Especial

por Americo Domingos Nunes Filho

Desigualdade social à luz do Espiritismo

 

Um tema que sempre foi muito debatido, em muitos setores da sociedade, diz respeito ao problema da dessemelhança social; contudo, para o profitente espírita, baseado no arsenal doutrinário vindo a lume dos instrutores espirituais a Allan Kardec e dos ensinamentos extraídos da Bíblia, se torna mais fácil o seu entendimento.

Acima de tudo é essencial salientar que a Terra se apresenta como um mundo de provas e expiações e o egoísmo predominante é o responsável pelas injustiças observadas, desde que o amor em ação ainda se apresenta como conquista a ser exercida, apesar da presença bendita e encorajadora da religião, cada vez mais exaltada pela ciência, estimulando o homem à conquista de si mesmo.

O magnânimo codificador da doutrina espírita arguiu os benfeitores do além se a igualdade absoluta das riquezas é possível e se já existiu alguma vez? De pronto, o esclarecimento espiritual se fez presente: “Não, não é possível. A diversidade das faculdades e caracteres opõe-se a isso” (1). Portanto, no Espiritismo não há base para a possibilidade de haver equidade coletiva, o que, certamente, viceja em mundos mais adiantados, estâncias felizes no universo, onde os seus habitantes, de antemão, se apresentam como seres extremamente evoluídos e, assim sendo, não há a presença do desiquilíbrio comunitário. Os que lá vivem já se despojaram da tirania material e o bem comum é a meta a ser seguida, seguramente uma sociedade exemplar sem desigualdades e com todos tendo os mesmos direitos.

É importante esse esclarecimento, pois que mentes desavisadas pretendem hastear a bandeira da equivalência comunitária, em nosso orbe, onde seus habitantes são tão atrasados espiritualmente. Aliás, nem mesmo os que pregam a igualdade geral revelam ser indivíduos, realmente, interessados no bem-estar geral. Pelas suas atitudes, pela ideologia empregada acarretando consequências infelizes, é impossível dar crédito às suas argumentações, decerto, sem qualquer valor.

Pois bem, as pessoas devaneadoras que acreditam na isonomia social podem até se identificar como praticantes da doutrina espírita. Todavia, o próprio Kardec as acorda, esclarecendo-as ou mesmo desmascarando-as, quando se adentram na doutrina espírita, vestindo máscaras que aparentam ser inofensivas ovelhas, assim como, na realidade, são lobos disfarçados, tentando infiltração, nas fileiras de o consolador prometido por Jesus. Por conseguinte, apesar do viés ideológico de muitos indivíduos, acreditando que a justiça social é praticável, o codificador adverte que “há homens, no entanto, que acreditam estar aí o remédio para os males da sociedade” e pergunta a espiritualidade superior: - Qual o seu parecer a respeito? A resposta bem precisa, surge: - São sistemáticos ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade que almejam seria logo rompida pela força das circunstâncias. Combatam o egoísmo, pois aí está a chaga de sua sociedade e não corram atrás de quimeras (2).

Logo, os companheiros que se intitulam como partidários espíritas e que pregam a possibilidade da regularidade absoluta das riquezas, assim procedem, desrespeitando os vigorosos princípios da “terceira revelação divina à humanidade”; todavia, nunca devem ser impedidos de declarar suas opiniões, necessitando sempre vigorar o direito da livre expressão do pensamento, revelando sua posição pessoal.

É imperioso o exercício da faculdade liberta da informação; entretanto, o depoimento deverá ser pautado, através de opinião própria, nunca se mostrando em nome da doutrina espírita. Importante que, ao invés de uma recomendação utópica, deveriam, exatamente os que dizem seguir os princípios codificados por Kardec, se ater no evangelho do Cristo segundo o Espiritismo, ensinando que “o egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta (...) o egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem (...). Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens” (3).

Ao contrário de um discurso ilusório, sigam as palavras do espírito de Emmanuel (Paris, 1861), inserido no “Evangelho segundo o Espiritismo: “Cabem-vos a vós (...) expulsar da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações” (4).

Diante do exposto, se encontra equivocado sobremaneira quem prega a possibilidade de igualdade social em um mundo tão conturbado como o nosso, onde o individualismo predomina. Contudo, o Marxismo, acreditando no estabelecimento de uma possível paridade social, é uma doutrina política, econômica e filosófica desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, sempre lembrada como a que providencia a base para o comunismo como uma ideologia política e econômica, inspirando diversas revoluções, sendo artífice da luta de classes, armada, com o intuito irreal de “uma nova ordem social, mais justa, totalmente equânime, através de uma chamada Revolução Socialista”.

Infelizmente, a história revela consequentemente a morte de milhões de pessoas e a causa de tudo isso é o desejo equivocado de nivelamento de uma sociedade constituída de seres diferentes, sob todos os pontos de vista. Rechaçando essa ideologia materialista bem perniciosa, o espírito de Erasto, em sua “Epístola aos Espíritas Lioneses”, foi bem conciso e pertinente, orientando: “Acabo de pronunciar a palavra igualitária. Julgo útil nela deter-me um pouco, porque não vimos pregar, em vosso meio, utopias impraticáveis, pois, ao contrário, repelimos energicamente tudo quanto pareça ligar-se às prescrições de um comunismo antissocial. Antes de tudo, somos essencialmente propagandistas da liberdade individual, indispensável ao desenvolvimento dos encarnados. Consequentemente, somos inimigos declarados de tudo quanto se aproxime dessas legislações conventuais, que aniquilam brutalmente os indivíduos”.

Continuando, o insigne espírito de Erasto enfatiza: “Embora me dirija a um auditório em parte composto de artífices e proletários, sei que suas consciências, esclarecidas pelas radiações da verdade espírita, já repeliram todo contato com as teorias antissociais dadas com apoio da palavra igualdade. Seja como for, creio dever restituir a ela sua significação cristã, conforme aquele que, dizendo: ‘Dai a César o que de César’, a explicou” (5)

Paulatinamente, seguindo as vias do “nascer de novo”, a excelsa reencarnação, o egocentrismo será completamente vencido e a justiça social será conquistada, paulatinamente, porquanto o homem, renovado e sinalizado com o Cristo, será o grande e destemido vencedor de si mesmo.

Importante registrar que, no planeta Terra, a dessemelhança social é consequência da desigualdade das capacidades e inclinações de seus habitantes e “O Livro dos Espíritos” esclarece que “Deus criou iguais todos os espíritos, mas cada um destes vive há mais ou menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de aquisições. A diferença entre eles está na diversidade dos graus da experiência alcançada e da vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí o se aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas” (6).

O Antigo Testamento afirma que “nunca deixará de haver pobres na terra; é por esse motivo que te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, tanto para o pobre como para o necessitado de tua terra!” (7). O Mestre, comprovando ser a Terra, um Mundo de Provas e Expiações, em relação aos miseráveis, declarou que eles sempre estariam conosco (8)

Fica muito claro que a igualdade social se torna impossível, desde que é inexequível distribuir tudo em partes iguais para os habitantes terrenos, a não ser que todas as pessoas vivenciassem o mesmo nível espiritual em todos os campos de entendimento, o que se apresenta totalmente infactível.

Logo, a pobreza é resultante do amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios, daqueles que muito possuem. Estes, em grande maioria, à guisa de montarem seus bens em abundância, alimentam as chagas sociais, desestimulam todos os programas de melhoria socioeconômica e cultural, como também exploram o semelhante visando proveito material.

É claro que todos os que assim procedem terão de colher, em próxima vivência, o que agora semeiam, desde que egoisticamente criaram a extrema riqueza e, consequentemente a extrema pobreza. A “Lei de Causa e Efeito”, através do “nascer de novo”, pode aproveitar a miséria criada pelo homem, rico e insensível, para que este retorne, sofrendo o rigor da fome que ele mesmo engendrou, à custa do seu egoísmo, em experiência física transata. Contudo, de forma alguma, pode-se apresentar a reencarnação de espíritos, uns no infortúnio, outros na opulência, como pretexto para acobertamento de chagas sociais, já que o ser acossado pela pobreza deve lutar e superar a própria opressão. Sem esse processo dialético, não haveria crescimento espiritual, nem tampouco progresso social.

O ser encarnado na adversidade precisa se elevar de sua condição pelo seu próprio esforço (a própria opressão leva aos oprimidos a superarem-na); entretanto, necessita certamente da ajuda alheia, até que melhore sua situação, o que não é, em absoluto, a derrogação da “Lei de Causa e Efeito” e, sim, o uso do livre-arbítrio em harmonia com a lei do progresso. A espiritualidade diz: “Numa sociedade organizada, segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome” (9). Jesus ensinou: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (10).

Realmente, a doutrina espírita é o consolador prometido por Jesus que veio para reviver o cristianismo e ensinar agora o que o Mestre não poderia ministrar, na época que viveu, devido às condições evolutivas físico-espirituais ainda bem incipientes da Humanidade.

Em verdade, o Espiritismo vem esclarecer muitos pontos ainda obscuros, os quais a filosofia e a ciência social ainda não conseguem visualizar satisfatoriamente.

 

Bibliografia:

01- Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, questão 811;

02- Idem, questão 811(a);

03-Idem, O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XI: 11;

04-Idem;

05-Idem, Revista Espírita de 1861, outubro;

06- Idem, O Livro dos Espíritos, questão 804;

07- Deuteronômio, XV:11;

08- Evangelho de João, XII:8;

09- Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, questão 930;

10- Evangelho de Mateus, VII:12. 

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita