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por Jorge Gomes

Motivos do atendimento mediúnico


Quando o médium que devemos atender no diálogo de esclarecimento entra em transe a sua expressão corporal modifica-se e a personalidade também. Começa por refletir, de forma muito diversificada de caso para caso, as preocupações evidenciadas naquele momento.

Ressalvando-se que neste tipo de reuniões de auxílio espiritual os Espíritos esclarecidos que as gerem retêm o foco sobretudo nos casos necessitados de auxílio em condições de o absorverem, é verdade que alguns se manifestam inicialmente com expressões de dor física e/ou psicológica, mas também sem elas.

Na amostra que reflete mais de duas centenas de atendimentos, na sua maioria através de três médiuns psicofónicos, verificou-se que a predominância de sensações físicas de sofrimento atingiu 28,05%. (Veja o gráfico abaixo.)

Em muitas destas situações, embora careça de confirmação mais detalhada, estes Espíritos desencarnados não necessitariam de ter esse tipo de impressão dolorosa. A maioria decerto já não estará ligada ao corpo físico, pelo que as sensações não teriam como chegar até ao corpo espiritual e depois ao Espírito, que é em condições ditas normais quando ocorre a percepção. Qual seria nesses casos a razão para evidenciarem essa sensação de sofrimento?

Deverá haver diversas, mas uma das que se afigura verosímil é a de encalharem num momento traumático – apesar da expressão física de natureza essencialmente psicológica – e demorarem por vezes anos, na nossa noção de tempo, a conseguirem ser resgatados desse quadro auto-imposto.

Por sua vez, os que evidenciaram sobretudo sofrimento psicológico foram 20,36%. Junta muitas situações de sentimento de culpa, mas também de tristeza, de cólera, de arrependimento, vingança, entre outros. Essa forma de desequilíbrio é uma extensão simples do que se sente na vida material e que continua a perdurar por um tempo variável, mas não poucas vezes considerável, no preâmbulo mais ou menos prolongado do regresso à vida espiritual. Todos acabarão também por se libertar dessas amarras criadas por si próprios.

Há também outros, os que de início pensavam estar ainda noutro lugar, que não a sala da reunião. Estes marcaram o valor de 14,93%. Por vezes pensavam ainda estar doentes num hospital, em casa ou noutros locais.

Uma nova fasquia reúne os que começavam por dizer não saberem onde se encontravam: chegaram a 5,88%. Estes referem cenários estranhos, como se se tivessem perdido por exemplo numa cidade pouco hospitaleira, desorganizada, em que parecem saber dos seus segredos mais escondidos.

Por sua vez, os obsessores assumidos foram 11,31%. Pessoas desencarnadas que partilham vícios como o alcoolismo, por exemplo, procuram pessoas encarnadas com gostos afins para satisfazerem o seu desejo. Outras gostam de perseguir outrem, seja inspiradas por impulsos de vingança seja integradas em organizações criminosas, pensando estar a seguir missões que não podem deixar de cumprir a não ser sob duros castigos, podem estar nesse papel. Irão acabar por se saturar de uma vida infeliz e procurar, sem saber como, uma saída.

Outros casos, diferentes dos referidos, marcaram apenas 11,76%.

Em qualquer dos casos, o transe mediúnico próprio destas reuniões, cujo objetivo é auxiliar quem deseja realmente melhorar a sua vida, evidencia com seriedade o quanto a vida mental que escolhemos ter no dia a dia pode ter consequências práticas.

Pensar e sentir é ação que se dirige ao universo e retorna em forma de energia enriquecida que se faz absorver pelo corpo espiritual ou perispírito. De acordo com o seu teor, leia-se sentimentos infelizes ou por alternativa felizes, dão uma densidade ou leveza, uma tonalidade mortiça ou luminosa a esse mesmo psicossoma. Nivela igualmente a capacidade de cada entidade espiritual para não conseguir ver ou escutar ainda os Espíritos esclarecidos que nos amparam neste vasto trilho evolutivo. Aliás, é esse também o mecanismo da prece.

Na verdade, toda a tendência para a estabilidade interior ou exterior já ocorre na vida material a toda a hora, porém, quando a morte do “burrinho” – leia-se “corpo material” – que carrega cada um de nós dispara abre a porta para que as máscaras do mundo físico se esboroem. A plasticidade de índole espiritual responde rápido e não há como esconder o que se é no imo da própria consciência, nem como deixar de se enquadrar nas paisagens que costumamos procurar, mesmo sem a priori sabermos.

No momento do diálogo esclarecedor, cada médium psicofónico funciona grosso modo como uma tela de natureza telepática que recebe em condições controladas, nestes casos de mediunidade educada, a realidade criada por cada Espírito desencarnado trazido a conversar connosco. Longe de ser estática, ou de ser sentida aparentemente pesada pelas entidades espirituais comunicantes, é assaz dinâmica, já que não há dor que não venha a obter lenitivo ou aflição que não regresse ao porto da paz.

Mesmo assim, entre o momento de aspirar a uma vida melhor e a meta que lhe possibilita alcançá-la há um trabalho interior a fazer. Não existem castigos e recompensas, mas sim a claridade que se venha a estabelecer na consciência do dever bem cumprido, a favor do bem comum. Os circuitos de causa e efeito espelham o funcionamento de leis naturais, criadas por Deus, com as quais interagimos, aprendendo a otimizar a harmonização entre elas e o comportamento mental que vamos construindo.

De forma simples, são estes mecanismos educativos da vida, em que semeamos e viremos a colher mais tarde ou mais cedo, que estão por detrás das situações reunidas no gráfico.

Nunca deixa de ser notável, dentro desta enorme variabilidade de casos, o denominador comum do amor que não procura retribuição evidenciado pelos amigos espirituais. É a lição maior que se nos apesenta nos mais recentes e imediatos milhares de anos, como seres espirituais imortais que somos, quer se acredite disso ou não. O amor incondicional que Jesus de Nazaré veio explicar e que ainda tardamos em apreender, e que eles refletem tão bem.

 

Nota - Esta análise foi efetuada a partir de um grupo de serviço mediúnico situado nos arredores da cidade do Porto, na região Norte de Portugal, ao longo do ano de 2017. Através de registos recolhidos das manifestações mediúnicas habituais no grupo em que colaborámos regularmente durante vários anos, até 2019, identificaram-se e registaram-se a posteriori, anotando-se caso a caso detalhes tipificados da entidade espiritual evidenciado no diálogo decorrente do transe mediúnico. O póster “Relação de género entre os Médiuns e os Perfis evidenciados no transe mediúnico”, que expõe este facto, está disponível na internet a partir da internet. Para acessar, clique aqui

 

Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na cidade do Porto, Portugal.
 

 

     
     

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