“Pois João veio até vós, no caminho da justiça, e não
crestes nele. Os publicanos e as prostitutas creram
nele. Vós, porém, vendo isso, não vos arrependestes
depois, para crerem nele.” Mateus, 21:32
Foi o próprio Jesus quem assinalou a trajetória de
fidelidade ao Deus único e à Lei Mosaica (Torah) por
parte de João, o Batista, que foi a voz clamante do
deserto. Operário da primeira hora; símbolo rude da
verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo para
que o Reino de Deus prevaleça nos corações.
Exprimindo a austera disciplina que antecede a
espontaneidade do amor e da luta para que se desfaçam as
sombras do caminho, João é o primeiro sinal do cristão
ativo em guerra com as próprias imperfeições do seu
mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o
santuário de sua realização, com o Cristo.
Com a dor que precede as poderosas manifestações da luz
no íntimo dos corações, ele recebe o bloco de mármore
bruto e trabalha as asperezas para que a obra do amor
surja em sua pureza divina.
Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas
possibilidades procedem do Pai amigo e sábio, que as
oportunidades de edificação na Terra, com a excelência
das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres
amados, vieram de Deus, que os convida pelo espírito de
serviço a ministérios mais santos.
Entendemos, assim que todo processo de nossa evolução
espiritual se dá por referenciais seguros, na feição de
orientações e exemplos que atendam a cada etapa de
formação das bases intelecto-morais em nosso mundo
íntimo.
Revelação e reveladores surgem de ciclo em ciclo, desde
o plano individual ao coletivo. No caso de João Batista,
chamado “O Precursor”, este prepararia as bases do
trabalho de Jesus.
Em todos os tempos observamos criaturas que se
candidatam à fé, que anseiam benefícios do Cristo,
clamam por sua paz, pela presença divina e, por vezes,
após transformarem os melhores sentimentos em
inquietação injusta, acabam desanimadas e vencidas.
Porém, para que sintamos a influência santificadora do
Cristo, é preciso verificarmos a estrada em que temos
vivido. Se queremos que Jesus santifique as nossas
atividades, endireitemos os caminhos desta existência,
regenerando os nossos impulsos e desfazendo as sombras
que nos rodeiam. Assim, nós o sentiremos ao nosso lado
com sua bênção.
Identificamos um plano universal, já que este vulto do
Cristianismo nascente simboliza-nos o arremate das
operações da lei de causa e efeito, através do
arrependei-vos, ou seja, de tudo o que diz respeito à
reencarnação. Por isso, até João, o reino divino (que é
a consciência espiritual) era tomado pela violência.
Compreendendo, deste modo, que o alicerce do amor é a
justiça e que a verdade é o caminho da glorificação, não
prestar tributo à Lei implica falsear propósitos,
fugindo ao cumprimento do dever.
As referências de Jesus acerca dos cobradores de
impostos e das rendas de toda espécie no antigo Império
e das irmãs que vendiam o próprio corpo nos remetem aos
quadros simbólicos do dinheiro e do sexo, que respondem
desta forma: O primeiro - pelo comércio, pela troca,
pelo tráfico, rendendo sempre em favor de todos; o
segundo - o sexo - fez nascer na Terra o lar e o nome da
mãe, conforme nos ensina Emmanuel, através de Chico
Xavier, no livro Pão Nosso, lição 94:
“Fundamentalmente cego, o Espírito, o homem, de maneira
geral, ainda não consegue descobrir aí um dos motivos
mais sublimes de sua existência. Ainda mergulhados em
deploráveis desvios, perguntamos pela educação sexual,
exigindo-nos os programas. Semelhantes programas poderão
ser úteis, todavia, apenas quando espalhar-se a santa
noção da divindade do poder criador, porque, enquanto
houver imundície no coração de quem analise ou de quem
ensine, os métodos não passarão de coisas igualmente
imundas”.
No livro Boa Nova, lição 23, o Espírito Humberto
de Campos, através do médium Francisco Cândido Xavier,
aclara: “O Mestre esclarece as interrogações dos
discípulos: 'Amigos, acreditais porventura que o
Evangelho tenha vindo ao mundo para transformar todos os
homens em miseráveis mendigos? Qual a esmola maior: a
que socorre as necessidades de um dia ou a que adota
providências para uma vida inteira? No mundo vivem os
que entesouram na Terra e os que entesouram no Céu. Os
primeiros escondem suas possibilidades no cofre do
egoísmo e da ambição e, por vezes, atiram uma moeda
dourada ao faminto que passa procurando livrar-se de sua
presença; os segundos ligam suas existências a vidas
numerosas, fazendo de servos e dos auxiliares de
esforços a continuação de sua própria família. Estes
últimos sabem empregar o sagrado depósito de Deus e são
seus mordomos fieis, à face do mundo.
Sendo a atração uma Lei do Universo, justo atender os
anseios pessoais dentro do que dita a consciência'.”
É necessário que cada um tome sua cruz em busca da porta
estreita da redenção, colocando acima de tudo a
fidelidade a Deus e, em segundo lugar, a perfeita
confiança em si mesmo.
A prostituição ou o adultério a que se refere Mateus,
21:32, se aplica a toda situação em que, por interesse
pessoal ou tendencioso, o indivíduo se vende ou trai na
busca do que o seduz em suas lascívias, negando o que
lhe dita a consciência.
Jesus a empregou para designar o mal, o pecado e todo
mau pensamento. A verdadeira pureza não está somente nos
atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem o
coração puro não pensa no mal.
Porém, quando a túnica das boas obras não nos agasalha o
Espírito desiludido é mister vestir a pesada armadura do
remorso com infinita humildade para recomeçar o
amanhecer da sementeira. Jesus não permanece muito tempo
com aqueles que lhe consagram hosanas, algemados aos
formulários e despreocupados do verdadeiro bem; vive
sempre por seus emissários onde a caridade e a educação
se traduzem em ações dignificantes que objetivem o
progresso e a felicidade de todos, independentemente do
credo de cada um.
Todavia, a queda funciona por remédio ao mal da
ignorância ou da fragilidade moral, terminando por fixar
valores da consciência no sentido da criatura.
As experiências, mesmo as mais dolorosas, fundamentam a
sabedoria e a virtude do ser. Entretanto, a posição de
superioridade assumida por presunção e orgulho é
responsável pela alienação da individualidade no reino
que criou, ilusoriamente para si mesma.
O homem está incessantemente em busca da felicidade que
lhe escapa sem cessar, porque a felicidade sem mescla
não existe na Terra. É preciso procurar a paz do
coração, única felicidade real deste mundo.
De quantos tormentos se poupa aquele que sabe se
contentar com o que tem e que vê sem inveja o que não
tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está
sempre rico porque olha abaixo de si, em lugar de olhar
acima, e dessa forma sempre vê pessoas que têm menos
ainda. É calmo - e a calma no meio das tempestades não
será felicidade?
Vale ressaltar a partir da advertência de Jesus sobre a
salvação dos viciosos entre publicanos e prostitutas que
a falsidade ideológica regida pelo orgulho e pela
vaidade responde pela real derrocada da alma.
Aquele que realmente desperta para o bem e deseja
colaborar na felicidade comum, põe os atos muito acima
das palavras; cultiva o discernimento e afasta de si
qualquer pensamento agressivo ou ocioso, compreendendo
que a obra de regeneração de cada um requer a ação do
tempo e o concurso direto de quantos já formam a
vanguarda do progresso moral.
A rampa evolutiva e a luta regeneradora apresentam
subidas e fases de magnífica expressão. Cada homem
recebe o sol e o ar segundo a altitude em que se
coloque.
Somente aqueles que dispõem de suficiente abnegação para
esquecer os agravos que se lhe façam, prosseguindo
infatigáveis no cultivo do bem aos semelhantes,
guardarão consigo o poder de governar os corações.
Melhorar para progredir, eis a senha da evolução.
Se nos afeiçoamos aos ideais do aprimoramento e do
progresso, não nos afastemos do trabalho que renova, do
estudo que aperfeiçoa, do perdão que ilumina, do
sacrifício que enobrece e da bondade que santifica.
Lembremos que o Senhor nos concede tudo aquilo de que
necessitamos para comungar-lhe a glória divina.
Entretanto, não nos esqueçamos de que as dádivas do
Criador se fixam nos seres da criação, conforme a
capacidade de cada um.
Longo é o caminho, difícil a jornada, estreita a porta,
mas a fé remove os obstáculos. Para isso é preciso ter a
certeza plena de que não estamos sós.
Bibliografia:
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o
Espiritismo - Editora IDE - Araras – SP.
XAVIER, C. Francisco - pelo Espírito
Humberto de Campos - Estante da Vida - Editora
FEB - Brasília- DF, capítulo 9.