Artigos

por Paulo Hayashi Jr.

 

Orações e mantras para a nossa proteção


A correria do dia a dia, os eventos inesperados que emergem e nos adicionam preocupações sobressalentes, as situações desagradáveis que nos chamam para o pronto atendimento são condições dos tempos atuais a que todos estão sujeitos. Mais do que a busca pelo isolacionismo e o evitamento radical dos imprevistos, devemos ter à nossa disposição o uso de certas técnicas e instrumentos que podem nos facilitar o reequilíbrio. Um processo dinâmico de harmonia, pois como bem nos lembra o físico Albert Einstein: “A vida é igual a andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento”.

Nesta busca constante pelo equilíbrio, a oração ocupa espaço de destaque neste contexto. Assim, nos recorda Emmanuel: “A oração refrigera, alivia, exalta, esclarece, eleva, mas, sobretudo afeiçoa o coração ao serviço divino[1]”.

Por meio dela, conseguimos organizar melhor os nossos pensamentos e ideias, bem como de buscar foco e energia para que os esforços de harmonia e progresso sejam realizados. Em situações extremas, a oração recompõe o indivíduo que está se desintegrando no desespero e na dor. Por meio da oração, os pedidos de ajuda são expressos e também há a troca entre os diferentes planos. A prece é “prodigioso poder espiritual comunicando emoções e pensamentos, imagens e ideias, desafiando empecilhos, limpando estradas, reformando concepções e melhorando o quadro mental em que nos cabe cumprir a tarefa a que o Pai nos convoca[2]”.

Todavia, frisa-se que mesmo a oração, como todo instrumento, precisa ser utilizado de modo justo e adequado. Não são apenas as palavras, mas as intenções e sentimentos, confiança e harmonia que auxiliam na potencialização da oração[3].

Orar é contar com precioso recurso divino, todavia não é orando apenas uma única vez que o problema desaparece. Tampouco é cruzando os braços sem nada fazer. É preciso que se busque a renovação das forças e do ânimo para que o indivíduo construa a estrada por onde andará. É ser artesão da própria obra e vida. Assim, a repetição da oração é prática bem quista e bem vinda. Repetir de maneira seriada, seja mentalmente ou em palavras, acaba se aproximando da execução da técnica do mantra.

Mantra é a palavra em sânscrito que significa instrumento para a mente, seja proteção, limpeza ou fortalecimento. Repetir determinados sons, palavras ou orações auxilia na organização do mundo interior para agir, no exterior, de modo claro, preciso e com vigor. Em outras palavras, é adentrar em um modo profundo do ser. Entretanto, práticas de repetição seriada de orações são comuns tanto em tradições cristãs como em tradições orientais, tais como a yoga e o budismo.

Por exemplo, no Cristianismo tem-se o rosário ou “coroa de rosas” como um instrumento e prática de recitação seriada de cantos e orações. Inicialmente surgiu da tradição de se cantar os 150 salmos e com o tempo o rosário passou então para as orações[4]. Devido às necessidades e mudanças de contexto, do rosário surgiu a prática do terço () com 50 contos. Todavia, desde 2002, foram adicionadas 5 dezenas a mais ao objeto, contando então o rosário com 200 contas. O terço manteve a mesma quantidade inicial de pedras ou orações. Já na tradição oriental, o instrumento de contagem é o japamala e é constituído de 108 contas e que auxilia no controle das repetições.

Se com a oração inicial há o contato providencial, com o mantra há a intensificação deste canal. A recitação de maneira seriada e repetitiva faz com que se alcance uma conjuntura ímpar entre relaxamento e sentido interior ampliado, o que permite uma compreensão superior dos eventos e fenômenos. Além disso, fornece condições para que a mente consiga trabalhar em seu nível inconsciente, pois, na parte consciente, ela ficou “presa” à frase ou oração estipulada.

Na visão tradicional do hinduísmo, a mente é como uma espécie de macaco e por isso salta de pensamento em pensamento. Quando ocorre algo inesperado e ruim, é comum a ideia fixa recorrente e por isso que o mantra auxilia na proteção mental e na dissipação desta rigidez. Ao invés da mente repetir o pensamento ruim, ela fica atada a uma prece ou sentença afirmativa. Em outras palavras, evita-se que uma ideia fixa maliciosa ganhe proporções maiores, uma vez que é mais fácil extirpar a erva daninha quando ela ainda não fincou raízes profundas.

Além de orações, pode-se repetir determinados sons e até mesmo frases com conteúdo positivo para que se possa auxiliar no restabelecimento do equilíbrio mental e que o “calor do momento” tenha passado.

Com a prática do mantra, a mente consegue adentrar em um estado de relaxamento e de não vigília consciente, o que possibilita uma melhor conexão do indivíduo com o seu mundo interior. É a prática de se conectar com mais propriedade aos recursos psíquicos, mesmo em situação da pessoa estar acordada. De certo modo, o mantra pode ser uma das formas de atender ao chamado de Cristo: "Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco[5]".

Outro ponto de destaque é que as orações e os mantras podem ser utilizados tanto para os processos de limpeza e equilíbrio mental e emocional, quanto no fortalecimento do indivíduo para que as fortalezas interiores estejam vigorosas quando novos imprevistos vierem. Além disso, o uso de repetição de frases positivas pode influenciar na ultrapassagem de más tendências depreciativas ou de amenizar as marcas deixadas por eventos traumáticos, por exemplo[6]. É o uso deliberado do verbo de modo a refazer pontes emocionais dentro do próprio reino interior.

Repetir orações, palavras afirmativas e até mesmo trechos de música com caráter edificante nos auxiliam nesta desafiadora caminhada pela Terra. É importante frisar que não há necessidade de fórmulas estranhas ou exóticas para a prática de mantras, apenas que a frase ou sentença tenha conteúdo positivo. O bom senso se faz necessário também. O mesmo se pode dizer de rezar com desinteresse, contando como bônus apenas as horas passadas. Não é pela aparência que a reforma íntima é conquistada.

Como bons aprendizes, precisamos aprender a utilizar os instrumentos divinos à nossa disposição de modo apropriado, pois a fé raciocinada nos exige também o uso da razão para que consigamos nos proteger e progredir de modo contínuo. Sejamos então gratos pelas dificuldades que a vida nos traz, mesmo de forma inesperada, pois são situações assim que aceleram nossa aprendizagem. Quanto maiores os desafios, maiores as recompensas. Sem esquecer do amparo e do acolhimento.

Portanto, tenhamos tanto a oração quanto sua repetição e os mantras como instrumentos de conexão e manutenção de nosso alinhamento com as inspirações do alto, reforçando ainda mais a nossa afinidade com Deus e a continuidade de nosso trabalho na terra[7].


 

[1] Emmanuel. Cap. 21. Oração e
renovação. Vinha de Luz. Brasília: FEB Ed., 2018, p. 55.


[2] Emmanuel. Cap. 98. A prece recompõe. Vinha de Luz. Brasília: FEB Ed., 2018, p. 209-10.


[3] Emmanuel. Cap. 98. A prece recompõe. Vinha de Luz. Brasília: FEB Ed., 2018.


[4] Superinteressante. Qual é a origem do

terço católico. 14 de Setembro de 2017: 
link-1  


[5] Marcos 6:31.
 

[6] Blander, R.; Grinder, J. Sapos em
príncipes
 São Paulo: Summus editorial, 1982.


[7] Escrito em homenagem aos meus queridos genitores, Paulo Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se encontram na Pátria Espiritual.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita