Seria coincidência a
redução de espíritas no censo após o desencarne de Chico
Xavier?
No país em que
nasceu o Mineiro do Século XX, o espírita Chico
Xavier, observamos no censo de 2022 um movimento que já
era sentido nas Casas Espíritas.
Muita coisa mudou após 23 anos do desencarne de Chico
Xavier, a começar pela desunião entre Espíritas.
Parece que o Chico Xavier não apenas era um médium missionário,
como também um aglutinador capaz de agregar pessoas de
diversas crenças em torno dos ensinamentos do Evangelho
de Jesus à luz da Doutrina Espírita. O poder de
arregimentar recursos era, sobretudo, espiritual. Chico
Xavier foi e continua sendo a maior referência da
divulgação doutrinária no Brasil. Desculpem-nos os
"anti-Chico Xavier". Acho até melhor esses não lerem o
texto, que não é "chiquista", mas que reconhece a
grandeza do trabalho desse missionário.
Não
se trata de uma “ode” ao Chico e sim uma reflexão em
torno de uma possível “debandada” de simpatizantes das
fieiras espíritas. Possível debandada que estamos
conectando com o desencarne de Chico Xavier em 2002, ou
seja, não é uma “debandada” que se iniciou agora. É um
processo que vem acontecendo gradativamente. Não
obstante, é só observar a “rotatividade” de tarefeiros
nas Casas Espíritas.
Nas
Casas Espíritas menores, os tarefeiros são os mesmos há
décadas. É possível até interpretar que existe a Casa
Espírita apenas para esses trabalhadores porque não
agregam novos e o número de frequentadores diminuiu
consideravelmente, embora haja alguma reação em alguns
dias da semana em que ocorrem reuniões públicas –
sobretudo em Casas Espíritas maiores.
A
ausência do Chico Xavier no movimento espírita deflagrou
uma percepção que só não enxerga quem se sente
confortável com o que está acontecendo: o movimento
espírita perdeu sua doçura. O Amor quase não
é percebido em meio a linguagens técnicas, exóticas e
adaptadas de outras áreas do conhecimento que não
permitem que o frequentador se aprofunde na essência
doutrinária (que é educadora e consoladora)
e seja obrigado a manter-se por mais de uma hora ouvindo
a acidez daqueles que assumem a tribuna fazendo do
Espiritismo “profissão de fé”.
Palestrantes arrogantes (travestidos de "humildes"),
ilustrando conteúdos doutrinários de forma personalista,
tentando impor o Evangelho da maneira dele, com
tons imperativos quando, na realidade, o convite do
Evangelho à luz da Doutrina Espírita é para esclarecer,
fazer luz para iluminar os caminhos daqueles que, assim
como nós outros, tateiam na escuridão da ignorância.
Não
se trata apenas de carisma. Existem pessoas
conhecidas e desconhecidas, tão carismáticas quanto o
Chico. Mas o Chico exalava um amor maduro. O
perfume do carisma toca a face, o amor maduro do Chico
penetra corações.
Em
meio à pandemia da Covid-19 e uma campanha eleitoral
desastrosa no Brasil (para ficar apenas aqui), a
desunião dos espíritas talvez tenha atingido o ápice,
ou, como dizemos aqui em Minas, “a coisa escancarou de
vez" nessa época. (Mineiro tem um vocabulário próprio.
Quando faltam adjetivos e outros recursos, palavras como
“trem”, “coisa”, “negócio” e “uai” ocupam espaço de
forma que quase todos compreendam do que se trata...!)
Diversos trabalhadores espíritas assumiram posturas
separatistas, extremistas (independente do viés
político) e isso foi notado pelos frequentadores, seja
por meio dos buchichos, pelos corredores, ou até mesmo
por meio de campanhas urdidas por palestrantes famosos.
Para
toda ação há uma reação. Para todo efeito há uma causa.
O resultado está aí: o “coração do mundo e a pátria do
Evangelho” perdeu o coração há 23 anos e não
conseguiu recuperar-se.
A
máxima que se divulgou durante muito tempo no movimento
espírita organizado é tão atual quanto necessária,
contudo parece que era movida pelo dinheiro porque, uma
vez sem o “vil metal”, as campanhas perderam poder: a
justiça foi personalizada em Moisés; o Amor foi
personalizado em Jesus; a Doutrina Espírita é resultado
de um trabalho em conjunto, em que as lideranças
são servidoras, ou seja, elas não existem para
serem capas de revistas e jornais e sim para estarem na
base promovendo a assistência e o desenvolvimento da
equipe e daqueles que buscam a Casa Espírita.
Todavia, o que se vê é o contrário, salvo honrosas e
queridas exceções em que nem se conhecem o presidente e
os diretores e essas pessoas se misturam conosco nas
atividades cotidianas da Casa Espírita sem que se
perceba um visgo de vaidade e prepotência.
Quer
dizer então que o Movimento Espírita nunca mais será o
mesmo? “Nunca” é muito forte, entretanto, se houver algo
tão sublime quanto conviver no mesmo orbe com um
Espírito como o Chico Xavier, penso que deve demorar a
acontecer novamente.
O
que precisa ser feito? Bom, se tivéssemos a resposta,
como alguns ousados espíritas, seria provável que não
estivéssemos “amassando barro” na atualidade, contudo
ousamos dizer que é preciso amadurecer o movimento de
divulgação do Espiritismo de forma a conseguirmos
colocar o archote para o alto e unir os pontos de luz
para que haja harmonia na diversidade, respeito nas
diferenças e amor. Muito amor, que é o que
o Evangelho de Jesus nos convida a sentir: o amor
genuíno.