Traremos, neste artigo, o exemplo de Judas Iscariotes,
um ser que buscou o suicídio e como foi sua recuperação
do ato culposo perante a vida espiritual, o qual
demarcou o fim da sua vida no tempo de Jesus, conforme
comentado no Evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo
5, e em Atos dos Apóstolos, capítulo 1 versículo 18.
Optamos pela narrativa de Mateus, o evangelista, em
questão, que registrou que, logo após o remorso pela
traição, Judas se enforcou.
As intercessões magnânimas de Jesus e sua Mãe - Maria
de Nazaré - a fim de fortalecerem um espírito equivocado
pelo ato nefasto do suicídio merecem destaque em nossas
linhas dissertativas, a começar pelo belo texto do
poema Retrato de Mãe, ditado pelo espírito Maria
Dolores, psicografado por Francisco Cândido Xavier,
quando a Piedosa adentrou as furnas de sofrimento onde
Judas se alojara. O esplêndido espírito o confortou
propondo-lhe nova reencarnação reparadora de forma
fortalecer o suicida equivocado.
Para termos um melhor entendimento desse episódio
recorreremos às explicações do espírito Humberto de
Campos, através da psicografia de Francisco Cândido
Xavier, na obra Crônicas de Além-túmulo; o
repórter do além encontrou-se na Terra Santa com o
expressivo espírito marcado pela Humanidade cristã como
sinônimo de traição, fato que nele repercutiu ao longo
dos séculos. Sobre esse ser comprometido com as mazelas
provenientes do ato culposo da eliminação da vida
física, comentaremos na sequência.
O autor espiritual nos descreveu como se encontrava a
paisagem física que ele visitava na famosa Jerusalém
secular, bem como as regiões que ficaram conhecidas
através dos antigos escritores do Evangelho, tais como
Getsêmani, Gólgota e o vale do rio Cedron;
esclareceu-nos que é possível ao ser inteligente revisar
mnemonicamente as fases históricas de alguma paragem
terrena, e, além disso, percebeu a permanência de
espíritos alojados nas ruínas de construções da época do
Império Romano, em razão de sua extrema ignorância.
Ele avistou, então, um ser bastante soturno às margens
do rio supracitado e uma voz do invisível lhe soprou que
se tratava de Judas, que voltava àquele ambiente, onde
vivera, devido a uma impregnação do passado de forma
bastante latente e volvia à cidade de Jerusalém
costumeiramente na época das tradições da Paixão do
Cristo. Como entrevistador, ele o abordou e
solicitou-lhe a confirmação daquela personalidade tão
conhecida; por resposta, obteve que se tratava do
próprio, que ali se encontrava em visitação.
Naquele momento coloquial, o repórter quis saber sobre a
traição e a condenação de Jesus que ele corroborara com
base nos motivos divulgados pelos seguidores do Cristo.
Judas lhe esclareceu que os registros não foram fiéis à
sua verdade, pois na realidade quis poupar o Mestre da
tirania do Estado de Roma, e por isso planejou um
roteiro no qual Jesus seria o vencedor do poder temporal
dos romanos, o que não ocorreu. Tomado pelo remorso, com
a prisão, condenação e crucificação de um Homem Justo,
ele buscou o autocídio como alternativa, pois no seu
entendimento seria a remissão de sua culpa. O espírito
Humberto de Campos inquiriu-o se ele se libertara desse
remorso milenar, e o equivocado apóstolo lhe expôs que
expurgou por séculos aquele ato faltoso, sem se libertar
do sentimento de culpa.
Judas lhe detalhou que dele foram exigidos centenas de
anos expiatórios, desde as perseguições romanas aos
cristãos até encerrarem-se as suas romagens terrenas em
uma fogueira da época da Inquisição. E, ainda, destacou
que, tal qual fizera ao Mestre, ele fora traído,
comercializado e preso, até culminar na Europa, no
século XV, o seu resgate. O escritor volta-redondense
Hermínio C. Miranda (com o pseudônimo de João Marcus) no
livro Candeia na Noite Escura (FEB) registrou que
Judas foi, em uma de suas reencarnações, a heroína
francesa Joana d‘Arc.
O natural de Iscariotes recapitulava naquele momento seu
ciclo de vivências e reerguimento moral. Apenas
lamentava que durante a época em que na Terra o martírio
do Cristo é relembrado, o seu nome é identificado como
um traidor. Enalteceu o amor incondicional de Jesus para
com ele e a todos que, equivocadamente, relacionaram a
imagem do Cristo a negócios terrenos, e no entanto,
erroneamente, utilizam-se Dele como um produto
mercantil. Após a entrevista Judas afastou-se e, em
seguida, rumou para o local do Santo Sepulcro; o
entrevistador permaneceu no local, e contemplou a imagem
do cenário atual da Cisjordânia.
Noutro livro, Estante da vida, ditado pelo Irmão
X (o mesmo Humberto de Campos), psicografado por
Francisco Cândido Xavier, em outra narrativa intitulada O
anjo solitário, descreveu-nos o referido autor a
ação magnânima do Cristo crucificado em relação a Judas,
no instante de seu suplício, no Calvário, quando
entidades angélicas se acercaram Dele. Jesus balbuciou
um pedido inaudível aos homens a um mensageiro da
caridade; seria o pedido para socorrer e amparar Judas,
em Jerusalém.
Encontraremos da mesma forma na obra Pelos caminhos
de Jesus, autoria do espírito Amélia Rodrigues,
ditado a Divaldo Pereira Franco, a lição O anjo da
misericórdia, que nos explicou os bastidores
dos momentos da crucificação, e, tal qual o Irmão X, a
autora espiritual referiu-se às entidades sublimes que
compareceram, naquele triste episódio, para solicitar ao
Martirizado permissão para segui-lo, após seus fracassos
em ações junto aos homens. Estavam desiludidas com suas
tarefas – eram, nesse caso, a Fé, a Esperança e a
Caridade.
Um ser sublime denominado Anjo da Misericórdia interveio
naquele instante através de um rastro luminoso dos céus
até a Terra para auxiliar, a pedido do Crucificado ao
Pai. E recebeu do Excelso Rabi a solicitação para
permanecer no mundo e levar consigo os três espíritos a
favor dos necessitados; primeiramente acudiriam o
soldado Longinus, o qual havia lancetado
cruelmente Jesus, e perdera a visão: restituir-lhe-iam a
claridade apagada; depois amparariam Judas, que
suicidara, e na sequência confortariam Pedro, que se
encontrava desalentado em um doloroso remorso.
No belíssimo poema Retrato de Mãe, o espírito
Maria Dolores, pela psicografia de Francisco Cândido
Xavier, descreveu com peculiar riqueza de detalhes e
ampla singeleza textual a intervenção de Maria de Nazaré
nas furnas do sofrimento onde se alojara o suicida
arrependido; assim, tal espírito superior se comprometeu
em auxiliar Judas nas futuras reencarnações reparadoras.
São notícias apropriadas em face do mandato messiânico
do Cristo na Terra; elas enaltecem a compreensão e a
interferência Dele junto aos aflitos e devedores,
lembrando que o próprio Judas Iscariotes exaltou o Amor
de Jesus por todos os irmãos em peregrinações árduas no
planeta.
Portanto, conforme ocorreu com o apóstolo que traiu o
Messias, vários homens em derrocadas morais foram
reerguidos e transformados ao longo dos séculos, através
das notícias por meio da grandiloquente literatura
espírita – com o propósito de nortear a todos em suas
romagens terrenas.
Roni Ricardo
Osorio Maia reside em
Volta Redonda (RJ).