Joias da poesia
contemporânea

Autor: Cornélio Pires

 

Conflito e nós

 

“Por que, meu caro Cornélio”,

— Diz você, meu caro Cunha —

“Em matéria de conflito

Tanta gente se acabrunha?”

“A você, hoje no Além,

Vendo as cousas como são,

Pergunto: por que nos homens

Há tanta contradição?

Esbarro, por toda parte,

Neste enigma violento:

Quase ninguém traz na face

O que traz no pensamento!…

Que se vê, depois da morte,

Quanto ao que temos aqui,

No processo em que a pessoa

Vive a lutar contra si?!…”

 

Expõe você, com razão,

A este seu companheiro

Este enorme desafio

Que atormenta o mundo inteiro…

O fato, na essência, é isto:

Tanta presença da dor

É a dívida apresentada

Ao senso do devedor.

Anote: em face da vida,

O Espírito acerta e erra;

Se a Terra é o lugar do erro,

A corrigenda é na Terra.

 

Muito Espírito culpado,

Na mágoa em que se reprova,

No Além pede novo corpo

E emendas em vida nova.

Quando se roga o socorro

A compreensão é perfeita,

Mas depois, quando entre os homens,

Muita gente não aceita.

A intervenção vem de Deus,

Mas se a pessoa resiste,

É aquilo que vemos sempre:

Muita luta em quadro triste.

 

Noutra vida em muita dança,

Culpou-se a nossa Lelé…

Ela agora quer dançar,

Mas tem doença no pé.

Lisbelina, no passado,

Fez os abortos que quis,

Hoje tem lar, mas sem filhos,

Senhora nobre e infeliz.

Noutra época, Cesária

Foi linda e astuta mulher,

Agora em nova existência

Tem o corpo que não quer.

Em vida passada, o Juca

Do sexo fez leilão,

Tem agora o resultado:

Angústia e insatisfação.

Fez muito abuso no afeto

Juvenal do Chafariz,

Hoje tem corpo incapaz

De casamento feliz.

Cantora arruinando lares,

Foi Gina de Casa Santa…

Renasceu… Quer ser cantora

Mas tem calos na garganta.

Viveu dormindo nos copos

O nosso Ramiro Fraga,

Renasceu, doente em luta,

Trazendo o estômago em chaga.

Foi bela, mas foi maldosa

A nossa Amélia Ventura,

Renascida, tem achaques

Que a medicina não cura.

Téo arrasou muitas jovens,

Dizendo querer e amar,

Hoje, ele tem casa grande

Mas nota que não tem lar.

Era belo o nosso Arício

Endoidando corações…

Morreu… E nasceu de novo,

Em velha tribo de anões.

 

Observa-se, em verdade:

Conflito não surge em vão…

É defesa, tratamento,

Remédio, apoio, lição.

Reencarna-se, só por si,

Buscando a luz que nos falta,

- Ser alma e corpo a um só tempo -

É conflito em dose alta.

A vida é um mar… Somos barcos,

Os outros, você e eu…

Cada qual segue levando

A carga que recolheu.

 

Do livro Conversa firme, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita