Especial

por Temi Mary F. Simionato

Sendas e caminhos

 

Pois João veio até vós, no caminho da justiça, e não crestes nele. Os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, vendo isso, não vos arrependestes depois, para crerem nele.” Mateus, 21:32


Foi o próprio Jesus quem assinalou a trajetória de fidelidade ao Deus único e à Lei Mosaica (Torah) por parte de João, o Batista, que foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora; símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo para que o Reino de Deus prevaleça nos corações.

Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor e da luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão ativo em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização, com o Cristo.

Com a dor que precede as poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ele recebe o bloco de mármore bruto e trabalha as asperezas para que a obra do amor surja em sua pureza divina.

Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados, vieram de Deus, que os convida pelo espírito de serviço a ministérios mais santos.

Entendemos, assim que todo processo de nossa evolução espiritual se dá por referenciais seguros, na feição de orientações e exemplos que atendam a cada etapa de formação das bases intelecto-morais em nosso mundo íntimo.

Revelação e reveladores surgem de ciclo em ciclo, desde o plano individual ao coletivo. No caso de João Batista, chamado “O Precursor”, este prepararia as bases do trabalho de Jesus.

Em todos os tempos observamos criaturas que se candidatam à fé, que anseiam benefícios do Cristo, clamam por sua paz, pela presença divina e, por vezes, após transformarem os melhores sentimentos em inquietação injusta, acabam desanimadas e vencidas.

Porém, para que sintamos a influência santificadora do Cristo, é preciso verificarmos a estrada em que temos vivido. Se queremos que Jesus santifique as nossas atividades, endireitemos os caminhos desta existência, regenerando os nossos impulsos e desfazendo as sombras que nos rodeiam. Assim, nós o sentiremos ao nosso lado com sua bênção.

Identificamos um plano universal, já que este vulto do Cristianismo nascente simboliza-nos o arremate das operações da lei de causa e efeito, através do arrependei-vos, ou seja, de tudo o que diz respeito à reencarnação. Por isso, até João, o reino divino (que é a consciência espiritual) era tomado pela violência.

Compreendendo, deste modo, que o alicerce do amor é a justiça e que a verdade é o caminho da glorificação, não prestar tributo à Lei implica falsear propósitos, fugindo ao cumprimento do dever.

As referências de Jesus acerca dos cobradores de impostos e das rendas de toda espécie no antigo Império e das irmãs que vendiam o próprio corpo nos remetem aos quadros simbólicos do dinheiro e do sexo, que respondem desta forma: O primeiro - pelo comércio, pela troca, pelo tráfico, rendendo sempre em favor de todos; o segundo - o sexo - fez nascer na Terra o lar e o nome da mãe, conforme nos ensina Emmanuel, através de Chico Xavier, no livro Pão Nosso, lição 94: “Fundamentalmente cego, o Espírito, o homem, de maneira geral, ainda não consegue descobrir aí um dos motivos mais sublimes de sua existência. Ainda mergulhados em deploráveis desvios, perguntamos pela educação sexual, exigindo-nos os programas. Semelhantes programas poderão ser úteis, todavia, apenas quando espalhar-se a santa noção da divindade do poder criador, porque, enquanto houver imundície no coração de quem analise ou de quem ensine, os métodos não passarão de coisas igualmente imundas”.

No livro Boa Nova, lição 23, o Espírito Humberto de Campos, através do médium Francisco Cândido Xavier, aclara: “O Mestre esclarece as interrogações dos discípulos: 'Amigos, acreditais porventura que o Evangelho tenha vindo ao mundo para transformar todos os homens em miseráveis mendigos? Qual a esmola maior: a que socorre as necessidades de um dia ou a que adota providências para uma vida inteira? No mundo vivem os que entesouram na Terra e os que entesouram no Céu. Os primeiros escondem suas possibilidades no cofre do egoísmo e da ambição e, por vezes, atiram uma moeda dourada ao faminto que passa procurando livrar-se de sua presença; os segundos ligam suas existências a vidas numerosas, fazendo de servos e dos auxiliares de esforços a continuação de sua própria família. Estes últimos sabem empregar o sagrado depósito de Deus e são seus mordomos fieis, à face do mundo.

Sendo a atração uma Lei do Universo, justo atender os anseios pessoais dentro do que dita a consciência'.”

É necessário que cada um tome sua cruz em busca da porta estreita da redenção, colocando acima de tudo a fidelidade a Deus e, em segundo lugar, a perfeita confiança em si mesmo.

A prostituição ou o adultério a que se refere Mateus, 21:32, se aplica a toda situação em que, por interesse pessoal ou tendencioso, o indivíduo se vende ou trai na busca do que o seduz em suas lascívias, negando o que lhe dita a consciência.

Jesus a empregou para designar o mal, o pecado e todo mau pensamento. A verdadeira pureza não está somente nos atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem o coração puro não pensa no mal.

Porém, quando a túnica das boas obras não nos agasalha o Espírito desiludido é mister vestir a pesada armadura do remorso com infinita humildade para recomeçar o amanhecer da sementeira. Jesus não permanece muito tempo com aqueles que lhe consagram hosanas, algemados aos formulários e despreocupados do verdadeiro bem; vive sempre por seus emissários onde a caridade e a educação se traduzem em ações dignificantes que objetivem o progresso e a felicidade de todos, independentemente do credo de cada um.

Todavia, a queda funciona por remédio ao mal da ignorância ou da fragilidade moral, terminando por fixar valores da consciência no sentido da criatura.

As experiências, mesmo as mais dolorosas, fundamentam a sabedoria e a virtude do ser. Entretanto, a posição de superioridade assumida por presunção e orgulho é responsável pela alienação da individualidade no reino que criou, ilusoriamente para si mesma.

O homem está incessantemente em busca da felicidade que lhe escapa sem cessar, porque a felicidade sem mescla não existe na Terra. É preciso procurar a paz do coração, única felicidade real deste mundo.

De quantos tormentos se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem e que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico porque olha abaixo de si, em lugar de olhar acima, e dessa forma sempre vê pessoas que têm menos ainda. É calmo - e a calma no meio das tempestades não será felicidade?

Vale ressaltar a partir da advertência de Jesus sobre a salvação dos viciosos entre publicanos e prostitutas que a falsidade ideológica regida pelo orgulho e pela vaidade responde pela real derrocada da alma.

Aquele que realmente desperta para o bem e deseja colaborar na felicidade comum, põe os atos muito acima das palavras; cultiva o discernimento e afasta de si qualquer pensamento agressivo ou ocioso, compreendendo que a obra de regeneração de cada um requer a ação do tempo e o concurso direto de quantos já formam a vanguarda do progresso moral.

A rampa evolutiva e a luta regeneradora apresentam subidas e fases de magnífica expressão. Cada homem recebe o sol e o ar segundo a altitude em que se coloque.

Somente aqueles que dispõem de suficiente abnegação para esquecer os agravos que se lhe façam, prosseguindo infatigáveis no cultivo do bem aos semelhantes, guardarão consigo o poder de governar os corações.

Melhorar para progredir, eis a senha da evolução.

Se nos afeiçoamos aos ideais do aprimoramento e do progresso, não nos afastemos do trabalho que renova, do estudo que aperfeiçoa, do perdão que ilumina, do sacrifício que enobrece e da bondade que santifica.

Lembremos que o Senhor nos concede tudo aquilo de que necessitamos para comungar-lhe a glória divina. Entretanto, não nos esqueçamos de que as dádivas do Criador se fixam nos seres da criação, conforme a capacidade de cada um.

Longo é o caminho, difícil a jornada, estreita a porta, mas a fé remove os obstáculos. Para isso é preciso ter a certeza plena de que não estamos sós. 

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Editora IDE - Araras – SP.

XAVIER, C. Francisco - pelo Espírito Humberto de Campos - Estante da Vida - Editora FEB - Brasília- DF, capítulo 9.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita