Especial

por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Colônias espirituais seriam lugares circunscritos, como assim?  - Parte 2 e final

 

Em nossa pesquisa, publicada no livro As Colônias Espirituais e a Codificação, encontramos mais obras que trazem informações de construções no plano espiritual, bem anteriores à literatura André Luiz:

  

As obras dessa lista fazem parte das 39 fontes nas quais há referências à construções no plano espiritual. Número significativo, considerando que em relação à elaboração do conteúdo da primeira edição de O Livro dos Espíritos o Codificador literalmente disse: “[…] Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a este trabalho” ([1]).


Nas obras da Codificação

Inicialmente, é importante citarmos dois pontos, sobre os quais o horizonte do entendimento irá se descortinar, pois tornará mais clara a questão:

1º) Mundos transitórios

Passa despercebido a muita gente a existência desses mundos. Segundo conta das questões 234 a 236 de O Livro dos Espíritos, a superfície deles é estéril e servem de habitação a Espíritos desencarnados, como dito são “lugares em que possam repousar de uma erraticidade demasiado longa” ([2]). Essa condição é temporária, pois não se conservam perpetuamente destinados aos Espíritos errante. Então, aqui temos “lugares circunscritos” ou estamos indo longe demais?

2º) Mundo visível que nos é invisível

Na Revista Espírita 1858, mês de março, temos o artigo “Júpiter e alguns outros mundos”, do qual tomaremos estes três parágrafos:

De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os aspectos, é Júpiter. Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça, porque não há senão bons Espíritos. Pode-se fazer um ideia do feliz estado dos seus habitantes pelo quadro que demos do mundo habitado sem a participação dos Espíritos da segunda ordem.

A superioridade de Júpiter não está somente no estado moral dos seus habitantes; está, também, na sua constituição física. Eis a descrição que nos foi dada, desse mundo privilegiado, onde encontramos a maioria dos homens de bem que honraram nossa Terra pelas suas virtudes e seus talentos.

A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a matéria, da qual o corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa, depois da morte, sem ser submetida à decomposição pútrida. Ali não existe a maioria das enfermidades que nos afligem, sobretudo aquelas que têm sua fonte nos excessos de todos os gêneros e na desordem causada pelas paixões. A alimentação está em relação com essa organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se compõe de frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior parte do meio ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A duração da vida é, proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a média equivale a cinco dos nossos séculos. O desenvolvimento também é muito mais rápido, e a infância dura apenas alguns de nossos meses.

Sob esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a linguagem articulada; […].

Os animais não estão excluídos desse estado progressivo, sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o aspecto físico; seus corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à Terra. Sua inteligência é mais desenvolvida do que nos nossos; a estrutura dos seus membros se dobra a todas exigências do trabalho; são encarregados da execução de obras manuais; são os servidores e os operários: as ocupações dos homens são puramente intelectuais. O homem é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que jamais abusa do seu poder para oprimi-los. ([3]) (itálico do original, negrito nosso)

Para a ciência humana o planeta Júpiter não é habitado. Estariam os Espíritos equivocados ao tê-lo como tal? Allan Kardec, por sua vez, se deixou enganar?

Curioso é o fato dos que negam a existência de colônias espirituais também não questionarem a habitabilidade de Júpiter, especialmente por se tratar de um planeta gasoso.

Vejamos agora estes três relatos mais objetivos quanto ao tema:

1º) Revista Espírita 1859, mês de setembro.

Do artigo “Confissão de Voltaire”, o nobre iluminista francês, na condição de desencarnado, entre outras coisas, disse:

Foi, eu o digo, zombador e desconfiado que abordei o mundo espírita. Primeiro fui conduzido para longe das habitações dos Espíritos, e percorri o espaço imenso. Em seguida, me foi permitido lançar os olhos sobre as construções maravilhosas das moradas espíritas e, com efeito, elas me pareceram surpreendentes; fui impelido, aqui e ali, por uma força irresistível; tive que ver, e ver até que minha alma transbordasse pelos esplendores, e derrotada diante do poder que controlava tais maravilhas. Enfim, quis me esconder e me agachar no oco das rochas, mas não pude. ([4]) (grifo nosso)

Segue-se, em nota, alguns comentários de Allan Kardec, dos quais destacamos o seguinte trecho: “[…] Nunca talvez um quadro mais grandioso e mais impressionante foi dado do mundo espírita, e da influência das ideias terrestres sobre as ideias de além-túmulo. […].” ([5])

2º) Revista Espírita 1865, mês de maio.

Mensagem “Sobre as criações fluídicas” assinada por Mesmer:

O mundo dos invisíveis é como o vosso; em lugar de ser material e grosseiro, é fluídico, etéreo, […].

O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; é o vosso que é uma grosseira e muito imperfeita imagem do reino de além-túmulo. ([6]) (itálico do original, negrito nosso)

Mais claro que isso é impossível. Então, por que a resistência?

3º) O Céu e o Inferno, Segunda parte, cap. II – Espíritos Felizes, Condessa Paula.

Allan Kardec após destacar as qualidades morais, informando que a Condessa havia falecido aos 36 anos de idade, no ano de 1851, relata que “um de seus parentes, evocou-a doze anos depois de falecida, e obteve, em resposta a diversas perguntas, a seguinte comunicação”:

[…] O que é, no entanto, essa felicidade comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio? E o que dizer desses horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d'alma! E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte! […]. ([7]) (grifo nosso)

Eis a afirmação clara e objetiva da existência de “moradas aéreas”.


Conclusão

Sinceramente ficamos surpreendidos com os espíritas que negam a existência das colônias, entendidas, como construções no mundo espiritual. Como bem disse Herculano Pires o detalhamento delas oferecido por André Luiz é a maneira dele as ver, porém, não faz sentido nenhum negá-las diante de tudo que, na atualidade, podemos encontrar a respeito delas.

Ficamos muito preocupados com os amigos expositores que vêm a público dizer o contrário, pois estão se expondo como pesquisadores de superfície, demonstrando que não foram ao fundo da questão, situação em que a existência delas é inegável.

 

Referências bibliográficas:

KARDEC, A. O Céu e o Inferno. Brasília: FEB, 2013.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013.

KARDEC, A. Revista Espírita 1858. Araras (SP): IDE, 2001.

KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras (SP): IDE, 1993.

KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras (SP): IDE, 2000.

KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras (SP): IDE, 1999.

PIRES, J. H. O Infinito e o Finito. São Bernardo do Campo (SP): Correio Fraterno, 1983.

SILVA NETO SOBRINHO, P. As Colônias Espirituais e a Codificação. Divinópolis (MG): Ethos Editora, 2015.

MICHAELIS, Circunscrito, disponível em: Link-1. Acesso em 16 abr. 2022.


 

[1]       KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 301.

[2]       KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 152.

[3]       KARDEC, Revista Espírita 1858, p. 73-74.

[4]       KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 237-238.

[5]       KARDEC, Revista Espírita 1859, p. 238.

[6]       KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 160.

[7]       KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 201.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita