos e evidenciam-se na plástica do corpo espiritual, o perispírito, de forma expressiva.

Essa continuidade é tão natural que, através dos médiuns, a maior parte dos Espíritos que se manifestam nesta fasquia de necessidade não sabem inicialmente sequer que já estão na vida espiritual, tomados que estão pela confusão do seu estado de alma. (1)

Em duas amostras de casos atendidos e anotados em reunião mediúnica regular de auxílio verificou-se numa delas que sabiam já estar desencarnados 67 e 152 não sabiam. Numa outra amostra, 115 não sabiam, e apenas 8 sabiam.

 

Por sua vez, em relação a stress evidenciado no início da conversa de esclarecimento através do transe mediúnico, num total de 124 casos anotados entre 4 de setembro de 2018 e 11 de junho de 2019, separámos stress derivado predominantemente de sensação de dor física (9%) e stress predominantemente psicológico (56%). Casos que emparelhavam sensação de stress físico e psicológico sem predominância de um sobre o outro deu 21%, sendo de sublinhar que houve alguns casos atendidos de Espíritos necessitados de ajuda que não ostentaram stress nem na expressão física do médium nem na voz: 14%.

Em todos esses casos de necessidade de apoio, a prece revela ser uma ferramenta de valor inestimável. Funciona como alívio de casos mais aflitivos, como porta que se abre para o reencontro de afetos, como luz valiosa para os problemas do ser.

Ainda assim, não é a prece um gesto, uma representação. Essa ferramenta incorpora leis da natureza que funcionam através da mente encarnada ou desencarnada que se posiciona na sua melhor fasquia para refletir e absorver o amor de Deus, no qual existimos em qualquer plano de vida e no qual respiramos.

Estamos ainda apenas a aprender a viver mais vezes o amor incondicional, conforme Jesus de Nazaré exemplificou.


(1) Póster “Reuniões mediúnicas; uma análise estatística”; para acessar, 
clique aqui

 

Jorge Gomes reside na cidade do Porto, Portugal.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita