Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

Certa ocasião em que foi entrevistado, Chico Xavier respondeu uma questão muito importante. Era relativa às impressões logo depois da morte e se esse desdobramento espiritual da pessoa viva teria alguma semelhança com os efeitos do ácido lisérgico?

Ele respondeu que a experiência do desdobramento espiritual é muito semelhante à da desencarnação. E narrou sua própria experiência, como segue abaixo:

– Quanto aos efeitos do ácido lisérgico, devo dizer que propriamente neste mundo não tive nenhuma experiência dessa natureza. Mas, em outubro de 1958, ouvi, pela primeira vez, referência a mesclá-la ao ácido lisérgico. Aconteceu que um determinado dia – não me lembro qual, precisamente – amanheci com larga dose de pessimismo; um espírito de indisciplina, de intemperança mental, acreditando que não era uma pessoa feliz, observando cada dificuldade como se tivesse uma lente nos olhos para aumentá-la em todos os sentidos. Perguntei ao Espírito de Emmanuel, que nos dirige há muitos anos, se eu poderia ter uma experiência desta com amigos de Belo Horizonte. Ele me disse que eu não precisava ter essa experiência e que me facultaria um ensinamento, nesse sentido, na primeira oportunidade. Quando foi à noite, vi-me no desdobramento fora do corpo. Emmanuel se aproximou de mim informando que iria fazer a experiência desejada. Colocou uma bebida branca num copo – naturalmente em outro estado de matéria – e disse-me que aquele líquido era um alcaloide que iria me facultar experiência semelhante à que se tem com o ácido lisérgico. Depois que bebi aquela bebida, que era um tanto quanto amarga, comecei a me sentir muito mal, senti que estava entrando num pesadelo, vendo animais monstruosos em torno de mim, vendo criaturas de interpretação difícil, cenas muito desagradáveis, e acordei com a impressão de muito mal-estar, passando um dia terrível.

Em outubro, na minha terra, comumente temos muita bruma seca e vi, então, o Sol como se fosse uma fogueira incendiando o céu e a bruma seca como se fosse a fumaça daquela fogueira. Tudo me irritava, tudo me descontrolava. À noite, então, ele me informou que, na experiência que estava tendo e desejara, o alcaloide não fez senão aumentar os recursos que estava alimentando na minha mente. A bebida alterou minhas percepções e estava tendo resultado: vendo por fora de mim o que estava acontecendo dentro de mim.

Com o espírito aflito, porque a situação era muito desagradável, pedi instruções para readquirir minha tranquilidade. Mandou-me que orasse, procurasse recolher-me ao silêncio e não falasse, e procurasse lugar onde praticar o bem para adquirir vibrações de alegria. Comecei a visitar doentes desamparados; procurar vibrações de simpatia aqui e ali, e durante uns cinco dias estive trabalhando por me desfazer daquele estado terrível da minha mente, que não era um estado muito longe da alienação mental. No sexto dia, melhorou. Aquela nuvem passou e adquiri otimismo, compreensão da vida e paz de espírito. À noite, ele informou-me que eu iria ter a mesma experiência, iria beber o mesmo alcaloide do mundo espiritual, semelhante ao da Terra. Tornei aquela bebida de gosto amargo e o meu otimismo se transformou numa expressão de alegria profunda, numa embriaguez de felicidade. No outro dia tive sonhos maravilhosos, como se estivesse numa cidade de cristal, como se o céu fosse todo de vidro e qualquer luz se refletia em muitos ângulos. Acordei feliz. Fui para a repartição e meu chefe de serviço tinha para mim expressão angélica. Os meus companheiros estavam todos nimbados de uma luz que eu não podia explicar. Os livros pareciam encadernados por pedras preciosas. As plantas e os animais tinham luz. Eu me sentia com aquele anseio de comunhão, aquela vontade de abraçar as pessoas, como se todas fossem minhas e eu pertencesse a elas, sem nenhuma ideia de sexo, mas uma ideia, um desejo de transubstanciação, de transmutação nos outros seres. Durante uns quatro dias estive assim, naquele estado de alegria anormal. Ele, então, me disse:

– Você também está vendo seu estado mental aumentado pelo alcaloide. Está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você. Quero, então, dizer-lhe que é preciso ter muito cuidado, porque o cérebro terrestre está condicionado a guiar a nossa mente para os assuntos alusivos à vida humana. Nós não podemos estar nem muito à frente, nem muito na retaguarda. O cérebro está condicionado para guardar-nos em equilíbrio, a fim de que possamos suportar a carga dos acontecimentos da vida, das provas de que necessitamos.

Explicou-me, então, que a criatura, conforme seu estado mental, traz para si mesma os próprios reflexos. Se a pessoa está muito triste, muito pessimista e toma ácido lisérgico, cai numa condição temível e não se sabe quais serão as consequências. Se ela está muito otimista, pode cair num problema de irresponsabilidade. É um estado maravilhoso, mas é um estado de embriaguez incompatível com a nossa necessidade de lutar com os nossos problemas humanos, com os nossos deveres. Nós estamos aqui para cumprir obrigações. Não estamos aqui para gozar de um céu imaginário, nem para fantasiar um inferno que devemos evitar. Chegamos à conclusão de que o ácido lisérgico, ou um alcaloide qualquer, ou produto sintético que provoque estas sensações, são de resultados ruinosos se a Ciência não entra no assunto. 


Do livro Entrevistas, de Chico Xavier e Emmanuel.

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita