Especial

por Rogério Coelho

Egoísmo & cia.

 

O egoísmo é a velha roupa inútil conservada no lar do orgulho.

 

“Aos que quiserem pleitear contigo, e tirar-te o vestido, larga-lhes também a capa.” - Jesus. (Mt., 5:40.)


Segundo os nobres mentores espirituais Joanna de Ângelis e André Luiz[1] “(...) o egoísmo é sombra em nosso sentimento em forma de vaidade e tóxico em nosso raciocínio na feição de orgulho; é veneno em nosso coração sob a máscara do ciúme e fogo em nossa alma, sob a capa de agressiva revolta.”

Alerta-nos Joanna de Ângelis1“(...) enquanto o egoísmo estiver no governo dos grupos humanos espalhando suas torpes sementes, em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício. Se desejar, portanto, servir Àquele que é de todos o Senhor e Mestre, continua vencendo a dificuldade maior que reside no teu íntimo – o egoísmo –, alma do orgulho e seiva dos outros males”.

Emmanuel e Pascal afirmam categoricamente[2]: “(...) O egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na hierarquia dos mundos.

O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem... Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. O egoísmo é a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.

(...) Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito”.

Complementa Léon Denis[3]: “(...) o egoísmo é irmão do orgulho e procede das mesmas causas. É uma das mais terríveis enfermidades da alma, é o maior obstáculo ao melhoramento social.  Por si só ele neutraliza e torna estéreis quase todos os esforços que o homem faz para atingir o bem. Por isso, a preocupação constante de todos os amigos do progresso, de todos os servidores da justiça deve ser a de combatê-lo.

O egoísmo é a persistência em nós desse individua­lismo feroz que caracteriza o animal, como vestígio do estado de inferioridade pelo qual todos já passamos. Mas, antes de tudo, o homem é um ser social. Está destinado a viver com os seus semelhantes; nada pode fazer sem o concurso destes. Abandonado a si mesmo, ficaria impo­tente para satisfazer suas necessidades, para desenvolver suas qualidades.

Depois de Deus, é à sociedade que ele deve todos os benefícios da existência, todos os proventos da civiliza­ção. De tudo aproveita, mas precisamente esse gozo, essa participação dos frutos da obra comum lhe impõe tam­bém o dever de cooperar nela. Estreita solidariedade liga-o a esta sociedade, como parte integrante e mutuante. Permanecer inativo, improdutivo, inútil, quando todos trabalham, seria ultraje à lei moral e quase um roubo; seria o mesmo que lucrar com o trabalho alheio ou re­cusar restituir um empréstimo que se tomou.

Como parte integrante da sociedade, o que o atingir também atinge a todos. É por essa compreensão dos laços sociais, da lei de solidariedade que se mede o egoísmo que está em nós. Aquele que souber viver em seus semelhan­tes e por seus semelhantes não temerá os ataques do egoísmo. Nada fará sem primeiro saber se aquilo que pro­duz é bom ou mau para os que o rodeiam, sem indagar, com antecedência, se os seus atos são prejudiciais ou pro­veitosos à sociedade que integra. Se parecerem van­tajosos para si só e prejudiciais para os outros, sabe que em realidade eles são maus para todos, e por isso se abstém escrupulosamente.

A avareza é uma das mais repugnantes formas do egoísmo, pois demonstra a baixeza da alma que, mono­polizando as riquezas necessárias ao bem comum, nem mesmo sabe delas aproveitar-se.  Nenhum sentimento elevado, coisa alguma do que constitui a nobreza da criatura pode germinar na alma de um avarento. A inveja e a cupidez que o atormentam sentenciam-lhe uma existência penosa, um futuro mais miserável ainda. Nada lhe iguala o desespero, quando vê, de além-túmulo, seus tesouros serem repartidos ou dispersados. Vós que procurais a paz do coração, fugi desse mal repugnante e desprezível. Mas, não caiais no excesso con­trário. Não desperdiceis coisa alguma. Sabei usar de vossos recursos com critério e moderação.

O egoísmo traz em si o seu próprio castigo. O egoísta só vê a sua pessoa no mundo, é indiferente a tudo o que lhe for estranho. Por isso são cheias de aborrecimento as horas de sua vida. Encontra o vácuo por toda parte, na existência terrestre assim como depois da morte, porque, homens ou Espíritos, todos lhe fogem.

Aquele que, pelo contrário, aproveitando-se do traba­lho já encetado por outros, sabe cooperar, na medida de suas forças, para a obra social, e vive em comunhão com seus semelhantes, fazendo-os compartilhar de suas fa­culdades e de seus bens, ou espalhando ao seu redor tudo o que tem de bom em si, esse se sente mais feliz visto que está consciente de ter obedecido à lei e sabe que é um mem­bro útil à sociedade.  Interessa-lhe tudo o que se rea­liza no mundo, tudo o que é grande e belo sensibiliza-o e comove; sua alma vibra em harmonia com todos os espíritos esclarecidos e generosos; o aborrecimento e o desânimo não têm nele acesso.

Nosso papel não é, pois, o da abstenção, mas, sim, o de pugnar continuamente pela causa do bem e da ver­dade. Não é sentado nem deitado que nos cumpre con­templar o espetáculo da vida humana em suas perpétuas renovações: é de pé, como campeão ou como soldado, pronto a participar de todos os grandes trabalhos, a pe­netrar em novos caminhos, a fecundar o patrimônio co­mum da humanidade.

Embora se encontre em todas as classes sociais, o egoísmo é mais apanágio do rico que do pobre. Mui­tíssimas vezes a prosperidade esfria o coração; no en­tanto, o infortúnio, fazendo conhecer o peso da dor, ensina-nos a compartilhar dos males alheios. O rico sa­berá ao menos a preço de que trabalhos, de que duros labores se obtêm as mil coisas necessárias ao seu luxo?

Jamais nos sentemos a uma mesa bem servida sem primeiro pensar naqueles que passam fome, pois tal pensamento tornar-nos-á sóbrios, comedidos em apetites e gostos.

(...) Não haverá paz entre os homens, não haverá segu­rança, felicidade social enquanto o egoísmo não for ven­cido, enquanto não desaparecerem os privilégios, essas perniciosas desigualdades, a fim de cada um participar, pela medida de seus méritos e de seu trabalho, do bem-estar de todos.  Não pode haver paz nem harmonia sem justiça. Enquanto o egoísmo de uns se nutrir dos sofri­mentos e das lágrimas de outros, enquanto as exigências do eu sufocarem a voz do dever, o ódio perpetuar-se-á sobre a Terra, as lutas de interesse dividirão os ânimos, tempestades surgirão no seio das sociedades.

Graças, porém, ao conhecimento do nosso futuro, a ideia de solidariedade acabará por prevalecer.  A lei da reencarnação, a necessidade de renascer em condições modestas, servirão como aguilhões a estimular o egoísta. Diante dessas perspectivas, o sentimento exagerado da personalidade atenuar-se-á para dar lugar a uma noção mais exata da situação e papel do homem no Universo. Sabendo-nos ligados a todas as almas, solidários no seu adiantamento e felicidade, interessar-nos-emos com ardor pela sua condição, pelos seus progressos, pelos seus tra­balhos.

E, à medida que esse sentimento se estender pelo mundo, as instituições, as relações sociais melhorarão, a fraternidade, essa palavra repetida banalmente por tantos lábios, descerá aos corações e tornar-se-á uma realidade. Então nos sentiremos viver nos outros, para fruir de suas alegrias e sofrer de seus males.  Não mais haverá queixume sem eco, uma só dor sem consolação. A grande família humana, forte, pacífica e unida, adiantar-se-á com passo rápido para os seus belos destinos.”     

Segundo os Benfeitores Espirituais[4], “existe uma arma de última geração, ao nosso alcance, cujo efeito é letal para o egoísmo: chama-se “PIEDADE.” Ela, (a piedade), é a virtude que mais nos aproxima dos anjos; é a irmã da Caridade! É a virtude por excelência, a que em toda a Sua vida praticou o Divino Messias e ensinou na Sua Doutrina santa e tão sublime.

O sentimento mais apropriado a fazer que progridais, domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a PIEDADE!  Ela é o melancólico, mas celeste precursor da caridade, primeira das virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece”.


 


[1] - Livros: Cartas do coração; Após a tempestade e Messe de amor, psicografia: Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco.

[2] - KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. XI, itens 11 e 12.

[3] - DENIS, Léon. Depois da morte. 23.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2004, 5ª parte, cap. XLVI, p. 268-272.

[4] - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 125.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. XIII, item 17.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita