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por Eder Andrade

O Cristo Consolador, segundo o Espiritismo


Contam-nos os “ventos da história” que à beira do Mar da Galileia, aos pés do Monte das Beatitudes ou Monte das Bem-Aventuranças, o Mestre pregou aos seus seguidores o Sermão da Montanha, cuja essência do discurso segundo o Espiritismo era proferir lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a vida cristã. Estes discursos podem ser considerados como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus. No entendimento de hoje segundo a Terceira Revelação, o esclarecimento da continuação da vida, além da morte do corpo físico, assim como a necessidade da reencarnação.

Para melhor ser compreendido e seus ensinamentos assimilados, utilizou situações de conhecimento popular da época, com isso criou as parábolas, que eram histórias de ordem moral, associados por analogia ao que as pessoas conheciam, representavam lições de vida ética e moral.

"Não sejam iguais a eles", disse Jesus (Mateus 6:8)

No Sermão da Montanha ou das Bem-Aventuranças, o Cristo prometeu à multidão ali reunida, que ser diferente no comportamento de ordem moral vigente naquele momento, poderia evitar um possível sofrimento individual ou coletivo para todos nós, em momento futuro. Era o primeiro ensinamento da “Reforma Íntima”, que nos era oferecido de forma simples e carinhosa pelo meigo nazareno, que com seu poderoso magnetismo, impregnou no imaginário daquela multidão suas palavras, deixando gravadas nos recôncavos da alma, na essência do ser, para que um dia viessem a desabrochar. Uma revisão de valores de conduta, indo contra uma sociedade decadente, enferma e hipócrita, não muito diferente do modelo de sociedade que ainda estamos vivendo em nosso dia-a-dia.

Dona Yvonne Pereira, em seu livro Memórias de um Suicida2, relata que o jovem Aníbal de Silas conheceu pessoalmente a Jesus de Nazaré, durante suas pregações inesquecíveis através da sofredora Judéia, foi um daqueles meninos presentes no grupo que Jesus acariciou quando exclamou, demonstrando a inconfundível ternura que mais uma vez expandia entre as ovelhas ainda vacilantes:

“Deixai vir a mim as criancinhas, que delas é o reino dos Céus...”. (Mateus 19:14)

A combinação dessas revelações nos ajudam a perceber que muitos daqueles que conheceram pessoalmente o Mestre, se modificaram de forma profunda, dando ao longo da encarnação e de outras vidas futuras grandes testemunhos como foi por exemplo o caso de João, filho de Zebedeu, depois conhecido como João Evangelista, que foi o apóstolo que seguiu com Jesus, na noite em que foi preso e foi corajoso ao ponto de acompanhar o Mestre até à morte na cruz.

Anos mais tarde em Patmos, ilha no leste do Mar Egeu, local onde fez o seu exílio, transferiu seu conhecimento ao seu colaborador Natan, que o ajudou na elaboração do seu evangelho. Segundo contam os historiadores e espíritas, o isolamento na ilha, levou João a conversar com os pássaros, com a natureza e os animais, habilidade essa que desabrochou séculos mais tarde quando reencarna na Itália como Giovanni di Pietro di Bernardone, um frade católico que ficou conhecido na história da cristandade como Francisco de Assis.

O convite do Cristo aos homens simples era uma mudança de conduta através de revelações de ordem moral e para exemplificar contou a “parábola do fariseu e do publicano”, onde Jesus contrasta um fariseu, obcecado por sua própria virtude, com um publicano que, humildemente, pede a Deus misericórdia.

"…Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração." (I Samuel 16:7).

Ficava difícil ao Cristo explicar a homens simples e ignorantes, conhecimentos de ordem moral, que ainda nos dias de hoje, desafiam a questão da lógica e razão, pois colocam em xeque uma ideia distorcida de liberdade e de livre escolha, em uma sociedade muito conturbada e equivocada, pois ainda está preocupada em colocar os valores materiais acima dos valores espirituais.

Percebendo a necessidade de explicar as verdades espirituais para os corações em sofrimento, prometeu aos homens receptivos, que orassem para Deus nosso Pai, Ele poderia enviar um Consolador, que iria poder em momento oportuno explicar e fazer revelações, as quais naquele momento ele não teria como fazê-lo. Dessa forma o Cristo já acenava com a Terceira Revelação para a Humanidade, com o advento do Espiritismo, porém os homens precisavam antes estarem mais receptivos culturalmente, em sintonia com as verdades que teriam de vir sendo reveladas por intermédio de diversos representantes e segmentos da sociedade, promovendo uma mudança homeopática na conduta ética-moral dos homens diante do seu semelhante, do seu próximo.

“Bem-aventurados os pobres por espírito, porque deles é o Reino de Deus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus”!

Apenas esse fragmento do Sermão da Montanha, já nos dá uma ideia precisa da dimensão de ordem moral dessa “máxima atemporal”, pois ainda nos dias de hoje, dependendo do contexto podemos perfeitamente nos colocarmos no lugar do fariseu, menosprezando o publicano, exatamente como a passagem da parábola contada pelo Mestre no Mar da Galileia, aos pés do Monte das Beatitudes.

A consolação oferecida pelo evangelho e melhor explicada pela Doutrina Espírita ajuda a ressignificar todo um contexto reencarnatório, assim como o fenômeno do desencarne, pois retira o peso do arrastamento do sofrimento, através do esclarecimento libertador, quando passamos a iluminar o nosso caminho com a luz do conhecimento.

“E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz”. (Lucas 8:16)

Todos nós buscamos a candeia da iluminação espiritual e através do Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos um roteiro de código de moral que nos foi trazido por Jesus, explicado através de mensagens ditadas ao grande codificador e facilitador Allan Kardec, pelo Espírito da Verdade.

 

Referências:

1) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB.

2) Pereira, Yvonne do Amaral; Memórias de um Suicida; FEB; 3a. parte; Mansão da Esperança; Pág. 264.

3)  Wikipédia (Enciclopédia livre).

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita