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por Bruno Abreu

 

Os conflitos


Por que existem conflitos na humanidade?

Nós olhamos e identificamo-nos com as diferenças. Um dos exemplos mais fáceis de entendermos é o nacionalismo. Somos de países diferentes, e como tal achamos que somos diferentes uns dos outros, batendo no peito a nossa nacionalidade. Os países foram feitos pelos homens e a maioria, há pouco tempo.

Ter uma nacionalidade é ter nascido em determinado ponto do globo, que para uma criança pouco ou nenhum valor tem, mas para o adulto tem um valor mental, um significado psicológico.

Ao sermos de determinado país, somos educados com determinada cultura, criando uma parte muito forte de nosso caráter. Olhamos para as outras pessoas, como se fossem diferentes de nós, mas a diferença está na estrutura psicológica, que forma o caráter, as crenças, os desejos, os certos e os errados.

        Imagine que bate com a cabeça e que tem uma amnesia temporária, perdendo a memória. É como se voltasse a nascer, sem conhecimentos, sem caráter, sem estrutura psicológica.

Se tivesse que aprender tudo de novo, seria uma pessoa diferente, não passaria as mesmas experiências. Isto é o que acontece, cada vez que nascemos. Nascemos em sítios diferentes e captamos a cultura desta zona. Certamente, já tivemos outras religiões, outras culturas muito diferentes, mesmo que tenhamos nascido na mesma zona, pois o tempo de séculos passados, fazem com que a cultura seja muito diferente.

O que nos faz entrar em conflito com os outros?

As culturas diferentes, as religiões diferentes, estas tem sido uma das grandes motivações aos conflitos no planeta, os clubes diferentes, os bairros diferentes, o conhecimento diferente. Já viu alguém em conflitos por semelhança de opiniões?

Hoje, entramos em conflito por sermos de uma nacionalidade, de uma religião, de um idealismo, ontem entramos por outra nacionalidade, religião ou idealismo. Onde está tudo isto que nos movimenta?

Se respondeu na cabeça, na parte psíquica, na mente, são tudo respostas aceitáveis.

Por que será que nos maltratamos tanto por uma construção psíquica?

Sabemos que vamos morrer, não me refiro ao Espírito, mas ao corpo e a entidade que nele habita. Muitos confundem o Espírito com esta entidade.

Nós não somos a entidade da vida anterior, possivelmente esta era muito diferente da que somos hoje, se calhar até entrou em conflito com aqueles que seguem a cultura que seguimos hoje, bastava ser de uma cultura diferente.

Imagine que na outra vida foi muçulmano, quem eram os infiéis?

Achamos 80 anos muito, quando temos 20, mas as reencarnações passam rapidamente. Se numas temos uma opinião, noutras temos outras, ou acredita que nasce no meio de uma cultura diferente e terá as mesmas opiniões?

Se neste momento o melhore país para si é o seu, na próxima vida, qual será?

As ideias e crenças que nos forma, que nos caracterizam, são pelas quais lutamos e entramos em conflito, com os outros. Elas são temporárias, como vento. Numa mesma vida, mudam ao longo desta. Somos diferentes em cada década, por que as defendemos com unhas e dentes, ao ponto de perdermos amigos e familiares?

Hoje somos o que somos, amanhã poderemos ser quem atacamos.

Será que não existe mais nada para além das crenças de cada vida?

Claro que existe, senão o que passaria de uma para outra. Já se perguntou o que é?

Se vai dar a resposta: eu, está um pouco equivocado, pois o eu morre, o mais tardar no novo nascimento.

Tudo o que falamos em cima, são estruturas mentais que constroem cada personagem novo em cada reencarnação. São construídas pelas tendências anteriores, influência do perispírito, educação dos Pais, das escolas, influência da cultura onde nasceu, onde viveu e todas as experiências que passou. Isto de uma forma muito generalizada.

Mesmo antes de acumularmos toda esta informação, já existimos. Jesus até afirma que é nosso o Reino de Deus, nesta idade, mostrando que com o crescimento e a imposição de ideias com a idade, nos afasta deste Reino, por causa dos conflitos.

Podemos existir sem estas formações mentais?

Claro que podemos, existimos todos os dias e continuaremos a existir de vida em vida. O que existe? Parece uma advinha.

Feche os olhos e imagine noutra vida, onde está num país longínquo, com uma cultura daquele local, onde não tem acesso ao cristianismo. O que sobraria de si, da pessoa que é agora.

Não diga nada, algo sobra, mas não pense que é o que está ligado a educação, a língua ou ao meio social.

Feche os olhos como se não houvesse passado nem futuro, como se não houvesse lembrança nem imaginação. Pode parecer um vazio, mas é algo.

Tudo o resto, as construções psíquicas, está acumulado depois deste “vazio”, que na sabedoria oriental, dizem que é o nada que se transforma em tudo.

Neste estado não existe ódio, pois o ódio é fruto do pensamento que é filho do conhecimento da reencarnação. Pode ter alguém ao seu lado ou próximo que odiou na vida anterior, para que se pudessem reaproximar, como não se lembra, possivelmente, ama.

Neste estado não existe egoísmo, pois é filho do pensamento, nem raiva, nem ira, nem orgulho, pois o orgulho é filho dos pensamentos sobre o personagem temporário, nem infelicidade.

Não existindo nada disto, podemos afirmar que existe um grau de felicidade? Maior ou menor, pois não existe infelicidade.

Não existindo raiva, ódio ou ira, podemos afirmar que existe um grau de amor?

Parece-nos estranho e sem valor, porque o pensamento só dá valor ao pensamento, mas é um facto que continuamos a existir e que existe paz, felicidade e amor, nem que seja num grau mínimo.

Qual a primeira regra da oração?

Recolhei-vos aos vossos aposentos e orai em silêncio (silêncio mental, pois os aposentos já são silenciosos), que nosso Pai em silêncio escuta. O silêncio que é a vibração de Deus.

Por que preferimos teimar nos conflitos? Porque a sensação de estarmos certos, com razão e impormos a nossa vontade, é mais saboroso para nós, que o silêncio, que é a vibração de Deus.

Queremos ser grandes na Terra, o que faz de nós pequenos no Reino do Céu.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita