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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

ranking das religiões com base no censo de 2022


É sempre oportuno examinar as estatísticas referentes à afiliação religiosa do povo brasileiro, especialmente as que nos oferecem um panorama relativamente atualizado. Além disso, é preciso lembrar que somos conhecidos pelo nosso sincretismo religioso. Entretanto, tal característica revela-se pouco efetiva no aspecto comportamental dos indivíduos. Como demonstra a realidade, a maior parte das pessoas trafega pela vida de maneira absolutamente metódica. Ou seja, elas limitam-se a cumprir as suas obrigações básicas relativas ao trabalho, alimentação, consumo e lazer, sem maiores preocupações com as questões da alma ou sobre o que lhes reserva a vida espiritual quando nela acreditam. Assim sendo, passam-se os anos celeremente e, não raro, com eles grandes oportunidades de aperfeiçoamento na reencarnação em curso são desperdiçadas. Em suma, as questões transcendentais recebem  um exame meramente superficial quando muito.

Posto isto, os resultados do último Censo do IBGE (2022) trouxeram alguns dados surpreendentes, conforme resumo publicado pelo Portal G1. Em comparação com o Censo de 2010 houve, por exemplo, uma queda significativa do catolicismo de 65% para 56,7% (o pior resultado da história), enquanto os evangélicos avançaram de 21,6% para 26,9%. Ou seja, mais de ¼ da população brasileira é, na atualidade, seguidora de algum tipo de religião evangélica.

Igualmente surpreendente foi o aumento de 1,3 p.p. dos que afirmam não ter nenhuma religião (9,3% em 2022 contra 7,9% em 2010), isto é, ateus, agnósticos etc. Em termos relativos parece pouco, mas, na prática, significa 17,7% de crescimento, indicando claramente que o tema religião perdeu importância para uma boa parcela da população. Vale ressaltar que, em termos de faixa etária, a maior proporção de pessoas assumidamente sem religião é composta de indivíduos entre 20 e 24 anos, com 14,3%.

Esse grupo permanece atrás dos declaradamente católicos (56,7%) e evangélicos (26,9%) – disparadamente os grupos religiosos mais preferidos. Todavia, superaram os profitentes do Espiritismo (1,8%) e o das religiões classificadas de afro-brasileiras (1%). Infelizmente, o instituto não investiga as causas geradoras desse resultado. De modo geral, as religiões ajudam a criatura humana a se reencontrar com Deus, obviamente cada uma a seu modo e enfoques particulares, e abrir mão conscientemente desse meio causa espanto.

Partindo dessa premissa, podemos pelo menos inferir que os apelos religiosos não estão conseguindo ampliar a sua penetração na alma dos brasileiros como deveriam. Cabe ressaltar também que o grupo dos sem religião é predominantemente composto de homens (52%) que vivem, em sua maioria, na Região Sudeste representando cerca de 10,6% da sua população total. Em Chuí e Pedro Osório – ambas cidades do RS – esse grupo atingiu a cifra de 37,8% e 30,54%, respectivamente da população.

Digno de nota foi também o avanço dos umbandistas e candomblecistas que simplesmente triplicaram a sua participação de 0,3% em 2010 para 1% em 2022. Enquanto isso, o Espiritismo, a 3ª maior religião do país, primordialmente preferida por pessoas de 25 ou mais anos de idade com nível escolar superior, e que nos interessa analisar mais particularmente, caiu de 2,2% para 1,8% no mesmo período, ou seja, um expressivo declínio de 18,1%.

Segue daí a seguinte indagação: o que está acontecendo com o Espiritismo no Brasil? A pergunta é pertinente considerando os dificílimos tempos que presentemente vivemos a nos exigir muita fé e confiança na Providência Divina para enfrentarmos tantas vicissitudes individuais e coletivas.

O que está causando esse afastamento da população da Doutrina dos Espíritos? Afinal de contas, como corretamente explicou Allan Kardec n’O Livro dos Espíritos, “O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras; sobretudo, porque mostra que essas penas e recompensas são consequências naturais da vida terrestre e, ainda, porque, no quadro que apresenta do futuro, nada há que a razão mais exigente possa recusar”.

Em paralelo, o Espírito Emmanuel, na obra Fonte Viva (psicografia de Francisco Cândido Xavier), por sua vez, corretamente constata que “Em verdade, estudamos com o Cristo a ciência divina de ligação com o Pai, mas ainda nos achamos muito distantes da genuína comunhão com os interesses divinos”.

Como exibem as amplas evidências do comportamento humano contemporâneo – independentemente de inclinação religiosa dos indivíduos ou não -, estamos muito longe de um autêntico alinhamento às recomendações divinas. Com efeito, a criatura humana permanece enclausurada nas dependências do EU, e as suas preocupações e iniciativas convergem fundamentalmente para a sua satisfação. Embora o Espiritismo elucide cabalmente o fenômeno da reencarnação, da imortalidade do ser e as suas implicações, parece não haver ainda o desejo sincero por parte da maioria das criaturas humanas de pelo menos refletir a respeito.

No Espiritismo, em resumo, encontram-se sólidos argumentos à renovação mental dos indivíduos para que modifiquem as suas convicções, de modo a ajustá-las ao ideal divino. As suas propostas filosóficas alteram significativamente a nossa visão do mundo, como explica Emmanuel em Roteiro  (psicografia de Francisco Cândido Xavier). Em pouquíssimas palavras, pode-se afirmar que a Doutrina dos Espíritos nos desvenda o conhecimento sobre o sentido da vida.

 Voltando ao pífio resultado, evidentemente que só pesquisas criteriosas poderiam nos oferecer respostas precisas. Como não as temos, só podemos especular as causas. Nesse sentido, e ao que tudo indica, os jovens modernos aparentemente não têm interesse ou desejo de conhecer os temas transcendentais – a despeito dos esforços empreendidos pelos Centros Espíritas. Afinal de contas, o seu tempo é largamente despendido em frente das telas de celulares e computadores, além de outros interesses secundários, conforme se observa à exaustão. É também certo que as suas atividades escolares lhes demandam grande atenção, sem falar daqueles que precisam trabalhar para cooperar na manutenção da família. Seja como for, é inegável que as novas gerações estão enfrentando consideráveis desafios existenciais, mas, cumpre reconhecer, que outras também as tiveram em seu tempo.

Em que pese a probabilidade de eventuais deficiências de transmissão do conhecimento espírita, não há, definitivamente, como substituir a boa-vontade do indivíduo em estudá-lo. É o mínimo que se pode esperar. Por fim, cabe destacar que a realidade espiritual nos foi revelada, e a cada um compete a responsabilidade de conhecê-la e a ela se adaptar. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita