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por João Márcio Cruz

 

A natureza vence o antropomorfismo


Tentamos antropomorfizar a natureza porque não é fácil conviver com aquilo que foge ao nosso controle. 
O ego sente-se um nada diante de trovões, relâmpagos, ventania, terremoto, então o que ele faz? 

Inventa explicações metafísicas (a ira de Deus, castigo dos céus, demônios se rebelando) porque, vestindo de "humanidade" esses fenômenos "selvagens", conseguimos manter a ilusão de tê-los sob nosso controle.

O vazio, a carência e o medo do homem são tamanhos que ele não consegue viver num mundo que não tenha a "sua cara”!!

Quando Allan Kardec sob os cuidados dos espíritos veneráveis nos adverte que o “sobrenatural” é a manifestação de leis “naturais” que desconhecemos, ele está nos mostrando que a Natureza não se curva aos desmandos ególatras e biocidas do sapiens porque, como frutos de uma evolução milenar, somos parte da teia da vida e não dono e senhor dela.

O mundo contemporâneo trouxe à tona questões axiais como o aquecimento global, extinção de espécies, monoculturas e riscos à saúde humana pela invasão, na metrópole, de vírus que viviam em seus “lares” nas árvores e mares. Com a destruição desses biomas, o homo sapiens abriu um horizonte perigoso de contato com micro-organismos nocivos e contagiosos.

O surto de epidemias e pandemias é a consequência dos excessos de interferência do homem na natureza. O planeta, à luz da hipótese Gaia de Lynn Margulis e James Lovelock, não está se vingando. É antropomorfismo atribuir a seres inanimados características humanas, mas o planeta como um organismo vivo está nos devolvendo o fruto de nosso plantio.

Na jornada seminal do espírito pela matéria, ele traz suas expiações, provações e missões. Tais tarefas orquestradas previamente em seu processo de reencarne coloca-o como a espécie dominante do planeta, porém como cooperador do grande concerto divino e da harmonia cósmica.

Todas as espécies devem ser solidárias em sua caminhada evolutiva.

Desde o reino mineral, até o hominal, o princípio inteligente que ensaia sua individualização e autonomia perante a lei divina, é o grande jardineiro desse lindo pálido ponto azul na imensidão. O orbe terreno, como morada das almas expiatórias, merece ser protegido e cuidado.

Numa interdependência conatural, todos precisam de todos....

Em respeito e harmonia com as necessidades das outras espécies, é preciso colocar limites em nossos anseios predatórios e estabelecer estruturas econômicas, pedagógicas, sanitárias, que assegurem a vida para as gerações futuras.

Quando se fala em transição planetária, não são apenas os humanoides na superfície do planeta galgando níveis superiores de consciência. O próprio planeta também possui sua linha evolutiva, pois, como afirmou Santo Agostinho, “os mundos também evoluem...”

Conviver em paz com o meio ambiente, respeitar a natureza, proteger os animais e trabalhar por um planeta saudável talvez seja uma das maiores caridades que se pode fazer enquanto espírito encarnado rumo à perfeição.

 

João Márcio F. Cruz, bacharel em Letras e especialista em Saúde Pública, é psicanalista clínico, palestrante espírita e autor dos livros Os Quatro Pilares da Educação e O Espiritismo e o encontro com a própria sombra.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita