Uma linda
revelação de
Emmanuel
Há cenas na
literatura
espírita que não
se apagam jamais
da memória de
quem as lê,
porque tocam, ao
mesmo tempo, as
fibras mais
íntimas da alma
e os mais altos
ideais do
espírito. Assim
é o episódio
registrado no
romance Paulo
e Estêvão,
de Emmanuel, em
que o apóstolo
dos gentios,
depois de um
reencontro
amargo com o pai
em Tarso,
recolhe-se em
lágrimas à
solidão da
natureza e
adormece sob o
silêncio das
estrelas. Seu
corpo descansa
entre as pedras,
mas sua alma se
eleva a uma
esfera mais
alta – chamada
por ele de
“terceiro céu”,
em suas
epístolas. Ali,
ele reencontra,
num raro e
comovente
instante de
comunhão
espiritual, os
dois afetos mais
profundos de sua
existência:
Estêvão, o
mártir da fé
cristã, e
Abigail, a noiva
de quem o
destino o
separou, mas que
o amor eterno
voltou a reunir.
Nessa
experiência que
supera o tempo e
a morte, Paulo
não é julgado. É
acolhido. Não é
acusado. É
compreendido.
Abigail, agora
em sua nova
existência de
alma iluminada,
torna-se a voz
que traduz para
ele os códigos
silenciosos do
Evangelho. Suas
respostas, de
uma simplicidade
que emociona,
não se limitam a
consolar o amigo
em crise: elas o
orientam, o
guiam, o
despertam. A
cada pergunta
ansiosa do
apóstolo – como
servir a Jesus,
como vencer a
frieza dos
homens, como
lidar com o
desânimo ou com
a própria
sombra –,
ela responde com
verbos curtos e
luminosos. E
ali, naquele
breve colóquio
que parece
condensar
séculos de
aprendizado,
Paulo se refaz
em lágrimas e
fé.
Inspirado por
essa cena
comovente,
escrevemos o
poema que
ilustra este
texto,
procurando
rememorar
aqueles momentos
de intensa luz.
A narrativa
poética procura
interpretar esse
encontro entre
os dois planos
de vida,
traduzindo em
linguagem lírica
as respostas da
amada ao coração
contrito do
apóstolo. Sua
leitura nos
convida à
reflexão sobre
os liames que
continuam a
entrelaçar as
almas após a
morte e sobre a
pedagogia
divina, que
nunca abandona
aqueles que,
arrependidos e
sinceros, se
abrem à
renovação
interior.
PAULO, ESTÊVÃO E
ABIGAIL
Margens do
Tauro. Cilícia.
Arrebatado em
visão,
São Paulo frui a
delícia
Duma nova
dimensão...
Nessa esfera
cristalina
– Terceiro
céu, intuiu –,
Sente a presença
divina
De Estêvão e
Abigail.
Fugazes fluem os
momentos...
Por isso,
presto, procura
Alinhavar
pensamentos,
Questões que
causam-lhe
agrura.
E pergunta,
imerso em luz:
– Como
conquistar a
chama
Da compreensão
de Jesus?
E a noiva
querida: – Ama!...
– E
a virtude que
ilumina?
Como proceder,
sem falha,
Nessa aquisição
divina?
Ela responde: – Trabalha!...
– Que
providência
adotar
Quando o
desânimo impera
E a tudo quer
destroçar?
E Abigail,
doce: – Espera!...
– Quanto
à indiferença
humana?
Como
harmonizá-la à
boa
Luz do
Evangelho, que
irmana?
Sussurra a amada: – Perdoa!...
Amor, Trabalho,
Esperança
E Perdão... O
Apóstolo ora...
Banha o
coração-criança
Na paz do
Senhor, e
chora...
Quando extravasa
a emoção
De seu
sentimento a
Deus,
A noiva do
coração
Esboça um gesto
de adeus...
Abigail,
suavemente,
Aperta-lhe as
mãos, agora,
E seu vulto
evanescente
Desfaz-se em
flocos de
aurora...
Mário Frigéri é
poeta, escritor,
autor e youtuber
com a mente e o
coração voltados
para o esplendor
do Evangelho e
da Doutrina
Espírita.
Campinas-SP.