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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Outros aspectos da dor e do sofrimento


Nota-se com relativa clareza que, de uns tempos para cá, passou-se a enxergar a vida sob uma perspectiva mais realista, na qual a questão do sofrimento deixou de ser anatematizada. De fato, torna-se crescente agora a sua aceitação à medida que certos movimentos sociais e populares contribuem para tal. Por exemplo, especificamente na área musical um novo gênero foi cunhado, ou seja, o da chamada “sofrência” (neologismo recentemente incorporado ao vernáculo).

De maneira similar, no futebol – esporte extremamente apreciado –, os treinadores e analistas passaram a aludir sobre a necessidade de uma equipe a também desenvolver a capacidade de sofrer para ser bem sucedida. Dito de outra forma, um time precisa ser capaz de resistir às investidas do adversário para algo conquistar. Em suma, parece que o sofrimento está deixando de ser visto e tratado como algo mítico e/ou abominável. Portanto, nada mais natural, já que a realidade mostra a sua presença em todos os cantos.

Com efeito, o sofrimento e, por conseguinte, as dores de variados matizes atingem a tudo e a todos nesse mundo. Sendo a Terra um orbe moralmente atrasado, abriga em seu seio considerável contingente de habitantes portadores de profundas máculas em suas consciências. E o remédio salutar idealizado por Deus para que os indivíduos se redimam de seus atos tresloucados, bem como avancem espiritualmente, é o da dor. Não é por outra razão que a observamos de maneira onipresente afligindo às criaturas. De fato, homens e animais igualmente sentem os seus acicates como a lembra-los tratar-se de recurso indispensável para que desenvolvam valores e virtudes. Se o objetivo traçado pelo Criador para nós é a conquista da perfeição, sem a experiência da dor e do sofrimento então, tal desiderato não seria alcançado.

Lembra-nos, a propósito, o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Após a Tempestade... (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que “O santo e o apóstolo, o anjo e o missionário são trabalhadores na forja ardente do sofrimento purificador, tomando forma na bigorna e no malho das aflições que suportam e vencem”. Alerta-nos ainda a respeitada entidade espiritual que “... a dor e o agravo, a angústia e o desespero são vigorosas terapêuticas da vida para que o enfermo espiritual inveterado se preocupe com a cura real e se volte em definitivo para os elevados objetivos da Vida Maior, em cujo rumo se encontra desde agora [...]”.

Depreende-se, assim, que as adversidades, os reveses e as dores físicas e morais são etapas de aprendizado para o nosso progresso e redenção espiritual. Desse modo, em variados degraus haveremos de enfrentá-la para que nos despojemos interiormente de toda e qualquer tendência menos feliz. Assim sendo, todos os indivíduos estão igualmente sujeitos a passar por dramas acrisoladores que advém das dores e do sofrimento.

Posto isto, é preciso melhor entender porque trilhamos por esse roteiro. Nesse sentido, o Espírito Druso esclarece, na seminal obra Ação e Reação, ditada pelo Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier), por meio de uma taxonomia, como a dor pode ser interpretada. Primeiramente, a ínclita entidade reitera que se trata de um ingrediente da mais alta relevância no capítulo da vida. Desse modo, tem-se, segundo ele, a dor-evolução que nos acomete de fora para dentro d’alma. Vemo-la, assim, nos animais sacrificados para atendimento de nossas necessidades físicas, nas crianças que a sentem no desenvolvimento da dentição, no funcionamento de certos órgãos e nos tombos (premonitórios de outros mais complexos a caminho).

A outra variante é a dor-expiação que enseja experiências extremamente cáusticas para os Espíritos infratores às leis divinas. Em muitas ocasiões, vale ressaltar, são observáveis pelos estigmas que produzem, assim como em situações existenciais dramáticas nas quais a pobreza e a carência de recursos são salientes. Por fim, a entidade alude às dores-auxílio, vislumbradas para que nos recuperemos de certos deslizes e fracassos adquiridos ao longo da existência em curso, a saber: o enfarte, a trombose, o câncer e outras doenças e enfermidades. Esses casos decorrem da prática de determinados excessos em nosso estilo de vida, cujos efeitos deletérios acabam se manifestando em certo momento.

Seja como for, dificilmente passaremos pela existência terrena sem usufruir de incômodos, aflições e dissabores. No limitado estágio evolutivo em que nos encontramos, esses estados são necessários para que adquiramos equilíbrio, discernimento e força íntima. Não sendo, portanto, possível evitá-los, é melhor, então, compreender porque estão em nossa vida. 

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita