Artigos

por José Lucas

O fanatismo não é para… espíritas!

Nos momentos difíceis da vida é que se vê o valor das pessoas, o seu estado de alma, as suas acções e reacções que acabam por falar por elas, mostrando o seu patamar psicológico e espiritual. O fanatismo é normal num ser humano, numa Sociedade? O que nos diz o Espiritismo acerca deste tema?

Um modelo e actor russo, enviou vídeos recebidos de amigos ucranianos, para a sua mãe, na Rússia, denunciando as mentiras de Putin, as chacinas, os massacres ocorridos no país invadido. A mãe de Jean-Michel Scherbak, embrenhada na propaganda do regime russo, de Putin, fez algo impensável para um ser humano minimamente equilibrado: deserdou o filho, por não apoiar a invasão russa e, disse-lhe: “Já não és meu filho”.

O fanatismo, de acordo com os dicionários, é uma paixão excessiva, doentia.

Manifesta-se, de um modo geral, no âmbito religioso, político, futebolístico, sendo fácil de encontrar esta situação que, sempre gera desentendimentos, crispações e quebras de relações interpessoais.

Com o aparecimento da COVID 19 a situação exacerbou-se a tal ponto, entre defensores e opositores das vacinas e das máscaras, que as relações sociais foram severamente afectadas.

Amigos deixaram de o ser, amigos de redes sociais agrediam-se verbal e mutuamente e, mutuamente se bloqueavam, deixando de se falar.

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin, não falta quem justifique tal barbárie, culpando os americanos por algo que apenas aos russos compete atribuir responsabilidades.

Esgrimem-se argumentos, todos eles “válidos”, de acordo com o ponto de vista de cada um, que não deixa de ser isso mesmo: um ponto de vista.

 

O fanático transforma o seu ponto de vista em paixão doentia, em verdade absolutadesviando-se do bom senso e alimentando-se do seu próprio orgulho

 

Tal estado de alma retira a capacidade de raciocinar com serenidade.

As pessoas afastam-se, isolam-se na sua monoidéia, num processo de auto-obsessão que, pode degenerar em obsessão espiritual (interferência negativa de um Espírito inferior sobre o pensamento de quem com ele sintoniza, mentalmente).

Allan Kardec, na sua magistral obra “O Livro dos Espíritos”, item 908, refere: “As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa. Reconhecei, pois, que uma paixão torna-se perniciosa no momento em que a deixais de governar e, quando resulta num prejuízo qualquer para vós ou para outro.”

A Doutrina Espírita (ou Espiritismo) é uma filosofia de vida, baseada em factos, pesquisáveis e comprováveis que demonstram que somos um Espírito imortal, temporariamente num corpo de carne, em intercâmbio permanente com o plano espiritual, semeando e colhendo, vida após vida, rumo ao estado de Espírito-puro, um dia.

Apresenta-nos a “Lei de Sociedade” como Lei divina que nos permite a evolução intelectual e moral, no contacto mútuo e permanente entre todos, aprendendo e ensinando, nesse ciclo sem fim, de evolução.

Um ditado popular enquadra-se perfeitamente nesta doutrina:

Se as pessoas existem para serem amadas e as coisas para serem usadas, porque usamos as pessoas e amamos as coisas?

Não faz sentido, numa Sociedade que quer, um dia, ser mais evoluída do ponto de vista moral!

Se as pessoas são imortais e as opiniões passageiras, fazer finca pé numa opinião, ao ponto de se afastar de amigos de sempre é atitude que denota enorme egoísmo, falta de senso e muito fanatismo.

O Espiritismo não vai por aí.

Enquadra-se mais no pensamento (de origem desconhecida): “O meu amigo não é o que pensa como eu, mas, o que pensa comigo”.

O Engº Hernani Guimarães Andrade, o cientista espírita do século XX, brasileiro, dizia com muita graça que “as opiniões são como os narizes: todos temos um, diferente e, ninguém tem o direito de esmurrar o nariz alheio.

Embora possam existir pessoas adeptas do espiritismo, que são fanáticas em algum ponto da sua vida, essas atitudes nada têm a ver com a doutrina espírita (codificada por Allan Kardec) que se apresentou ao mundo, em 1857, como uma ciência filosófica de consequências morais, destinada a qualquer pessoa deste planeta, independentemente das suas convicções, sejam de que cariz forem.

A felicidade não consiste em ter razão mas, em entender, fraternalmente, o ponto de vista alheio, mesmo se equivocado, na certeza de que amanhã o equivocado encontrará novo rumo mais certeiro.

Fazer ao próximo o que desejamos para nós mesmos, é a pedra de toque do Espiritismo e, nesse amplo sentimento de fraternidade, solidariedade e Amor, não há lugar para o fanatismo.

O fanatismo não é para… espíritas!!!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita