Autoperdão
Muito se fala de perdão, em especial a respeito da sua
importância para a vida e a evolução moral e espiritual
dos seres humanos.
Perdoar não é algo fácil, tanto que o Mestre Jesus
deixou para os momentos derradeiros na cruz a última
lição de perdão em sua missão na Terra.
O amor e o perdão são fundamentais para pacificar almas
em conflitos.
O Cristo ensinou que devemos nos reconciliar com o
inimigo enquanto estamos com ele no caminho para não
sermos algemados juntos.
Em muitos casos, as algemas de ressentimentos e
vinganças são seguidas de processos obsessivos até que
ocorra o perdão, a reconciliação e a reparação.
Perdoar os inimigos faz galgar patamares sublimes de
evolução.
Mas, há também outro tipo de perdão difícil de praticar:
o autoperdão.
Situações da vida
Vive-se as experiências terrenas com acertos e erros,
como parte do processo de evolução por meio de ensino,
aprendizado e aperfeiçoamento.
Nesse processo, acumulam-se atributos e recursos que
fazem progredir, ou imperfeições e vícios que nos
estacionam diante de erros, ilusões e equívocos.
Ao pensar sobre erros, ilusões e equívocos, ficamos
perturbados pelos seus efeitos, em que algumas reações
conduzem para caminhos de sofrimentos, adotando posturas
de desamor, decepções e descrença em nós mesmos.
O uso do livre-arbítrio
Deus concede o livre-arbítrio ao ser humano para
construir o seu destino, sendo responsável por suas
consequências, sejam elas boas ou ruins.
O livre-arbítrio e a liberdade de escolha, entre o bem e
o mal, desenvolvem-se à medida que o Espírito vai
progredindo em pluralidade de existências.
Quanto mais progride, melhor faz o uso do livre-arbítrio
em suas escolhas e decisões na vida.
Sem o livre-arbítrio, o ser humano seria como uma
máquina.
Sentimento de culpa
Quando uma pessoa comete erro na vida, ao reconhecê-lo,
pode se sentir culpada pelo que fez, em especial se
causou mal a alguém, iludiu-se ou violou valores,
crenças, expectativas e padrões morais.
Pode, ainda, sentir-se culpada independentemente de ter
feito algo errado, como uma predisposição pela baixa
autoestima.
O sentimento de culpa é complexo e multifacetado em
resposta a variedade de circunstâncias, envolvendo
avaliação própria de que algo está errado.
Remorso e arrependimento
Pelo remorso e pelo arrependimento, a pessoa sente-se
aflita com o sofrimento moral provocado pela consciência
por ter agido mal, podendo desencadear doenças ou
distúrbios, afetando a sua saúde mental.
Esses sentimentos podem despertar o desejo de
corrigir-se ou o de ficar preso àquele fato do passado a
ponto de não viver o presente, impedindo de realizar
mudanças positivas na vida.
O arrependimento é o primeiro passo para a regeneração
no sentido de reparação, fazendo o bem àquele a quem fez
o mal.
Autoperdão
O autoperdão é ato de amor para consigo, de
autoaceitação e de autocompaixão, reconhecendo os seus
erros e que todos os cometem, melhorando a autoestima, a
percepção e a avaliação de si mesmo, incluindo valores,
virtudes, defeitos e imperfeições.
É a prática de se perdoar diante dos erros, que fazem
parte das experiências de vida, e permitir-se aprender
com eles, querendo corrigir-se, em vez de sofrer com o
sentimento de culpa, abrindo caminho para a libertação
da alma e seguir em frente.
Alguns fatores que dificultam a prática do autoperdão
O ego e o orgulho feridos são respostas às ações que
abalam a autoestima e a autoimagem, podendo levar a
reações defensivas, agressivas ou retraídas.
Essa situação, frequentemente desencadeada por
experiência negativa, pode gerar sentimentos de
desvalorização e vulnerabilidade, impactando a forma
como a pessoa se percebe e interage com o mundo. Se
reconhecer que errou, poderá não se perdoar.
O perfeccionismo caracteriza-se por expectativas
elevadas, com senso de justiça implacável e regras
extremas, tornando-se inflexível
e irredutível, e criando hostilidade contra si mesmo e
para com os outros, quando erra.
Entendendo-se infalível, exige de si capacidades e
habilidades que ainda não possui.
Por esse sentimento, a pessoa não se perdoa, impactando
a saúde mental, podendo levar à ansiedade, insegurança,
baixa autoestima, medo de decepcionar e diferentes
transtornos.
A baixa autoestima refere-se à percepção negativa de si
mesmo, em que se sente inadequada e não merecedora de
perdão.
É visão distorcida de si mesma, valorizando falhas e
diminuindo qualidades.
A sensação da falta de valor impacta a saúde emocional,
o desempenho e a qualidade de vida, fazendo sentir-se
inferior e não digna de perdão.
Pessoa presa ao passado tem dificuldade de se afastar
das experiências, dos sentimentos e das memórias ruins,
retendo-os com ideias fixas.
São eventos traumáticos do passado que deixam marcas de
culpa, tornando difícil o autoperdão por medo de novas
experiências e relacionamentos.
Nesse caso, a pessoa vive em função do passado, perdendo
oportunidades renovadoras do presente, sem construir o
seu futuro.
Reconstruindo a vida
Nas quedas, há lições a serem aprendidas.
Importante levantar-se, corrigir-se e seguir em frente.
Levantar-se, corrigir-se e seguir em frente tem que
atuar no seu íntimo, penetrando na raiz do mal, para se
reerguer moral e espiritualmente, colocando-se no
caminho do restabelecimento para a cura.
Pelo autodescobrimento, vai-se ao encontro do seu
interior desconhecido, penetrando, explorando e
desvendando a sua personalidade que deve progredir moral
e espiritualmente.
Por meio do autoconhecimento, começa-se a entender as
suas características, atitudes, comportamentos,
virtudes, vícios, inclinações, sentimentos e variados
domínios da sua realidade.
A conscientização de si mesmo permite vivenciar,
experimentar e compreender o seu interior e o mundo em
que vive, dentro de uma relação do “eu” com o ambiente
em sociedade, para realizar avaliação crítica do que é
moralmente certo ou errado.
À medida que se vai conhecendo, domina-se as
potencialidades da alma, controlando os pensamentos, a
vontade e os desejos.
Essa conscientização é indutora de progresso, permitindo
identificar e reconhecer os recursos latentes e o que
precisa melhorar para evoluir.
A consciência é o grande julgador íntimo, tendo por base
as experiências.
A consciência julga, condena ou aprova.
A condenação traz sentimento de culpa e distúrbios.
A aprovação traz paz de Espírito que permite seguir em
frente.
É preciso trabalhar a mente para o autoperdão,
aceitando-se como é, com autocompaixão, praticando o
autoconhecimento e a reforma íntima.
Busque coragem para enfrentar a si mesmo com autoamor.
Conscientizar-se de que todos cometem erros.
Entender que erros e experiências ruins trazem lições e
oportunidades para aprender, reajustar, aperfeiçoar e
crescer.
Ao perdoar a si mesmo, conscientemente, começa-se a
corrigir os próprios erros, afastando-se de suas
amarras.
Sem o peso da culpa, consegue-se focar na reorientação
de rumo.
O autoperdão não é ignorar os próprios erros, mas
reconhecê-los e assumir as responsabilidades por eles,
aprendendo a crescer de forma construtiva em um processo
de cura moral e espiritual.
Identificar que todas as pessoas se encontram em
processo de evolução, aprendendo com suas experiências
para continuar tentando e acertar.
Abandone o perfeccionismo e aprenda a aceitar os erros
para se libertar do rigor dos julgamentos para promover
a saúde emocional.
A busca da perfeição faz parte do processo evolutivo em
pluralidade de existência, em que provas e expiações são
oportunidades de aprendizado, depuração e progresso
moral e espiritual, experimentando transformações e
benefícios pela manifestação da justiça e misericórdia
divinas.
A cada existência, o Espírito dá um passo no caminho do
progresso.
Para seguir adiante, é crucial aprender a lidar com o
passado, não o esquecendo, mas dando-lhe um lugar
adequado na sua vida.
Reconheça os erros do passado, aceitando-os sem
autopunição, procurando as lições que poderão ajudar na
construção de um futuro melhor, evitando repeti-los e
realizando escolhas e decisões mais acertadas.
Autoperdão é ato de amor, permitindo-se ser amado e
amar como passo fundamental para uma vida mais feliz.
A capacidade de amar é uma das maiores riquezas da
experiência humana, proporcionando conexão, bem-estar
emocional e realização pessoal.
O amor a si mesmo é de suma importância para a prática
do amor ao próximo, pois quem não se ama dificilmente
conseguirá cultuar o amor fraternal.
É preciso resolver as aflições internas que produzem
desamor e abala a autoestima, pois a alma em conflito
interno não enxergará as necessidades de seus
semelhantes para a prática da caridade que salva.
O autoperdão é essencial para superar os erros e
prosseguir em direção da construção do seu destino,
promovendo crescimento moral e espiritual.
Perdoar a si mesmo, sem se abater pela culpa, é passo
para a libertação da alma em direção de uma vida mais
alinhada aos propósitos divinos.
A vontade de mudar é sentimento que impulsiona pessoas a
saírem da situação atual para buscar outra direção, cuja
real transformação precisará ser consciente para gerar
novos condicionamentos e estabelecer diferentes
atitudes.
Por fim, uma última mensagem. O perdão e o autoperdão
são atos de amor.
“... o amor cobrirá a multidão de pecados” (1ª
Epístola de Pedro, 4: 8).
A prática do verdadeiro amor conduz à reparação dos
erros e à evolução moral e espiritual.
O amor corrige rumo, traz paz de Espírito, faz superar
provas e expiações, ameniza as ações da lei de causa e
efeito, cobre multidão de pecados e promove o
crescimento espiritual.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA
CARLOS, Antônio (Espírito); na
psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. Reconciliação. 34ª
Edição. São Paulo/SP: Petit, 2014.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
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