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por Ricardo Orestes Forni

 

O homem com micose


O estranho título, a princípio, será explicado. Pode acreditar.

A história que passo a narrar com minhas palavras foi encontrada no excelente livro (mais um, aliás) do Dr. José Carlos de Lucca, Editora Intelítera, intitulado Pensamentos Que Ajudam.

Um homem com intensa coceira e lesões estranhas na virilha (região localizada entre a coxa e o abdome) procurou um médico buscando o tratamento necessário.

O facultativo examinou o local e explicou ao paciente que precisava levantar alguns dados para a posterior orientação dele, já que se tratava de uma micose.

O doente insistiu com o médico para que passasse apenas a medicação necessária porque o restante eram apenas detalhes.

Diante da recusa do profissional e o argumento de que precisava conhecer a origem do problema e não apenas medicá-lo, o homem, meio relutante, respondeu que trabalhava com cavalos.

O médico insistiu em aprofundar o assunto, o que não agradou ao enfermo, que teimava em obter o remédio sem maiores detalhes já que, em sua opinião leiga, o restante não vinha ao caso. Queria apenas a medicação sem entrar em maiores detalhes.

O facultativo foi firme em sua decisão e não abriu mão da decisão de mais dados para o tratamento adequado.

Diante da postura inabalável do médico o paciente informou que tinha vergonha em se aprofundar no assunto, mas acabou cedendo e explicou que  seu “trabalho” era com cavalos.

Detalhista, o médico quis saber exatamente o que ele fazia junto a esses animais. Constrangido, o homem foi obrigado a revelar que roubava cavalos dos pastos alheios.

O profissional explicou-lhe, então, que ao montar o animal para subtraí-lo dos seus verdadeiros donos, sem nenhum arreio, o contato do corpo do homem com o pelo do cavalo associado ao suor da pele de ambos proporcionava o crescimento de fungos, que eram os responsáveis pela micose que a virilha dele apresentava.

Pegou o receituário e fez duas receitas que passou às mãos do interessado.

Na primeira estava uma pomada antimicótica bastante efetiva.

No segundo papel do receituário estava a medicação mais importante: não roube mais cavalos!

Creio que a imensa maioria da humanidade sofre de “micose” da alma!

Buscamos o socorro da Providência Divina suplicando apenas pela “pomada” para o mal. Não queremos entrar em detalhes sobre a origem daquilo que nos aflige. Aliás, quando obtemos através das diversas religiões a segunda “receita”, não a lemos ou, se a lemos, deixamos esquecida como fizemos e fazemos com o Evangelho de Jesus.

O Evangelho é pleno dessas segundas medicações para a alma, das quais temos tanta necessidade para extinção do mal que nos importuna, mas para o qual desejamos apenas a “pomada” que alivia  e não a cura tão bem representada pelo alerta de Jesus às pessoas que curava e recomendava a não pecar mais!

Dificuldade financeira? Queremos a “pomada” de um novo emprego e não a segunda receita de uma vida financeira mais bem cuidada, mais bem planejada.

Doença que nos importuna? Queremos a “pomada” que traz o alívio e não a segunda receita de reformular a vida íntima para que não ocorra a recidiva do mal.

Tumulto dentro do lar? Buscamos a “pomada” da paz que nos seria dada sem nenhum esforço de nossa parte e não a segunda receita de sermos nós o agente da calmaria.

E assim por diante. Estamos sempre procurando obter a “pomada” que cura rápido e não nos exija maiores investimentos no campo do bem.

Poderíamos invocar como a “segunda receita” para evitar a recidiva do mal a questão de número 919 d’O Livro dos Espíritos em que Santo Agostinho relembra um conselho do templo de Delfos na Grécia antiga e que nos fala sobre o conhecer a si mesmo.

O interessante da resposta de Santo Agostinho é que ele disseca as diversas evasivas que possamos dar em nossa defesa e em defesa do mínimo esforço. A primeira delas é o argumento de que somos brandos conosco e, portanto, seria difícil identificar quando erramos para nos corrigirmos.

A orientação nesses casos é aplicarmos a conduta de troca de lugares. Será que se recebêssemos a ação que estamos a praticar, gostaríamos que assim procedessem para conosco?

Outra receita seria propiciada pela opinião daqueles que se sentem como nossos inimigos. Qual a opinião deles sobre nossa conduta?

Os inimigos não passam as mãos em nossas cabeças. Sobre o que opinarem, é bom refletirmos e analisarmos com coragem e verdade o conteúdo.

Lembro-me de uma passagem na vida de Chico Xavier relatada por um dos seus muitos biógrafos, quando revelam que essa grande alma estava muito triste por terem falado mal dele. Emmanuel se apresenta e, de modo contundente, lhe disse: Se o que dizem for verdade, corrija-se; se não for, continuemos a trabalhar no bem. Nem é preciso dizer qual foi a opção escolhida.

Então, na vida, vemos surgir aqui, ali ou acolá, “micoses” da alma.

Inutilmente buscaremos a “pomada” de ação rápida que pode até trazer o alívio transitório. Mas o uso da “segunda receita” é indispensável para a cura radical do mal.

Desejamos parar de “roubar cavalos”? 

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita