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por Jorge Hessen

 

Fidelidade e coerência kardeciana


Toda convicção religiosa é importante, todavia, se buscamos a Doutrina Espírita, não podemos negar-lhe fidelidade. (1) Por inúmeras razões precisamos preservar a pulcritude doutrinária. Até porque, ante as funções educativas das crenças religiosas, em geral, explica Emmanuel: só a Doutrina Espírita permite-nos o livre exame, com o sentimento livre de compressões dogmáticas, para que a fé contemple a razão, face a face. (2)

Se as religiões "preparam" as almas para punições e recompensas no além-túmulo, só os conceitos kardecianos elucidam que todos colheremos conforme a semeadura que tenhamos lançado à vida, sem qualquer privilégio na Justiça Divina. A Doutrina codificada por Allan Kardec nos oferece a chave apropriada para a verdadeira interpretação do Evangelho. Por representar em si mesmo a liberdade e o entendimento.

Há quem interprete seja a Terceira Revelação obrigada a miscigenar-se com todas as peripécias de seitas aventureiras e com todos os exotismos religiosos, sob pena de fugir aos impositivos da fraternidade que veicula. Mas temos que acautelar-nos sobre esse lisonjeiro ecletismo, buscando dignificar a Doutrina que nos consola e liberta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade (3) para que não colaboremos, sub-repticiamente, nos vícios da ignorância e nos crimes do pensamento.

O legado da tolerância não se pode transfigurar na omissão da forçosa advertência verbal ante as enxertias conceituais e práticas anômalas que alguns confrades intentam impor nas hostes do movimento doutrinário. Inobstante repelir as atitudes extremas não devemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impõe, no alerta sobre a fidelidade que devemos ao Espiritismo e ao Evangelho.

É importante não esquecermos que nas pequeninas concessões vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação. É óbvio que a luta pela pureza e simplicidade doutrinária sem vivê-la é consolidar focos de perturbação, impondo normas para os outros, despreocupados da própria vigília.

Destarte, para evitarmos determinadas práticas perfeitamente dispensáveis em nome do Espiritismo, entendamos que a prática de fidelidade aos preceitos kardecianos é processo de aprendizagem com responsabilidade nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questões controversas, porém não olvidemos que espírita deve ser o nosso caráter, ainda mesmo nos sintamos em reajuste, depois da queda, consoante recomenda Emmanuel.

Espírita deve ser a nossa conduta, ainda mesmo que estejamos em duras experiências.

Espírita deve ser o nome do nosso nome, ainda mesmo respiremos em aflitivos combates conosco mesmo.

Espírita deve ser o claro adjetivo de nossa instituição, ainda mesmo que, por isso, nos faltem as passageiras subvenções e honrarias terrestres. (4)

E, ainda, Emmanuel admoesta: Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoamento moral em todos os mundos. Guarda-a, pois, na existência, como sendo a tua responsabilidade mais alta, porque dia virá em que serás naturalmente convidado a prestar-lhe contas. (5)


Referências bibliográficas:

1- Xavier, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ:Ed. FEB, 2003.

2- Idem.

3- Idem.

4- Idem Ibidem.
5- Idem.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita