Brasil
por Thiago Bernardes

Ano 16 - N° 788 - 4 de Setembro de 2022

 

 

Aristides de Souza Spínola, vida e obra


Natural de Caetité, Bahia, onde
nasceu em 29 de agosto de 1850, Aristides de Souza Spínola foi advogado, político, deputado, jornalista e, entre inúmeras realizações, um dos fundadores do Jornal do Brasil.

Filho do Cel. Francisco de Souza Spínola, que foi deputado geral em três legislaturas, e de D. Constança Pereira de Souza Spínola, bem cedo revelou-se altamente curioso de tudo que lhe chegasse aos sentidos.

No ano de 1871 bacharelou-se em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife. Abriu, em seguida, a banca de advogado em sua terra natal e realizou, por essa época, diversas excursões pelo interior da Bahia e, particularmente, pelo vale do São Francisco, com o fim de estudar as localidades e colher notas para seus estudos históricos.


A carreira política

Pouco tempo depois, ainda bem jovem, ingressou na carreira política, sendo eleito em 1878 deputado provincial pela Bahia. Em seguida,
por indicação do Dr. Aristides César Spínola Zama, seu primo,
foi nomeado presidente da
Província de Goiás, que administrou nos anos de 1879 e 1880.

Em 1881, na primeira legislatura por meio de eleições diretas, representou  sua terra na Assembleia Geral do Império. Ganhando prestígio sempre crescente ante o eleitorado
baiano, foi reeleito deputado geral
nas legislaturas de 1885 e de 1886 a 1889, sendo que nesta última fora eleito na vaga aberta pela morte de Pedro Carneiro da Silva. Quando foi proclamada a República, em 
novembro de 
1889, ocupava ele o cargo de 1º Secretário da Câmara.

Instalada a República, elegeu-se deputado federal para o período de 1909-1911, verificando-se neste último ano seu afastamento definitivo da política, para se consagrar exclusivamente à advocacia e às atividades espíritas.


Atuação espírita

Em 1905, ingressou na Federação Espírita Brasileira, em que desenvolveu intensa e polimorfa atividade, a ela se dedicando durante 21 anos seguidos, período no qual exerceu a vice-presidência ou a presidência em diversos períodos, de 1905 a 1925, quando desencarnou.

Dentre os serviços prestados à FEB merecem destacados os que teve ensejo de dispensar-lhe como advogado, todas as vezes em que o Espiritismo se viu alvejado pela ciência oficial, sob a forma de perseguições aos médiuns, acusados de exercício ilegal da medicina.

Para conhecermos bem como Aristides Spínola lidava com os problemas que lhe eram apresentados com frequência, vale a pena reproduzir o interessante relato feito por Hilário Silva em uma de suas obras, com o título “Evitando o crime”:


“Era o Dr. Aristides Spínola distinto diretor da Federação Espírita Brasileira, no Rio, quando foi procurado por um amigo do Méier, que lhe comunicou a desesperadora situação no lar.

Tinha esposa e quatro filhas a se voltarem contra ele, em difícil obsessão.

Duas filhas solteiras rixavam com as duas casadas, e os genros, inimigos entre si, injuriavam-no, publicamente, cada qual querendo senhorear a casa. E, no que era mais triste, a esposa ficara moralmente ao lado de um deles, criando-lhe posição insustentável.

A cada momento, era instado a discutir.

Sentia-se tentado a matar um dos genros, mas começara a ler algo da Doutrina Espírita e sentia-se necessitado de orientação.

Não desejava perder a migalha de luz que a fé lhe acendera n'alma.

O Dr. Spínola, que era muito humilde e sereno, aconselhou:

– Evite a discussão.

– E se eu for insultado? – indagou o consulente.

– Conte até sessenta, sem responder.

– Mas, se a provocação continuar?

– Busque mudar de assunto.

– Se for inútil?

– Saia de casa.

– É possível, no entanto, que mo impeçam – tornou o amigo, sinceramente interessado em tratar de todas as minúcias.

– Se isso acontecer, procure isolar-se num quarto, a chave.

– E se abrirem o aposento à força?

– Nesse caso, telefone imediatamente para o Pronto-socorro e espere a ambulância na porta.

– E quando a ambulância chegar?

– Entre nela e recolha-se ao hospital – disse o Dr. Spínola –; isto é melhor que entrar na faixa do crime, comprometendo-se por muitas reencarnações.

O cavalheiro despediu-se mais tranquilo; no entanto, rogou ao prestimoso orientador para que o visitasse, por espírito de caridade, no dia seguinte, a fim de ajudá-lo a conversar com a esposa, que parecia francamente obsedada.

Na manhã seguinte o Dr. Spínola encaminhou-se para o endereço de que se munira; entretanto, ao chegar à porta, deu com uma ambulância que deixava a casa, tilintando, ruidosamente, a pedir caminho...” (Almas em Desfile, segunda parte, cap. 1, psicografia de Chico Xavier.)

Na imprensa

Jornalista respeitado, colaborou em vários jornais. No “Diário da Bahia” escreveu as narrativas de algumas de suas excursões realizadas na juventude. Com o pseudônimo Buxton, defendeu, em “A Pedidos” do “Jornal do Comércio“, do Rio, o Ministério Dantas.

Em 1891 participou, como um dos fundadores, da fundação do Jornal do Brasil, no qual tinha a seu cargo os assuntos políticos.

Além de alguns escritos inéditos e muitos outros estampados em periódicos espíritas e leigos, são de sua pena, entre outras, as seguintes obras: “Presidência do Barão Homem de Melo. Excursões administrativas”, Bahia 1879; “Relatórios sobre a administração da Província de Goiás, 1879-1880 (2 vols.); “Estudo sobre os índios que habitam as margens do rio Araguaia”, memória em que estuda os índios carajás e que se acha anexa ao relatório da exploração desse rio pelo engenheiro J. R. de Morais Jardim, Rio, 1880; “Orçamento do Ministério da Agricultura”, discurso proferido na sessão da Câmara dos Srs. Deputados, em 13 de Julho de 1882, Rio, 1882; “Elemento Servil”, Discursos proferidos em sessões da Câmara, de 22 de Junho e 4 de Junho de 1883, Rio, 1883. Em 1889, deu a público uma tese que apresentou no Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil, versando sobre direitos do comerciante no exercício de sua profissão.

Sob os auspícios da Federação Espírita Brasileira, foi editada, em 1902, a tradução que Spínola fez da obra do Dr. E. Gyel: “Ensaio de revista geral e da interpretação sintética do Espiritismo”.

Em 1915, com o título “Caridade perseguida”, fez imprimir um memorial de recurso criminal.

Sólida erudição espírita, 
teológica
 e jurídica projetaram-lhe o nome dentro e fora do campo espírita sendo-lhe admirados o
critério e a ponderação com que resolvia os problemas administrativos, bem como o espírito evangélico e conciliador
 nos mais delicados e controvertidos assuntos.

Aristides de Souza Spínola 
desencarnou no Rio de Janeiro em 9 de julho de 1925, um mês antes de completar 75 anos.


  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita