O egoísmo é a velha roupa inútil conservada no lar do
orgulho.
“Aos que quiserem pleitear contigo, e tirar-te o
vestido, larga-lhes também a capa.” -
Jesus. (Mt., 5:40.)
Segundo os nobres mentores espirituais Joanna de Ângelis e
André Luiz “(...)
o egoísmo é sombra em nosso sentimento em forma de
vaidade e tóxico em nosso raciocínio na feição de
orgulho; é veneno em nosso coração sob a máscara do
ciúme e fogo em nossa alma, sob a capa de agressiva
revolta.”
Alerta-nos Joanna de
Ângelis1: “(...)
enquanto o egoísmo estiver no governo dos grupos humanos
espalhando suas torpes sementes, em forma de presunção,
de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do
próximo, a humanidade provará a ardência dos desesperos
coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos
severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e
ao sacrifício. Se desejar, portanto, servir Àquele que é
de todos o Senhor e Mestre, continua vencendo a
dificuldade maior que reside no teu íntimo – o egoísmo
–, alma do orgulho e seiva dos outros males”.
Emmanuel e Pascal afirmam categoricamente:
“(...) O egoísmo, chaga da humanidade, tem que
desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao
Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender
na hierarquia dos mundos.
O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os
verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir
suas forças, sua coragem... Digo: coragem, porque dela
muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo,
do que para vencer os outros. O egoísmo é a negação da
caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à
felicidade dos homens.
(...) Ora, sem a caridade não haverá descanso para a
sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o
egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida
será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto,
uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as
mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados
laços da família merecerão respeito”.
Complementa Léon Denis:
“(...) o egoísmo é irmão do orgulho e procede das mesmas
causas. É uma das mais terríveis enfermidades da alma, é
o maior obstáculo ao melhoramento social. Por si só ele
neutraliza e torna estéreis quase todos os esforços que
o homem faz para atingir o bem. Por isso, a preocupação
constante de todos os amigos do progresso, de todos os
servidores da justiça deve ser a de combatê-lo.
O egoísmo é a persistência em nós desse individualismo
feroz que caracteriza o animal, como vestígio do estado
de inferioridade pelo qual todos já passamos. Mas, antes
de tudo, o homem é um ser social. Está destinado a viver
com os seus semelhantes; nada pode fazer sem o concurso
destes. Abandonado a si mesmo, ficaria impotente para
satisfazer suas necessidades, para desenvolver suas
qualidades.
Depois de Deus, é à sociedade que ele deve todos os
benefícios da existência, todos os proventos da
civilização. De tudo aproveita, mas precisamente esse
gozo, essa participação dos frutos da obra comum lhe
impõe também o dever de cooperar nela. Estreita
solidariedade liga-o a esta sociedade, como parte
integrante e mutuante. Permanecer inativo, improdutivo,
inútil, quando todos trabalham, seria ultraje à lei
moral e quase um roubo; seria o mesmo que lucrar com o
trabalho alheio ou recusar restituir um empréstimo que
se tomou.
Como parte integrante da sociedade, o que o atingir
também atinge a todos. É por essa compreensão dos laços
sociais, da lei de solidariedade que se mede o egoísmo
que está em nós. Aquele que souber viver em seus
semelhantes e por seus semelhantes não temerá os
ataques do egoísmo. Nada fará sem primeiro saber se
aquilo que produz é bom ou mau para os que o rodeiam,
sem indagar, com antecedência, se os seus atos são
prejudiciais ou proveitosos à sociedade que integra. Se
parecerem vantajosos para si só e prejudiciais para os
outros, sabe que em realidade eles são maus para todos,
e por isso se abstém escrupulosamente.
A avareza é uma das mais repugnantes formas do egoísmo,
pois demonstra a baixeza da alma que, monopolizando as
riquezas necessárias ao bem comum, nem mesmo sabe delas
aproveitar-se. Nenhum sentimento elevado, coisa alguma
do que constitui a nobreza da criatura pode germinar na
alma de um avarento. A inveja e a cupidez que o
atormentam sentenciam-lhe uma existência penosa, um
futuro mais miserável ainda. Nada lhe iguala o
desespero, quando vê, de além-túmulo, seus tesouros
serem repartidos ou dispersados. Vós que procurais a paz
do coração, fugi desse mal repugnante e desprezível.
Mas, não caiais no excesso contrário. Não desperdiceis
coisa alguma. Sabei usar de vossos recursos com critério
e moderação.
O egoísmo traz em si o seu próprio castigo. O egoísta só
vê a sua pessoa no mundo, é indiferente a tudo o que lhe
for estranho. Por isso são cheias de aborrecimento as
horas de sua vida. Encontra o vácuo por toda parte, na
existência terrestre assim como depois da morte, porque,
homens ou Espíritos, todos lhe fogem.
Aquele que, pelo contrário, aproveitando-se do trabalho
já encetado por outros, sabe cooperar, na medida de suas
forças, para a obra social, e vive em comunhão com seus
semelhantes, fazendo-os compartilhar de suas faculdades
e de seus bens, ou espalhando ao seu redor tudo o que
tem de bom em si, esse se sente mais feliz visto que
está consciente de ter obedecido à lei e sabe que é um
membro útil à sociedade. Interessa-lhe tudo o que se
realiza no mundo, tudo o que é grande e belo
sensibiliza-o e comove; sua alma vibra em harmonia com
todos os espíritos esclarecidos e generosos; o
aborrecimento e o desânimo não têm nele acesso.
Nosso papel não é, pois, o da abstenção, mas, sim, o de
pugnar continuamente pela causa do bem e da verdade.
Não é sentado nem deitado que nos cumpre contemplar o
espetáculo da vida humana em suas perpétuas renovações:
é de pé, como campeão ou como soldado, pronto a
participar de todos os grandes trabalhos, a penetrar em
novos caminhos, a fecundar o patrimônio comum da
humanidade.
Embora se encontre em todas as classes sociais, o
egoísmo é mais apanágio do rico que do pobre.
Muitíssimas vezes a prosperidade esfria o coração; no
entanto, o infortúnio, fazendo conhecer o peso da dor,
ensina-nos a compartilhar dos males alheios. O rico
saberá ao menos a preço de que trabalhos, de que duros
labores se obtêm as mil coisas necessárias ao seu luxo?
Jamais nos sentemos a uma mesa bem servida sem primeiro
pensar naqueles que passam fome, pois tal pensamento
tornar-nos-á sóbrios, comedidos em apetites e gostos.
(...) Não haverá paz entre os homens, não haverá segurança,
felicidade social enquanto o egoísmo não for vencido,
enquanto não desaparecerem os privilégios, essas perniciosas
desigualdades, a fim de cada um participar, pela
medida de seus méritos e de seu trabalho, do bem-estar
de todos. Não pode haver paz nem harmonia sem justiça.
Enquanto o egoísmo de uns se nutrir dos sofrimentos
e das lágrimas de outros, enquanto as exigências do eu sufocarem
a voz do dever, o ódio perpetuar-se-á sobre a Terra, as
lutas de interesse dividirão os ânimos, tempestades
surgirão no seio das sociedades.
Graças, porém, ao conhecimento do nosso futuro, a ideia
de solidariedade acabará por prevalecer. A lei da
reencarnação, a necessidade de renascer em condições
modestas, servirão como aguilhões a estimular o egoísta.
Diante dessas perspectivas, o sentimento exagerado da
personalidade atenuar-se-á para dar lugar a uma noção
mais exata da situação e papel do homem no Universo.
Sabendo-nos ligados a todas as almas, solidários no seu
adiantamento e felicidade, interessar-nos-emos com ardor
pela sua condição, pelos seus progressos, pelos seus
trabalhos.
E, à medida que esse sentimento se estender pelo mundo,
as instituições, as relações sociais melhorarão, a
fraternidade, essa palavra repetida banalmente por
tantos lábios, descerá aos corações e tornar-se-á uma
realidade. Então nos sentiremos viver nos outros, para
fruir de suas alegrias e sofrer de seus males. Não mais
haverá queixume sem eco, uma só dor sem consolação. A
grande família humana, forte, pacífica e unida,
adiantar-se-á com passo rápido para os seus belos
destinos.”
Segundo os Benfeitores Espirituais,
“existe uma arma de última geração, ao nosso alcance,
cujo efeito é letal para o egoísmo: chama-se “PIEDADE.”
Ela, (a piedade), é a virtude que mais nos aproxima dos
anjos; é a irmã da Caridade! É a virtude por excelência,
a que em toda a Sua vida praticou o Divino Messias e
ensinou na Sua Doutrina santa e tão sublime.
O sentimento mais apropriado a fazer que progridais,
domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe
vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do
próximo, é a PIEDADE! Ela é o melancólico, mas celeste
precursor da caridade, primeira das virtudes que a tem
por irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece”.
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KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap.
XI, itens 11 e 12.
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KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. 125.ed. Rio [de Janeiro]: FEB,
2006, cap. XIII, item 17.