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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

A condição mental do Espírito reencarnante


Qual a condição mental do Espírito ligado ao feto em processo reencarnatório?

De acordo com Allan Kardec, o momento da encarnação é acompanhado de uma perturbação muito maior e, sobretudo, mais longa do que a perturbação que acomete o Espírito ao desencarnar. Esclarece Kardec que pela morteo Espírito sai da escravidão; pelo nascimento, entra para ela. [i]

Allan Kardec mostra que, no período gestacional, o reencarnante encontra-se em estado psíquico de perturbação que persiste até que a nova existência se ache claramente formada. Os prelúdios da reencarnação são uma espécie de agonia para o Espírito. [ii]

Esclarece também que o Espírito nessa condição não tem consciência plena de sua existência[iii], e não desfruta completamente de suas faculdades. A perturbação tem início com a concepção e, vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos o de um Espírito encarnado durante o sono do corpo. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, de que não tem mais consciência. [iv]

Mostra ainda, Kardec, que a plenitude das faculdades do Espírito não é recobrada imediatamente ao nascimento, pois elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. Para o reencarnante é uma nova existência; é preciso que aprenda a servir-se de seus instrumentos. As ideias lhe voltam pouco a pouco, como a um homem que desperta e se encontra numa posição diferente da que ocupava na véspera. [v]

Essas informações apresentadas por Allan Kardec têm o caráter da revelação. Foram dados obtidos de seus contatos com entidades desencarnadas. Em nossos dias, muitos pesquisadores ligados às neurociências têm-se interessado pelo estudo da psicologia do feto e algumas evidências estão disponíveis.

No período pré-natal, desenvolvem-se no feto as capacidades de aprender e lembrar, bem como as de responder aos estímulos sensoriais. O feto responde à voz da mãe e desenvolve preferência por ela. Estudos mostram que os fetos podem aprender e lembrar das experiências intrauterinas, e que reagem à voz da mãe. Os bebês parecem capazes de utilizar informações do tato mesmo no período pré-natal. Bebês nascidos com apenas 28 semanas de gestação já conseguem reconhecer e lembrar das características de objetos colocados nas suas mãos.[vi]

Os bebês têm uma grande atração pela linguagem. Provavelmente começam a aprendê-la dentro do útero, porque os recém-nascidos conseguem distinguir sentenças em sua língua materna de sentenças em línguas estrangeiras.[vii]

Ainda não sabemos o momento exato em que a consciência emerge, no recém-nato, mas, segundo o neurocientista francês Stanislas Dehaene, não será surpresa se descobrirem que a consciência já existe na hora do nascimento. Conexões anatômicas de longa distância já se entrecruzam no cérebro do recém-nascido e seu trabalho de processamento não deveria ser subestimado. Poucas horas depois do nascimento os bebês já exibem um comportamento sofisticado, como a capacidade de distinguir conjuntos de objetos com base em seu número aproximado.

Algum grau de organização cerebral se faz necessário antes que nasça a mente consciente, mas que grau de organização é esse? Em que momento ele se estabelece? No feto? No recém-nato? Após alguns meses ou anos? A mente da criança continua sendo uma grande terra incógnita, mas sabe-se que por volta de dois meses de idade, seu cérebro produz uma das marcas distintivas da consciência, a capacidade de conservar informações na memória de trabalho por alguns segundos. Indivíduos com poucos meses de idade são conscientes, afirmam alguns neurocientistas. Com 2 meses de idade o cérebro já emite uma resposta global e consciente à novidade – uma marca de consciência.

O pediatra sueco Hugo Lagercrantz e o neurobiólogo francês Pierre Chamgeus propuseram uma hipótese extremamente interessante: o nascimento coincidiria com o primeiro acesso à consciência. No ventre da mãe, disseram eles, o feto é essencialmente sedado, mergulhado em um líquido que, entre outros, inclui substâncias como o anestésico neuroesteroide pregnenolone e a prostaglandina D2, indutora do sono, fornecida pela placenta. Se essas inferências farmacológicas se confirmarem, o parto é um acontecimento mais significativo do que pensamos: é o autêntico nascimento de uma mente consciente.[viii]

O pensamento proposto por Kardec e as recentes evidências das neurociências se identificam em alguns conceitos que parecem ser básicos em torno da condição mental do feto (Espírito reencarnante).

O feto não parece dispor de significativa atividade mental consciente. Isso foi posto por Kardec, que admitiu que o reencarnante não tem consciência plena de sua existência, e pelos estudos científicos, que tendem a mostrar que o feto se encontra sob certa sedação, resultado da exposição a certas substâncias químicas.

No entanto, isso não significa que ele esteja absolutamente alheio à realidade que o cerca. Existe óbvia atividade mental inconsciente, conforme atestam estudos em torno do psiquismo fetal.

Há dúvidas quanto à época em que tem início a atividade mental consciente na criança recém-nascida. Segundo Kardec, as faculdades do Espírito não são recobradas imediatamente ao nascimento, pois elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. Os estudos de psicologia dos bebês mostram realmente isso: a cognição infantil evolui com a evolução do cérebro. Aos dois meses de idade, parece existir atividade que se pode considerar consciente, mas numa gradação obviamente menor que no adulto. Não pode ser afastada, todavia, a possibilidade de que o bebê disponha de algum grau de vida consciente já ao nascimento.

Novos estudos são necessários para que tão intrigante assunto seja melhor avaliado.


 

[i] LE, item 339.

[ii] Idem

[iii] LE item 347.

[iv] LE item 351.

[v] LE item 352.

[vi] Desenvolvimento humano, Diane E. Papalia e Gabriela Martorell.

[vii] É assim que pensamos, Stanislas Dehaene.

[viii] Idem.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita