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por Cláudio Bueno da Silva

 

Na velhice ou na doença


Grande parte das pessoas não se importa com o futuro, nem desta vida nem da “outra”, que sequer conhece. Concentra toda a sua energia vivendo intensamente “o que a vida pode oferecer”, aqui e agora.  Com essa entrega quase total às preocupações materiais, reflexões importantes ficam sem cuidado e só serão lembradas na velhice ou na doença grave.

Uma dessas reflexões é sobre a morte. Para os que se julgam “de bem com a vida”, essa é a última coisa em que querem pensar. Talvez isso se deva ao modo como, historicamente, se tem tratado a morte, sempre pintada com cores escuras e enfeitada com os adereços do horror e do pesar.

Mesmo sabendo que a morte nos acompanha a cada dia, não se consegue falar dela com profundidade. Para uns é apenas o “outro lado”, para outros o “desconhecido”.

Mesmo sendo uma questão tão natural e cotidiana, as populações têm dela vagas intuições, e a maioria desconhece que o modo de vida no corpo determina a condição de vida depois da morte.

O comportamento mental impregna o corpo espiritual da energia que predominou durante toda a existência. Por isso o Espiritismo ensina que as pessoas “materializadas” passam apuros depois de morrer, porque a vida continua e com ela, tudo o que se acumulou. As energias do prolongado contato com a matéria, criando hábitos e vínculos mentais, “pesam” sobre o espírito, positiva ou negativamente.

Se as religiões explicassem a morte saberíamos como viver melhor. Mas não só elas, também a ciência menos orgulhosa, a família mais interessada, a escola, a universidade, juntando saberes e experiências poderiam ajudar a dissolver o mito da morte. Sabendo-se imortais, com a possibilidade de ir e voltar, entenderíamos que a morte é uma porta aberta para o autoconhecimento. Entenderíamos que a formação integral do ser humano se dá no mundo físico e no espiritual, com plena atividade nos dois campos.

Com essa aliança de saberes e convicções compreenderíamos que vida e morte se revezam continuamente por toda a natureza. E, ao invés da desconfiança e da incredulidade, poderíamos planejar o nosso futuro com mais segurança, dedicando cada minuto da vida atual a somar experiências úteis também para o lado de lá, onde não há inércia nem vazio.

Refletir sobre a morte é preparar-se através do conhecimento. Individualmente, não precisamos que a ciência dita oficial dê a última palavra sobre a imortalidade da alma e seus desdobramentos, e também não podemos esperar mais que as religiões dogmáticas expliquem a morte.

Há milhares de páginas publicadas sobre o assunto, há inumeráveis estudos, pesquisas e relatos de homens sérios, não contaminados pelo orgulho científico nem pelo primarismo dos dogmas religiosos, esperando serem conhecidos pelos interessados.

Se procurarmos as respostas, sem medo e preconceito, chegaremos à importante constatação de que a vida continua sem interrupção, onde quer que estejamos – do lado carnal ou do lado invisível –, e isso mudará tudo. Perceberemos de imediato que o enorme esforço que se emprega na vida material para se chegar na maioria das vezes a resultados pífios e ilusórios, poderia ser canalizado para a construção do nosso ideal referente ao espírito.

Em Educação para a morte (Correio Fraterno, 1984), Herculano Pires afirma: “A necessidade de uma tomada universal de consciência sobre o sentido, o significado e o valor da morte tornou-se imperiosa. É simplesmente inadmissível, neste século, qualquer doutrina que pretenda sustentar por simples argumentos que a morte é o fim e a frustração total dos seres vivos e especialmente da criatura humana.”

É preciso ter uma dimensão mais exata da vida e compreender que a morte faz parte dela.

 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita