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por Juan Carlos Orozco

 

Um vaso impuro contamina a substância que por ele passa


Ao ler o livro “Terapia pelos passes”, do projeto Manoel Philomeno de Miranda, deparei-me com as seguintes frases: “... um vaso impuro contamina a substância que por ele passa ...”; e “... a luz do Divino Amor não pode ser coada com transparência através de um filtro excessivamente impuro, sob a pena de desfigurarem-se os princípios das Leis que regem a Vida”. Essas frases estão no contexto da importância da influência moral dos médiuns em seus trabalhos fraternos.

As frases também me fizeram lembrar o texto “Explicações do Mestre”, do Espírito Neio Lúcio, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, no livro “Jesus no lar”, em que o Mestre Jesus, durante as conversações com Sara, foi inquerido pela interlocutora:

“– A ideia do Reino de Deus, em nossas vidas, é realmente sublime; todavia, como iniciar-me nela? Temos ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão... Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como sendo propriedade minha. (...)

Em todos os presentes, transparecia ansiosa expectativa quanto ao pronunciamento do Senhor, que falou, em seguida a longo silêncio:

– Sara, qual é o serviço fundamental de tua casa?

– É a criação de cabras – redarguiu a interpelada, curiosa.

– Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?

– Senhor, antes de qualquer providência, é imprescindível lavar, cautelosamente, o vaso em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.

Jesus sorriu e explanou:

– Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. (...) O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus. (...)

O Mestre, porém, levantando-se com discrição e humildade, afagou os cabelos da senhora que o interpelara e concluiu, generoso:

– O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.”

Os ensinamentos das citadas frases e do texto de Neio Lúcio são motivadores para procuramos a renovação íntima, limpando os vasos da alma para retirar as impurezas que possam contaminar a revelação celeste em benefício próprio e de nossos semelhantes, assim como degradar o serviço a ser realizado, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher.

No mesmo contexto, podemos citar a passagem evangélica “vestes novas e odres novos”, quando Jesus propõe a renovação interior pela aquisição de virtudes morais essenciais que servem de base para o processo de melhoria do ser humano.

“Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser posto em odres novos”. (Marcos, 2: 21-22; Mateus, 9: 16-17)

Pela mensagem evangélica, será trabalho inglório remendar roupa velha, desgastada pelo tempo de uso, com remendo novo. Tal tentativa ampliará a rotura ou o rasgão. Para mudar a situação aflitiva de sua vida, tem que fazer diferente, mudar e renovar.

A mensagem estimula a todos que querem se afastar dos comportamentos infelizes e pretendem operar no bem, seguindo os ensinamentos do Cristo. É preciso romper com os antigos padrões comportamentais, a “veste velha” e os “odres velhos”.

Quem deseja implementar mudanças de comportamento, deve estar consciente de que essa transformação começa dentro de você, sob novas bases.

Será ilusão remendar as suas imperfeições, maquiando-as, ou fazer remendos parciais na própria personalidade, porquanto resultarão em frustrações e desilusões que acabarão por fazê-lo sofrer quando estiver frente a frente com a realidade.

Escolhendo o caminho da reforma íntima, faça uma autoanálise, tornando-se mais consciente de si mesmo e dos seus recursos latentes, libertando-se dos sentimentos inferiores mediante o esforço edificante na prática do amor e da caridade.

Nessa direção, a aceitação do Evangelho de Jesus representa a veste nova e o vinho novo, livre de impurezas. Renove-se agora, pois ninguém aproveita remendo novo em pano velho, desfaça-se do imprestável e inútil, esqueça os enganos que lhe assaltaram e afasta as aflições e angústias que somente produzem quedas.

Esses ensinamentos corroboram com outra citação evangélica: “A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos nos espinheiros, nem cachos de uvas nas sarças. O homem de bem tira boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira as más do mau tesouro do seu coração; porquanto, a boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas, 6: 43-45)

Todas essas reflexões cuidam de quão importante é a influência moral dos médiuns em seus trabalhos fraternos para os seus compromissos assumidos no plano espiritual antes de iniciarem as suas missões em novas existências.

As atividades mediúnicas sérias exigem responsabilidades morais dos médiuns, que devem se evangelizar mediante os estudos necessários e no trabalho edificante na prática do bem, porquanto não há dúvidas de que o médium exerce significativa influência moral nas mensagens mediúnicas recebidas. Caso contrário, haverá contaminação.

O egoísmo e o orgulho são graves obstáculos à prática mediúnica harmônica, pois que são dois corredores sombrios, inclinando-nos ao vício e à delinquência, em angustiantes processos obsessivos. Só o bem é capaz de filtrar a inspiração divina, mas, para isso, é indispensável não apenas admirá-lo e divulgá-lo; acima de tudo, é preciso querê-lo e praticá-lo com todas as forças do coração.

O médium, como instrumento, exerce grande influência sob o aspecto moral, porquanto o Espírito desencarnado identifica-se com o Espírito do médium mediante simpatia e afinidade para se comunicar.

A alma do médium exerce uma atração ou repulsão sobre o Espírito comunicante, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, sendo que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm agrupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados.

Os Espíritos inferiores exploram com habilidade o orgulho dos médiuns, que cega e causa a queda de muitos medianeiros que poderiam ser instrumentos notáveis e úteis. Presos a Espíritos mentirosos, as faculdades mediúnicas, depois de pervertidas, são aniquiladas, humilhando os médiuns em amargas decepções.

Por outro lado, o médium, que compreende o seu dever, atribui a Deus as boas coisas que obtém, afastando o orgulho de uma faculdade que não lhe pertence, visto que ela pode ser retirada.

Sendo assim, evidencia-se a todos aqueles que se dedicam ao trato da mediunidade a necessidade de empreenderem os melhores esforços para a própria renovação moral, buscando, dia a dia, transformar as antigas imperfeições em valores positivos da alma, uma vez que, só desse modo, encontrarão a paz da consciência pela certeza do dever cumprido.

Comecemos pela reforma íntima, dando novo rumo à vida pela renovação que liberta, substituindo sentimentos inferiores pelos mais elevados. Devemos modificar os velhos hábitos que cristalizam o coração, abandonando-os por não satisfazerem a paz interior.

O momento de transição pede maior espiritualização, substituindo as velhas fórmulas da ignorância, da opressão política ou religiosa, moral ou econômica, pelas elevadas noções de fraternidade do Cristianismo.

A mediunidade, igualmente, precisa sublimar-se. Elevar-se napráticas mediúnicas. A mediunidade se enriquecerá de novas e incomparáveis expressões de nobreza, pela fraternidade que ajuda e socorre, que perdoa e consola. Os médiuns serão os legítimos transformadores de luz espiritual.

Quando nos moralizarmos e tornarmos realmente altruístas, nos converteremos em fontes luminosas, ligando o Céu e a Terra. Se desejamos sublimar as nossas faculdades mediúnicas, temos que nos educar, transformando o coração em um altar de fraternidade.

A Era do Espírito pede a conquista de nós mesmos, luta incessante, trabalho e responsabilidades. É o futuro acenando-nos com as suas mãos de luz para a realização das obras celestiais.

O médium que vigia a própria vida, disciplina as emoções, cultiva as virtudes cristãs e oferece ao Senhor, multiplicados, os talentos que por empréstimo lhe foram confiados, estará, no silêncio de suas dores e de seus sacrifícios, preparando o seu caminho de elevação para o Céu.

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier; coordenação de Saulo Cesar Ribeiro da Silva. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Mateus.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

FRANCO, Divaldo Pereira. Terapia pelos passes. 10ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.

LÚCIO, Neio (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Jesus no lar. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016. 

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa II. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 27ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita