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por Roque Roberto Pires de Carvalho

 

Botucatu e a vida extraordinária de Jésus Gonçalves

 

Botucatu é uma cidade com apenas 168 anos! É moderna, recepcionista, muito bonita e recebeu da Administração Municipal –leia-se Mário Pardini – especial carinho, dotando-a de inúmeros melhoramentos e recantos floridos, além de ser considerada também cidade dos “Bons Ares e das Boas Escolas” e “das Flores”. Botucatu é também cidade de ricas tradições e berço de famílias ilustres.

Este subscritor, forasteiro, mas com raízes familiares aqui semeadas não sabia, de início, que Botucatu era também uma cidade escolhida por iluminados Espíritos de Luz. A cidade acolheu em 2 de janeiro de 1889 o infante Carmine Mirabelli, desencarnado em 30 de abril de 1951 na cidade de São Paulo, vítima de acidente de trânsito; e por adoção o retratado de hoje, Jésus Gonçalves, natural de Borebi-SP, onde nasceu em 12 de julho de 1902, tendo recebido seu nome na pia batismal da Paróquia de Ubirama no dia 8 de setembro de 1902, pertencente à Cúria Diocesana de Botucatu, onde se encontra o original da sua Certidão de Batismo registrada em livro próprio.

A Doutrina Espírita através de escritos por Espíritos Superiores nos permite entender melhor de que forma vidas passadas influenciam nas futuras através do processo reencarnacionista.

Nos primórdios do cristianismo, século IV d.C., o botucatuense por adoção tinha o nome de Alarico. Geralmente, a história das grandes vidas tem o escopo de apresentar o homem em seus lances positivos, apenas. Mas seria impossível suavizar os fatos brutais que a realidade apresenta.

Jésus Gonçalves foi Alarico. E quem foi Alarico? Não foi outro senão aquele mesmo general bárbaro que dominou Roma e os fatos não podem ser mudados a bel prazer. Alarico I (387 d.C.)  foi desumano e perverso. Provavelmente ele foi tudo isto em encarnações anteriores.

Quando jovem fazia carreira no Exército Romano. O ano de 395 d.C.  marca o início de sua caminhada militar. Sua personalidade vaidosa reunia qualidades de grande líder e disciplinador, mesclado à prepotência e à perversidade de um guerreiro visigodo. Aprendeu com os romanos a arte militar. Como general dominou Roma e sob o seu comando semeava a morte, o terror e a destruição.

Na ocasião encontrava-se em Roma o célebre Agostinho, Bispo de Hipona, que tentou de várias maneiras, usando palavras de amor, compreensão e sabedoria, reivindicar em favor do povo romano, às portas então de uma invasão de bárbaros. Agostinho aproxima-se de Alarico e implora, pedindo em nome do Cristo, que o inspirou a vir a ter com o general, complacência para com as mulheres, crianças e idosos. Não adiantou... Roma foi invadida com intenso vandalismo, mas as palavras pacíficas de Agostinho calaram nos sentimentos do general, de modo que os templos católicos não foram sequer tocados pelos visigodos. Pela moderação do exército inimigo, os romanos foram buscar proteção nesses templos, procurados inclusive pelos pagãos. Muito embora não tenha evitado a quase devastação da cidade, era o troféu haurido por Agostinho, o soldado de Cristo que ousou, com sua coragem, desafiar a força física do exército de vândalos e fez-se sobrepujar mediante as qualidades morais de seu espírito.

Alarico não permaneceu muito tempo em Roma. Fascinado pelo poder, pretendia dar o golpe de misericórdia no Império. Na tentativa de invadir a África, sua frota foi dispersada e ele desencarnou em Cosenza, região da Calábria italiana e assim encerrou sua primeira encarnação.

A misericórdia divina lhe concedeu mais uma oportunidade reencarnatória. E ele retornou em nova roupagem, como Alarico II, (484 d.C.), 8º rei dos Visigodos, mas não conseguiu refrear as inclinações ambiciosas de seu caráter primitivo, governando pelo poder da força e do terror. Desencarnou em batalha travada em 507 d.C.

No século XVI (9/9/1585) ocorreu sua terceira reencarnação conhecida, agora na França e como o nome de Armand Jean du Plessis, posteriormente cardeal Richelieu, que atenuou as perseguições aos católicos quando, por aproximadamente 18 anos, foi não só o homem mais poderoso da França, arquiteto do absolutismo, como também árbitro da política europeia. Doente, com o corpo tomado por tumores de diagnóstico desconhecido, o braço direito paralisado, a saúde de Richelieu, que nunca fora boa, debilitou-se a tal ponto que mal conseguia levantar-se do leito, vindo a desencarnar em 4 de dezembro de 1642, em Paris, aos 57 anos.

Após 260 anos aconteceu sua última reencarnação, que é o objeto desta crônica. O outrora poderoso cardeal francês nasceu em família muito pobre no Vilarejo de Borebi-SP, em 12 de julho de 1902, e seu batismo pela liturgia católica romana deu-se no dia 8/9/1902 com o registro de seu nome JESUS na Cúria Diocesana de Botucatu, e seus pais com o sobrenome Gonçalves.

Precoce, desde os 14 anos teve inclinações para a música participando da “Bandinha de Borebi”. Em 1919 sua família mudou-se para Bauru-SP. Aos 20 anos era tesoureiro na Prefeitura e clarinetista da “Jazz Band” da cidade. Casou-se e teve filhos. Era poeta, escritor, historiador, autor e ator de peças teatrais, jogador de futebol e, no jornalismo, fundador e articulista de dois jornais.

Em 1930 foi acometido do “mal de Hansen”. Aposentado do serviço público, um de seus amigos, proprietário de florescente gráfica, cedeu-lhe o usufruto de um sítio nas proximidades da cidade. Em 1933 teve de afastar-se compulsoriamente do convívio da família, para internar-se no recém-inaugurado Asilo Colônia Aymorés. Mesmo internado não esmoreceu... Foi fundador do jornal “O Momento”, participou da criação do “Jazz Band Aymorés” e da equipe de futebol Aymorés. Jésus liderava quase todas as atividades sociais da Colônia para amenizar os sofrimentos dos seus companheiros de infortúnio.

Em 1937 foi transferido da Colônia Aymorés para o Hospital Padre Bento em Guarulhos, porém, durante a viagem Jésus passou muito mal e a ambulância que o conduzia parou em Pirapitingui-SP. As dores imensas se intensificaram e o diretor desse Hospital, sabedor das qualidades inatas de liderança, apesar da terrível doença, não permitiu sua saída de Pirapitingui.  

A vaidade e o orgulho, traços marcantes de sua personalidade, foram substituídos pela submissão e simplicidade. Muito embora não acreditasse na Doutrina Espírita, sua esposa - Anita Vilela, também moradora no Hospital - não era portadora do mal de Hansen, ofereceu-lhe para leitura o livro “O céu e o inferno” de Allan Kardec e é esse o início de sua conversão do ateísmo para o Espiritismo.

Perdendo suas convicções materialistas, dedicou-se à leitura das obras de Kardec, Léon Denis, Flammarion, Bozzano e outros, completando assim sua conversão. Nesse local fundou a “Sociedade Espírita Santo Agostinho”, primeiro Centro Espírita em hospital de hanseníase do mundo, sendo também fundador da Rádio PRC-2, Rádio Clube de Pirapitingui, e do jornal interno “O nosso Jornal”. Publicava suas poesias nesse jornal; escrevia peças teatrais e delas participava como ator.

Sua doença consumia e deformava todo o corpo, rosto transfigurado e os órgãos começavam a falhar, cordas vocais sem qualquer manifestação e assim, lentamente, apagava-se a estrela do apóstolo de Pirapitingui, regressando à Pátria Espiritual no dia 16 de fevereiro de 1947. Desencarnado, em suas comunicações psicografadas por Chico Xavier pediu para ser chamado de Jésus, pois se considerava indigno de ostentar o mesmo nome do Rabi da Galileia.

Por certo este subscritor não o conheceu pessoalmente, no entanto tive a oportunidade de visualizar sua presença espiritual em uma das ruas de Bauru, já com o uniforme branco hospitalar.

Para as pessoas que acreditam na doutrina da reencarnação é fácil o entendimento do que foi a vida de Jésus Gonçalves, aquele que ao longo dos séculos trocou a vestimenta do homem velho pela túnica alvinitente do homem novo. Jésus, homem de rara inteligência e capacidade de superar os mais incríveis obstáculos, é hoje um dos Espíritos Guias da Humanidade.

“O homem tem que reparar, no plano físico, o mal que fez no mesmo plano. Torna a descer no cadinho da vida, no próprio meio onde se tornou culpado, para junto daqueles que enganou, despojou, espoliou, sofrer as consequências do modo por que anteriormente procedeu.” (Excerto do livro “O problema do Ser, do Destino e da Dor”, de Léon Denis.

 

Fonte: “A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves”, autoria de Eduardo Carvalho Monteiro, publicado pela EME Editora.

 

 

     
     

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