A condição mental do Espírito
reencarnante
Qual a condição mental do Espírito ligado ao
feto em processo reencarnatório?
De acordo com Allan Kardec, o momento da
encarnação é acompanhado de uma perturbação muito
maior e, sobretudo, mais longa do
que a perturbação que acomete o Espírito ao
desencarnar. Esclarece Kardec que pela
morte, o
Espírito sai da escravidão; pelo nascimento,
entra para ela. [i]
Allan Kardec mostra que, no período gestacional,
o reencarnante encontra-se em estado psíquico de
perturbação que persiste até que a nova
existência se ache claramente formada. Os
prelúdios da reencarnação são uma espécie de
agonia para o Espírito. [ii]
Esclarece também que o Espírito nessa condição
não tem consciência plena de sua existência[iii],
e não desfruta completamente de suas faculdades.
A perturbação tem início com a concepção e, vai
crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu
estado é mais ou menos o de um Espírito
encarnado durante o sono do corpo. À medida que
a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se
apagam, assim como a lembrança do passado, de
que não tem mais consciência. [iv]
Mostra ainda, Kardec, que a plenitude das
faculdades do Espírito não é recobrada
imediatamente ao nascimento, pois elas se
desenvolvem gradualmente com os órgãos. Para o
reencarnante é uma nova existência; é preciso
que aprenda a servir-se de seus instrumentos. As
ideias lhe voltam pouco a pouco, como a um homem
que desperta e se encontra numa posição
diferente da que ocupava na véspera. [v]
Essas informações apresentadas por Allan Kardec
têm o caráter da revelação. Foram dados obtidos
de seus contatos com entidades desencarnadas. Em
nossos dias, muitos pesquisadores ligados às
neurociências têm-se interessado pelo estudo da
psicologia do feto e algumas evidências estão
disponíveis.
No período pré-natal, desenvolvem-se no feto as
capacidades de aprender e lembrar, bem como as
de responder aos estímulos sensoriais. O feto
responde à voz da mãe e desenvolve preferência
por ela. Estudos mostram que os fetos podem
aprender e lembrar das experiências
intrauterinas, e que reagem à voz da mãe. Os
bebês parecem capazes de utilizar informações do
tato mesmo no período pré-natal. Bebês nascidos
com apenas 28 semanas de gestação já conseguem
reconhecer e lembrar das características de
objetos colocados nas suas mãos.[vi]
Os bebês têm uma grande atração pela linguagem.
Provavelmente começam a aprendê-la dentro do
útero, porque os recém-nascidos conseguem
distinguir sentenças em sua língua materna de
sentenças em línguas estrangeiras.[vii]
Ainda não sabemos o momento exato em que a
consciência emerge, no recém-nato, mas, segundo
o neurocientista francês Stanislas Dehaene, não
será surpresa se descobrirem que a consciência
já existe na hora do nascimento. Conexões
anatômicas de longa distância já se entrecruzam
no cérebro do recém-nascido e seu trabalho de
processamento não deveria ser subestimado.
Poucas horas depois do nascimento os bebês já
exibem um comportamento sofisticado, como a
capacidade de distinguir conjuntos de objetos
com base em seu número aproximado.
Algum grau de organização cerebral se faz
necessário antes que nasça a mente consciente,
mas que grau de organização é esse? Em que
momento ele se estabelece? No feto? No
recém-nato? Após alguns meses ou anos? A mente
da criança continua sendo uma grande terra
incógnita, mas sabe-se que por volta de dois
meses de idade, seu cérebro produz uma das
marcas distintivas da consciência, a capacidade
de conservar informações na memória de trabalho
por alguns segundos. Indivíduos com poucos meses
de idade são conscientes, afirmam alguns
neurocientistas. Com 2 meses de idade o cérebro
já emite uma resposta global e consciente à
novidade – uma marca de consciência.
O pediatra sueco Hugo Lagercrantz e o
neurobiólogo francês Pierre Chamgeus propuseram
uma hipótese extremamente interessante: o
nascimento coincidiria com o primeiro acesso à
consciência. No ventre da mãe, disseram eles, o
feto é essencialmente sedado, mergulhado em um
líquido que, entre outros, inclui substâncias
como o anestésico neuroesteroide pregnenolone e
a prostaglandina D2, indutora do sono, fornecida
pela placenta. Se essas inferências
farmacológicas se confirmarem, o parto é um
acontecimento mais significativo do que
pensamos: é o autêntico nascimento de uma mente
consciente.[viii]
O pensamento proposto por Kardec e as recentes
evidências das neurociências se identificam em
alguns conceitos que parecem ser básicos em
torno da condição mental do feto (Espírito
reencarnante).
O feto não parece dispor de significativa
atividade mental consciente. Isso foi posto por
Kardec, que admitiu que o reencarnante não tem
consciência plena de sua existência, e pelos
estudos científicos, que tendem a mostrar que o
feto se encontra sob certa sedação, resultado da
exposição a certas substâncias químicas.
No entanto, isso não significa que ele esteja
absolutamente alheio à realidade que o cerca.
Existe óbvia atividade mental inconsciente,
conforme atestam estudos em torno do psiquismo
fetal.
Há dúvidas quanto à época em que tem início a
atividade mental consciente na criança
recém-nascida. Segundo Kardec, as faculdades do
Espírito não são recobradas imediatamente ao
nascimento, pois elas se desenvolvem
gradualmente com os órgãos. Os estudos de
psicologia dos bebês mostram realmente isso: a
cognição infantil evolui com a evolução do
cérebro. Aos dois meses de idade, parece existir
atividade que se pode considerar consciente, mas
numa gradação obviamente menor que no adulto.
Não pode ser afastada, todavia, a possibilidade
de que o bebê disponha de algum grau de vida
consciente já ao nascimento.
Novos estudos são necessários para que tão
intrigante assunto seja melhor avaliado.
[vi] Desenvolvimento
humano, Diane E. Papalia e Gabriela
Martorell.
[vii] É
assim que pensamos, Stanislas Dehaene.