Entrevista

por Orson Peter Carrara

Nosso entrevistado fala de sua vivência espírita de quase 50 anos


 
Nosso entrevistado, Vail Jorge de Toledo (foto), nasceu em Paraguaçu Paulista (SP), onde também reside. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, vincula-se ao Centro Espírita Paz, na mesma cidade, como membro do Conselho Doutrinário. Nesta entrevista ele nos fala sobre atuação nas lides espíritas e o que pensa sobre a atualidade do movimento espírita em nosso país.


Como e quando se tornou espírita?

Em meados de 1977, em uma “visita” à casa de meus pais, local a que ia diariamente, encontrei-me com uma pessoa a quem tenho profunda admiração até os dias atuais, que conversou comigo sobre Espiritismo. Essa conversa despertou em mim a oportunidade de um novo “olhar” religioso, além do catolicismo, muito presente na família. Assim começamos a nos encontrar semanalmente para falarmos sobre essa doutrina, totalmente desconhecida para mim. Muitos questionamentos foram esclarecidos não só nos diálogos como nos livros da Codificação; assim abracei os estudos até os dias atuais.

O que mais admira no contexto do conhecimento doutrinário espírita?

A realidade da vida expondo que a prática dos conhecimentos que o Cristo nos deixou, se postos em prática, nos levará ao verdadeiro progresso espiritual. Que somos passado e presente, mas com a certeza de que seremos remetidos a um futuro permeados pelas nossas conquistas do aprendizado e da prática dos ensinamentos em prol do progresso e do bem em relação ao nosso próximo.

De todas estas décadas de atuação espírita, o que lhe vem à mente?

Que nenhuma ovelha do Pai será deixada para trás. Que existem as portas largas e estreitas, mas cada um, segundo seu livre-arbítrio, precisa engajar-se nos ensinamentos e em sua prática. Que precisamos a cada dia deixar de ser o “homem velho” que vive de hipóteses, mas espelhando-se em um futuro melhor e desenvolvendo sempre a fé no Criador, a moral e a ética em nossa família e na nossa comunidade. A esperança de um mundo melhor e a certeza de que cada um de nós pode contribuir para isso.

Faça uma pequena narrativa da instituição espírita a que se vincula.

A casa espírita que frequento, Centro Espírita Paz, tem reuniões semanais às 2ª feiras com estudos dos livros da codificação e atualmente com os de André Luiz; às 4ª feiras temos estudos de algumas questões d’O Livro dos Espíritos, do Evangelho e passes aos presentes, além da disposição para conversação pessoal e particular a quem procura esclarecimentos. Às 5ª feiras, reuniões mediúnicas privativas e aos domingos divulgação da doutrina com palestras públicas e administração de passes. 

Situe para o leitor a cidade onde reside, em termos demográficos e também sobre as instituições espíritas existentes na cidade.

Paraguaçu Paulista é uma cidade pequena com 40 mil habitantes aproximadamente. Sua localização é bem estratégica, ligando-se facilmente com Assis (SP), Marília (SP) e Presidente Prudente (SP). Existem, atualmente, duas casas espíritas kardecistas: o Centro Espírita Paz, fundado em abril de 1975, localizado na Rua Princesa Izabel, 349 – Centro, próximo do Tiro de Guerra; e o Centro Espírita Guilherme Pradomais antigo, com 81 anos de fundação, localizado na Rua Vereador Antonio Nascimento Neto 69 - Centro, próximo da estação rodoviária.

Fale-nos sobre as dificuldades enfrentadas no início pelos dois centros espíritas da cidade.

Como nas demais cidades, com posicionamentos de líderes políticos ligados a outros conceitos religiosos, ambos os centros tiveram, no período de suas fundações, dificuldades de aceitação pela sociedade. Mas a fibra, a vontade e a certeza da necessidade de abrir novos entendimentos rompeu-se o lacre das muitas dificuldades e preconceitos antigos. Valentes cidadãos firmes em seus propósitos conseguiram manter essas tradicionais casas de oração abertas no firme propósito de estudar e divulgar a Doutrina Cristã sob um novo prisma, motivo de orgulho e agradecimentos.

Qual a sua observação sobre o movimento espírita nacional?

Nem tudo são flores!... O Espiritismo no Brasil é uma prática religiosa e filosófica que tem uma longa história e uma grande influência na cultura nacional. O Brasil é um dos países com maior número de adeptos no mundo, mas também enfrenta desafios e controvérsias, e sofre, ainda, um impacto significativo na sociedade brasileira devido às diversidades religiosas. Mesmo com esses enfrentamentos o movimento espírita brasileiro expande-se cada vez mais, graças ao seu comprometimento com a ciência, a religião e a filosofia.

E o que pensa sobre a divulgação espírita na atualidade?

A divulgação exerce um papel importante, haja vista que: “a maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria divulgação”. A divulgação da Doutrina Espírita é um processo contínuo que visa compartilhar seus princípios e ensinamentos com o maior número possível de pessoas, com planejamento, criatividade, compromisso e consistência. Garantindo que a informação seja precisa e confiável, promovendo a compreensão, a tolerância e a paz entre as pessoas – divulgar é preciso...

Em sua opinião, os Centros Espíritas estão preparados para as mudanças sociais em andamento?

Esta é uma pergunta muito relevante! Os Centros Espíritas têm como dever promover o desenvolvimento espiritual e a melhoria da sociedade, mas precisam estar preparados para as mudanças sociais em andamento, adaptar-se às diversidades culturais e religiosas e envolver-se com a comunidade local. No entanto, também é importante reconhecer que nos pontos de melhoria, como a resistência a mudanças, a falta de diversidade e a comunicação inadequada, precisam os centros esforçar-se para serem mais inclusivos e acolhedores para as pessoas de todas as origens e crenças.

Alguma lembrança bem marcante de sua vivência?

A morte de um ente querido é uma experiência muito dolorosa e difícil de lidar. A Doutrina Espírita oferece perspectivas e consolações que ajudam a aliviar sofrimentos sentidos. Em 2019, a separação física do meu filho, que na época tinha 42 anos, despertou em mim os princípios básicos de que o espírito é a essência da pessoa e continua a existir e a evoluir em outras dimensões, que o amor continua a existir e a ser sentido, que a morte é apenas uma transição para uma nova fase da vida. A doutrina nos permite sentir a dor e o sofrimento, mas também nos assegura apoio e consolo em suas crenças e ensinamentos.

Suas palavras finais.

Desejo que esta entrevista possa ter sido útil e inspiradora para todos os que a lerem. Que o Espiritismo continue a ser uma fonte de luz, amor e sabedoria para todos nós. Muito obrigado pela oportunidade de compartilhar ideias e reflexões sobre a Doutrina Espírita e sua aplicação na vida cotidiana. 

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita