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No País da fantasia que tal aplaudir o “Chico Xavier”
psicografando nos sambódromos?
Sem querer ser “fiscal do Espiritismo” (como costumam
dizer os espíritas “mornos bonzinhos”) e ditar regras de
falsos purismos e extemporâneos sermões embebidos de
ladainhas, refletiremos sobre o absurdo do carnaval.
No ano passado no desfile do grupo especial do Carnaval
de São Paulo, no Sambódromo do Anhembi, a escola de
samba Gaviões da Fiel apresentou um enredo com diversos
componentes religiosos das mais diversas crenças,
representando a pluralidade de fés, destacando as mais
populares do Brasil.
Uma delas foi o Espiritismo, que contou com um carro
alegórico homenageando o principal nome brasileiro da
doutrina espírita: o médium mineiro Chico Xavier.
Ao redor da representação fiel do médium em postura de
psicografia, com a popular peruca, óculos e uma caneta
na mão direita, diversas decorações enalteciam (...!!)
referências de suas obras e da própria “crença”.
Recordo que há 14 anos comentamos uma reportagem
veiculada pelo jornal O Globo, assinada pelo repórter
Rafael Galdo, noticiando que a escola de samba Unidos do
Viradouro levaria para o sambódromo (Sapucaí) do Rio de
Janeiro um carro alegórico contendo a imagem do Chico
Xavier.
Tal barbaridade era para fugir do convencional, a fim da
Escola voltar ao Grupo Especial, consoante afirmava o
carnavalesco Jack Vasconcelos.
Pasmem uma das apostas da escola de samba era homenagear
o “espiritismo” (com minúscula mesmo!).
No enredo “Quem sou eu sem você”, Jack fez, no último
carro, uma homenagem ao médium de Pedro Leopoldo.
Chico foi representado por uma escultura (em que
apareceu psicografando) cercada por 60 componentes,
alguns deles “espíritas” (!?), que fariam uma
performance de “mediunidade” (!?).
Todo espírita estudioso sabe que nenhum espírito[a]
equilibrado, em face do bom senso que deve presidir a
existência das criaturas, pode fazer a apologia da
loucura generalizada, que adormece as consciências, nas
festas carnavalescas.
Por essa razão, consterna-nos o fato de ver ligado a
festas profanas o tema “Espiritismo”, assim como a
personalidade impoluta de Chico Xavier.
A dita matéria afirmava que a diretoria da Federação
Espírita Brasileira estaria de acordo com tal projeto,
desde que nenhum “preceito do Espiritismo seja
desrespeitado na apresentação da vermelho e branca”.
(sic)
Esse comportamento light d’alguma liderança espírita,
estilo “lava as mãos” é desconcertante.
Divulgar a Doutrina Espírita é um ato de caridade para
com ela, entretanto, divulgá-la através desse meio não
se “preserva os seus valores éticos e doutrinários” e é,
sem dúvida, deturpá-la em suas bases, causando
incalculáveis prejuízos morais, com grande
responsabilidade vinculada.
Não havia como compreender a "neutralidade" da diretoria
da FEB, até porque havia incompatibilidade total e
absoluta entre os objetivos do folguedo momesco e os
postulados da Doutrina dos Espíritos.
Ora, a origem do carnaval remonta as teias primitivas de
um passado remoto que devemos, por impulso evolutivo,
abandonar urgentemente.
Acompanhar a espetacularização da imagem de Chico
Xavier, de André Luiz e de tantos outros veneráveis
irmãos queridos nossos, que tanto contribuíram e
contribuem com seus ensinamentos sublimes, aliadas a uma
festa que é a própria apologia às piores viciações do
ser humano, é o que podemos chamar de cúmulo do paradoxo
entre a teoria e a prática Espírita.
Por “trilhões” de razões, recomenda o Espírito André
Luiz para "afastar-nos de festas lamentáveis, como
aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive
as que se destaquem pelos desregramentos ou
manifestações exteriores espetaculares, pois a
verdadeira alegria não foge da temperança.
Até porque diversos estudos demonstram que durante os
delírios e farras dos carnavalescos, para cada 100
casais que caem juntos na folia, setenta terminam a
noite brigados (cenas de ciúme etc.); que, desses mesmos
100 casais, posteriormente, sessenta sucumbem ao
adultério, cabendo uma média de trinta para os homens e
trinta para as mulheres ; que, de cada 100 pessoas
(homens e mulheres indistintamente) no carnaval, pelo
menos setenta se submetem espontaneamente a coisas que
normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool,
entorpecentes etc.
Dizem ainda que tudo isso decorre do êxtase atingido na
“grande festa”, quando o símbolo da “liberdade” e da
“igualdade”, mas também da orgia e depravação, somadas
ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem
fora do seu normal.
Os Benfeitores afirmam que ao lado dos mascarados da
pseudoalegria passam os leprosos, os cegos, as crianças
abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...)
Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices,
cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas
contribuições para que os salões se enfeitem.
Na ribalta dos carros alegóricos, os obsessores
influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas
paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis,
comuns por essa época do ano, e através dos quais eles
próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozas
e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das
vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos
mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram.
É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos
novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a
chave maravilhosa dos seus elevados destinos,
descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da
Vida, se verifiquem excessos dessa natureza [CARNAVAL]
entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da
civilização. Os foliões inveterados alegam que o
carnaval é um extravasador de tensões, liberando as
energias (?!)
Ora!... transbordador de tensões é a capacidade de se
arregaçar as mangas e colaborar em regime permanente
(sem oba-oba) na recuperação das vítimas do desemprego,
da fome e das Cracolândias.
É verdade! No período carnavalesco, não encontramos
diminuídas as taxas de agressividade e as neuroses. O
que se vê é um verdadeiro somatório da violência urbana
e de infelicidade familiar. As estatísticas registram
como consequências do "reinado de Momo", por exemplo,
gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de
abortos provocados, acidentes automobilísticos, aumento
da criminalidade, estupros, suicídios, incremento do uso
de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos,
assim como o surgimento de novos viciados, disseminação
das doenças sexualmente transmissíveis (inclusive a
AIDS) e as ulcerações morais, marcando profundamente
certas almas desavisadas e imprevidentes.
Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em
três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um
pouco nisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito?
Alegria? Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo
faz de nós homens ou mulheres melhores? Edifica o nosso
Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a
participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos
brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade
fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente
alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro
atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de
animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante
lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão,
recreação ou entretenimento disponíveis ao homem
contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria
salutar e aprimoramento (individual e coletivo) para
nossa escolha.
Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da
abstinência sincera dos folguedos, do controle das
sensações e dos instintos, da canalização das energias,
empregando o tempo de feriado do carnaval para a
descoberta de si mesmo, o entrosamento com os
familiares, o aprendizado através de livros e filmes
instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas,
eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já
que o ritmo frenético do dia-a-dia exige, cada vez mais,
preparo e estrutura físico-psicológicos para os embates
pela sobrevivência.
Em síntese, se o carnaval é uma ameaça ao bem-estar
social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque
uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de
lutar por dispositivos de preservação dos valores mais
dignos da sociedade, sem que se violente, obviamente, o
direito soberano do livre-arbítrio de cada um, mas não
nos esquecendo que no carnaval sempre ocorre obsessão
(espiritual) como resultado da invigilância e dos
desvios morais. Somente poderemos garantir a vitória do
Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé,
renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes
dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo e
não esquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e
orai, para que não entreis em tentação; o espírito na
verdade está pronto, mas a carne é fraca''.
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