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por Rogério Coelho

 

Na higienização das zonas estercorárias


O alimento do Espírito são os pensamentos agradáveis que estimulam a vivência do bem


“(...) Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” 
- Jesus.  (Lc., 14:35.)


No decorrer dos milênios, através das inúmeras encarnações em que penosamente vem acumulando um acervo de abundantes equívocos e raros acertos, o homem ainda não despertou para a necessidade de utilizar-se da psiconáutica para a grande viagem ao interior de si mesmo.

Sócrates, Santo Agostinho e outros, atinaram para tal necessidade...   Há que se conhecer a si mesmo para a completa erradicação de todo vestígio de nossa passagem pelos reinos inferiores, alijando os atavismos animalizantes que são as sujidades da Alma imortal.

Com Emmanuel[1], deduzimos do versículo de Lucas em epígrafe que Jesus “(...) emprestou significação ao monturo. Terra e lixo nesta passagem revestem-se de valor essencial. Com a primeira realizaremos a semeadura, com a segunda é possível fazer a adubação, onde se faça necessária.  (...) O Evangelho está repleto de lições no setor do conhecimento iluminativo”.

É através das luminescentes páginas registradas pelos Evangelistas, agora ampliadas pelas lentes da Doutrina Espírita que conseguiremos equacionar o problema de nossos grandes males.

Transformemos, pois, o monturo constituído pelos nossos remorsos, fraquezas e ignorância em fertilizante para a terra sáfara de nossos corações, convertendo essa “terra íntima” em ubérrimo campo adequado a fartas colheitas.

Pela mediunidade de Divaldo Franco, afirma Daniel Suárez Artazú[2]: “(...) os valores externos enchem espaços, deixando vazio o coração, não satisfazendo o ser íntimo;  por isso, vê-se indivíduos prósperos, economicamente, porém, irritáveis, violentos, insatisfeitos, enquanto que outros, sem as mesmas posses, apresentam-se tranquilos, bem dispostos, confiantes...

Há uma necessidade urgente de que o ser reencontre sua intimidade, descobrindo todo o potencial de forças inesgotáveis que existem, aguardando-lhe, para alcançar a finalidade que lhe destina a vida.

Este é um desafio que exige valor moral e aplicação de recursos espirituais, para alcançar o êxito. Porém, com isso, as consequências terão um rendimento insuperável e permanente.   Conhecendo suas forças, o ser sabe conduzi-las, aplicá-las com sabedoria, canalizar suas aspirações e conseguir o triunfo que lhe coroará de paz.

O Espiritismo é a doutrina especialmente dotada de meios para tal conquista. Ciência do Espírito leva o pensamento à investigação das causas, cujos efeitos se apresentam no cotidiano, interpretando-os; converte-se em seu condutor, trocando os resultados que, então, serão positivos e construtivos. Remontando-se à origem da vida em si mesma, compreende quão frágil é a organização material e suscetível de transformação, para deixar-se arrastar por seus enganos.   Observar o mecanismo da vida é defrontar com todo um complexo sistema de realizações que deve merecer contínuo trabalho a fim de penetrá-lo em sua intimidade mais sutil.

Todo um conjunto de leis surge reclamando estudo e compreensão, o que resulta em uma filosofia, por sua vez, otimista, que aclara os aparentes enigmas desafiantes para a inteligência e o sentimento.

Partindo da Causa Primeira, com o Espiritismo se chega a todos os efeitos, num encadeamento lógico, simples e real, que propicia a equação do que parece uma incógnita. Surge, disto, uma ética baseada na sã moral, quer dizer, a moral do bem e do amor que deve dirigir o destino de todos os seres humanos.  Isto exige introspecção e vida íntima!

Assim, como se necessita de tempo para a digestão e assimilação dos alimentos, do mesmo modo, para a manutenção da Alma, faz-se imprescindível a imersão mental no oceano do mundo interior.

Quanto mais se acostuma na busca de respostas em sua intimidade, à reflexão do conhecimento para penetrar-lhe o sentido, mais robusto se faz quem aceitou o desafio da conquista espiritual de si mesmo. A introspecção pessoal oferece visão otimista da vida e seus problemas, impedindo que os dissabores, as surpresas negativas, produzam estados patológicos na personalidade ou na organização somática.

O ser que possui vida interior consegue viver em um clima psíquico saudável, no qual, o bem-estar constitui uma constante em todas as situações a que se sinta conduzido. Para ele não há mudanças bruscas, senão, variações que não alteram, substancialmente, seu comportamento.

Necessitamos alimentar o corpo e a Alma. O alimento do Espírito são os pensamentos agradáveis que estimulam a vivência do bem pela seleção natural de valores mentais. Quem não se acostuma a pensar de forma edificante, cai no marasmo mental e moral ou se aflige sob as ideias negativas, vulgares, entorpecedoras, que lhe acometem, enchendo seu campo psíquico”.

Que tipo de terreno estamos oferecendo, em nossa intimidade, para que floresçam as sementes de luz esparzidas há mais de dois milênios pelo Mestre Maior? Será que de nós se poderá falar que nem  prestamos para a terra, nem para o monturo; e lançam-nos fora?

 


[1] - XAVIER, F. Cândido. Pão Nosso. 17.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996, cap. 121.

[2] - FRANCO, Divaldo Pereira. Rumo às estrelas. Araras: IDE, 1992, cap. 3.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita