Artigos

por Paulo Hayashi Jr.

 

Façamos a nossa parte


Esopo, escritor grego do século VI a.C., foi o idealizador das fábulas como gênero literário. Ele escreveu relevantes obras que permitem a disseminação da tradição oral e, em especial, o ensino moral para uma vida justa e honesta. Pode-se destacar diferentes fábulas de Esopo, tais como: a raposa e as uvas, a cigarra e a formiga, a galinha dos ovos de ouro, o lobo e o cordeiro.

Em uma estória particular, o Náufrago, o escritor destaca a necessidade tanto de invocar os deuses no socorro, quanto de fazermos a nossa parte: “Convoca Atenas e também teus braços[1]”. Ou seja, para que a ajuda seja eficaz, não adianta a oração sem ação. É essencial que cada um aja e se mexa, senão o afundamento é evidente.

De certo modo, algo similar é expresso pelo apóstolo dos Gentios, Paulo de Tarso[2]: “Senhor, que farei?” Uma dúvida que é respondida por meio da ação espontânea no bem e na divulgação das obras do mestre Nazareno, mesmo que tenha que abandonar toda uma existência de equívocos. É deixar de lado o particularismo da vida, dos prazeres do ego e de títulos e formalidades que aprazem as convenções sociais, mas não o altar íntimo. Nas observações de Emmanuel[3]: “Não se reportava Jesus à letra morta, mas ao verbo criador”.

Para Paulo de Tarso, a mudança foi brusca, mas necessária para a condição superior. De doutor do Sinédrio para tecelão de malhas e tecidos que simboliza a metáfora da união e da solidariedade para a qualidade da obra. A palavra solidariedade vem do latim solidus e destaca a solidez e a consistência de algo. É olhar para a fibra interna ao invés da aparência externa.

Em Lucas, evangelista amigo e companheiro de pregação de Paulo, a lição pode ser destacada no seguinte trecho: “E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez e dos cuidados desta vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia[4]”.

Para os que estão acordados e despertos, a vida não é para ser desperdiçada, mas aproveitada em todo seu momento para a confecção das obras e aquisição de conhecimentos e virtudes, luzes e amores para o retorno à Pátria espiritual. É estar ciente e prestativo não apenas em não se afundar, mas também de flutuar, de elevar-se, de subir acima das ondas e dos céus para que a vida seja digna de satisfação consigo mesma e de inspiração e exemplo aos demais.

Entretanto, é essencial vencer as provas, mas não de qualquer modo. A elegância e a estética da superação contam no resultado final. De perceber que o valor está tanto no ato em si, quanto no modo como é realizado, em especial na casa mental.

É agradecer pelas lições vencidas e aprendidas de modo que a cruz não seja pesada demais e possa se transfigurar em ascensão memorável. É distribuir as bênçãos das Graças até mesmo entre aqueles que foram nossos inimigos e que não há mal ou maldade eterna, mas irmãos em ignorância que um dia compartilharão a mesma condição e felicidade.

O convite ao banquete não é apenas o último ato de Jesus junto aos discípulos, mas também a metáfora que a vida é um banquete de oportunidades. É vital tratarmos a todos como convidados e fazermos a nossa parte para que o bem, o belo, a verdade prevaleçam e sejam multiplicados e compartilhados. Assim, trabalho e estudo, dedicação e amor para que a vida não seja uma existência vazia e sem sentido. Que o serviço possa nos salvar dos naufrágios da existência e que as obras prósperas possam ser os manjares que levaremos para satisfazer os apetites de salvação e de ajustes em nossa história de idas e vindas. Como bons viajantes, deixemos os luminosos rastros de nossa passagem e, também, a esperança e a certeza de que fazer a parte devida vale a pena. [5]


 

[1] Esopo. Fábulas. Porto Alegre: LP&M, 2009, p. 42.

[2] Atos 22:10.

[3] Emmanuel. Vinha de Luz. Guardemos o ensino. Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 155.

[4] Lucas (21:34).

[5] Em homenagem aos meus queridos genitores, Paulo Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se encontram na pátria espiritual.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita