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Natural de João Pessoa (PB), onde reside, João
Alves de Araújo Junior (foto) é bacharel
em Filosofia, mestre em Ciências das Religiões e
servidor federal na UFPB. Vincula-se à Federação
Espírita Paraibana (FEPB), em que atua como
Diretor do Departamento de Estudos
Sistematizados e Coordenador do Núcleo de Estudo
e Pesquisa do Evangelho (NEPE). Entrevistamo-lo
sobre sua vivência e experiência acadêmica no
campo da filosofia.
Como conheceu o Espiritismo?
Conheci o Espiritismo aos 14 anos de idade, por
causa da minha mãe. Ela se tornou espírita e
então passei a frequentar um centro na cidade de
Patos-PB.
Dentre os princípios doutrinários do
Espiritismo, qual deles lhe chama mais atenção?
por quê?
O princípio doutrinário que mais me chama
atenção é a evolução do Espírito imortal. Pensar
que somos herdeiros de nós mesmos e construtores
de nosso destino é muito consolador e
libertador, ao tempo que nos coloca em mãos
muita responsabilidade, pois o processo inteiro
depende de nossa vontade e harmonia às Leis do
universo. A ideia de permanente perfectibilidade
nos livra sempre de uma beatitude tediosa, uma
vez que o Infinito passa a ser nosso horizonte e
a evolução nos leva sempre a patamares de maior
intensidade de vida e de potencial criativo.
Como surgiu seu interesse pela Filosofia?
Meu interesse pela Filosofia se deu por volta
dos 16 anos, ainda no Ensino Médio, quando
estava pesquisando os possíveis cursos que eu
poderia fazer na graduação. Quando li a
definição e as características do curso de
Filosofia, fiquei fascinado e com muito
entusiasmo para estudar os temas filosóficos,
especialmente os metafísicos. A partir disso,
passei a ler obras clássicas de Filosofia e
então decidi fazer o vestibular para o curso na
graduação.
Que relação pode ser estabelecida entre a
Filosofia e o Espiritismo?
O próprio Allan Kardec diz que o Espiritismo é
uma Filosofia Espiritualista, informação que
aparece já na contracapa de O Livro dos
Espíritos. Pelo fato de a Filosofia tratar
dos temas universais e fundamentais do ser
humano, como sua origem, sua natureza e seu
destino, liga-se diretamente ao Espiritismo,
pois que ele é a ciência que trata do princípio
espiritual, sua origem e seu destino. Além
disso, temos o aspecto fortemente filosófico do
Espiritismo, quando, a partir dos fenômenos
mediúnicos, elabora-se uma série de indagações
existenciais sobre o indivíduo, a sociedade e a
natureza como um todo.
Com graduação em Filosofia, como vê a Filosofia
Espírita propriamente dita.
Dentre as várias correntes de pensamento
filosófico presentes na academia, a Filosofia
Espírita se enquadra no conjunto das correntes
espiritualistas. Em certo sentido, pode-se dizer
que a Filosofia Espírita tem características
platônicas, uma vez que centra a sua discussão
na alma e na sua imortalidade. Platão e
sobretudo os neoplatônicos tocaram em questões
que são muito caras e essenciais ao Espiritismo.
Daí, o próprio Allan Kardec considerar o
pensamento de Sócrates e de Platão como
precursor do Espiritismo.
Como enxerga a influência de Jesus na vida
humana?
Jesus é o maior referencial de ética e de amor.
Não há outro ser que se iguale a Ele nesse
sentido. Sem Jesus, ainda estaríamos em tempos
de barbárie. O testemunho de amor e paz que
Jesus ofereceu ao mundo foi tamanho a ponto de
Ele dar a sua própria vida em sacrifício, em
pleno regime de fidelidade aos valores divinos,
atestando sua comunhão irrestrita a Deus, na sua
condição de Messias.
E nesse contexto, como vê o trabalho produzido
por Allan Kardec?
Pela aliança entre a ciência e a religião, o
trabalho de Kardec se destaca em relação a todos
os outros que empreenderam esforços para
demonstrar a imortalidade da alma e a ação de
Deus no universo. Penso que o gênio de Kardec
foi o único que conseguiu, a contento,
demonstrar de forma irrefutável que o Espírito
existe e é a essência do ser humano.
O que gostaria de relatar sobre seu vínculo com
a Federação Espírita de seu estado?
Meu vínculo com a Federação Espírita Paraibana
(FEPB) começou na juventude, por volta dos 20
anos de idade. Participei da juventude, na
evangelização, e depois passei a assumir tarefas
de expositor e de coordenador de grupos de
estudos. O trabalho federativo sempre me chamou
atenção pelo aspecto de unificação e de ver o
Brasil como sendo, de fato, o coração do mundo e
a pátria do Evangelho. Esse sentimento de
"missão nacional" está presente entre mim desde
os primeiros contatos com a organização do
trabalho federativo.
De sua vivência espírita, o que tem sido mais
marcante?
O que mais marca meu coração na vivência
espírita é a oportunidade de fazer novos amigos
e desabrochar o sentimento da verdadeira
fraternidade, pelo amor do Cristo. É uma
vivência de comunidade de fé, sobretudo. Embora
o aspecto filosófico tenha sido a "isca" que me
atraiu ao Espiritismo, foi no sentimento
religioso e de fé que encontrei o meu propósito.
Especialmente, destaco o trabalho no NEPE
(Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho) desde
2013. Por meio do NEPE, pude ampliar e
aprofundar meus conhecimentos sobre a vida de
Jesus e dos primeiros cristãos. E isso é de
fundamental importância para o desenvolvimento
do sentimento da fé genuína.
Com seu mestrado em Ciências das Religiões, como
situa o Espiritismo, academicamente?
O Espiritismo é estudado na academia sob
aspectos diversos, por sua própria natureza ser
tríplice: ciência, filosofia e religião. Não há
como enquadrar em apenas uma categoria. A
depender do olhar do pesquisador, o Espiritismo
será situado mais cientificamente,
filosoficamente ou religiosamente.
Suas palavras finais.
Quero agradecer pela oportunidade de relatar
minha experiência na Doutrina Espírita e de
poder contribuir para sua divulgação de modo a
atingir mais corações que anseiam pelo amor do
Cristo e pelo esclarecimento de Kardec.

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