Artigos

por Bruno Abreu

 

O sentido da vida


Muitas das pessoas perguntam-se: qual o sentido de suas vidas?

A resposta parece tão difícil, porque vemos o sentido como uma direção, para onde me devo virar? O que devo fazer?

A parte mais importante do sentido da vida não é para onde vamos, mas onde estamos, pois não podemos tomar uma direção sem sabermos onde estamos.

Em toda a direção é mais importante o início do que o fim.

No caso da vida, o início é o presente, o que somos. O sentido da vida não é um sentido físico, mas um sentido psíquico, para que nos aproximemos do espiritual.

No sentido físico, podemos ver um corpo que nasce, se desenvolve e envelhece, que passa nas zonas do globo, em determinado país ou países, numa família, por determinados empregos etc.

Temos a ideia de que escolhemos o que queremos para a vida, mas não é bem assim. O corpo com que nascemos não foi uma escolha nossa, foi a biologia terrena a funcionar em prol das necessidades cármicas, segundo as Leis Universais. A escola em que estudamos foi a que nos estava ao alcance e escolhida pelos pais. A profissão que exercemos foi uma oportunidade que surgiu e que aproveitamos.

A nossa verdadeira escolha está na aceitação ou negação do que a vida nos apresenta.

Viemos passar por todas as vicissitudes terrenas, mas não vejam vicissitudes como negativo ou positivo, vejam como experiências neste enorme palco.

Este corpo, após a conclusão deste teatro, onde somos determinada personagem, perece e chega a hora de o espírito se libertar. Na altura certa, regressaremos em um novo personagem para continuarmos nosso aprendizado.

O crescimento é espiritual, para tal temos de amealhar tesouros do Céu e não da Terra.

Quais são os tesouros do céu?

Estamos a falar de amor, compassividade, indulgência, paz, resignação etc. Reparem que estamos a falar de estados de espírito e não de conquistas materiais.

Como podemos adquirir estes tesouros?

Na verdade, já os temos, apenas perdemos a consciência disso, por darmos mais importância aos desejos terrenos do que aos do Céu, vivendo a ilusão do personagem com um enorme apego.

Por vivermos apegados à Terra e a este ser, vemos o sentido da vida como uma aquisição constante de virtudes. Isto deixa-nos desgastados, pois é um enorme e ilusório esforço sermos virtuosos pela aquisição ou o acumular de emoções.

Na Bíblia lemos que somos deuses e aprendemos que nossa primeira tarefa é a procura do Reino de Deus que está dentro de nós. “O Livro do Espíritos” ensina-nos que a Lei de Deus está dentro de nós, apenas a esquecemos.

Estes três ensinamentos dizem-nos que a nossa pureza espiritual está em nosso interior, o caminho é voltar para dentro, voltar a ela, em vez de adquirirmos mais formas de estar, mesmo que sejam virtudes, pois esta forma de aquisição de virtudes é uma ilusão.

Vou usar o exemplo da humildade.

A ideia de que somos humildes é uma aquisição. Colocamos em nossa mente a imagem de um homem humilde e tentamos ser iguais. A determinado ponto, sentimos que nos aproximamos e pensamos que estamos a ser humildes, o que é um orgulho dissimulado. Na verdadeira humildade, não existe a ideia de que somos humildes, pois é uma forma de estar espontânea, conquistada pelo desapego e pelo silêncio do ser. Ver com alguma vergonha o orgulho que nasce em nós é uma forma de humildade, mas ver a humildade a nascer em nós é uma forma de orgulho, pois só tenta ser humilde aquele que vê na humildade um “valor” importante, tornando o homem importante.

O interior de que é referido para o nosso regresso, onde está o Reino dos Céus é por detrás da parte psíquica, como é lógico, não pode ser na parte física.

Para voltarmos para dentro, temos de ultrapassar a parte turbulenta psíquica característica do ser humano, a mente exterior onde está a construção do Ego, do caráter. Temos que abrandar o nosso funcionamento mental, onde estão os certos e os errados, os desejos e as motivações, o orgulho e o egoísmo, a vaidade, o desejo de ser diferente, toda a turbulência mental mesmo que seja sobre sermos melhores, para nesse silêncio percebermos para além do ser terreno.

Jesus incentiva-nos a chegar a esse silêncio na primeira indicação sobre a oração, aconselhando-nos a recolhermo-nos aos nossos aposentos, um local físico silencioso, e em silêncio “mental”, que Deus em silêncio escuta, nos iremos aproximar dEle.

Este silêncio de que nos aproximamos ao nos desapegarmos do ser, do seu funcionamento, através do Vigiai e Orai no dia a dia, remete-nos ao presente, incentivando-nos a viver a vida como os lírios do campo, sem preocupação com o futuro.

O passado e o futuro são frutos da mente; no caso do passado, através da memória da perceção com que vivemos determinada situação; no caso do futuro, através das ideias que fabricamos sobre ele, que não têm realidade existencial a não ser no pensamento. A sua existência são a causa dos maiores defeitos humanos. Uma sobrevalorização do passado e do futuro, como nos habituamos a funcionar, levam-nos ao orgulho, através do apego ou ao que fizemos bem, a ideia do que somos, que é uma construção mental do passado, a ganância, através do que queremos adquirir e todos os outros defeitos humanos ou tesouros da Terra, como quiserem chamar.

Se deixarmos esta forma de funcionamento problemática, somos remetidos para o presente, onde tudo acontece. No presente nos deparamos com o que é preparado para vivermos, temos a oportunidade de corrigir o que está errado, podemos despertar o enorme amor que existe em nós, pois escapamos da prisão da mente humana que nos tem submetido às maiores atrocidades.

Podemos perceber que a humanidade poderia viver de uma forma bem feliz e pacífica, se se alterasse um pouco, mas não sabemos como efetuar essa mudança.

Ao vivermos o presente, não com a memória do passado, onde estão os ódios, mas renascendo em cada segundo, podemos aproximar-nos do Reino de Deus, pois deixamos para trás a forma de viver onde estão o orgulho, o egoísmo e todas as misérias humanas.

A nossa maior dificuldade é abandonarmos o protagonismo que nos é ofertado pela existência de um enorme Ego fabricado pelo decorrer do passado, que se alimenta das turbulências e defeitos humanos, criados pelo barulho da mente, em prol do silêncio do presente, mesmo sabendo nós que Deus em silêncio escuta, mantendo a escravatura autocriada que nos passa despercebida. No silêncio podemos encontrara a paz, o amor, a compassividade, a indulgência e a resignação, tudo num só “local” (estado) mental.

O sentido da vida é vivê-la, pois está feita a medida para nós. Para isso temos que aprender a estar no presente, porque o que temos feito é viver a ideia que temos sobre a vida, e não saímos de nossas cabeças.   

 

O autor reside em Lisboa, Portugal.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita