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por Rogério Miguez

 

Por acaso, existe acaso!?


Há, entre outras incontáveis citações na literatura espírita, firme opinião sobre a inexistência do acaso:

 

Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam: sorte, acaso, sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.1 (negritamos)


ou,

 

Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis.

 

O espírita está informado de que acaso não existe.2 (negritamos)

Esta ajuizada compreensão desta lei da vida é fundamental, pois sem este entendimento, pode-se facilmente crer que, quando a chamada bala perdida atinge um transeunte, esta pessoa não deveria ter sido atingida, naquele momento, por aquele projétil, e mais, se ela vier a desencarnar, então, conclui-se: desencarnou fora da hora prevista.

Não é possível aceitar que Deus, enfatizamos: onisciente, onipresente e todo poderoso, permita que um filho seu morra sem uma justificativa plausível. Alguns, talvez, imaginem que naquele exato momento estaria a Divindade distraída e, por conta desta distração, uma de suas criaturas teve um fim de vida material inesperado, entretanto, este raciocínio é um completo contrassenso, não é mesmo!?

E mais, a possibilidade de haver situações fora do conhecimento e permissão do Criador, nos levaria também a crer que após Deus ter criado o Universo, com seus literalmente incontáveis orbes e seres vivos, estes ganharam absoluta autonomia e, agora, não são mais passíveis de controle, ficariam ao sabor do nada, ou seja, do acaso, o sábio e poderoso concorrente das imutáveis e perfeitas leis divinas.

A propósito, os Espíritos registraram em O Livro dos Espíritos: “Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um ser inteligente? E, além disso, que é o acaso? Nada!”3

A Doutrina espírita é uma filosofia espiritualista baseada no bom senso, na razão, sendo assim, jamais podemos acreditar que fatos importantes da vida se deem de forma errática, fora de qualquer coordenação ou governo. Precisamos aceitar e, principalmente, entender: há sempre um encadeamento prévio de situações, que, no seu conjunto, provocam um determinado desfecho, o resultado esperado e necessário destas conjunções anteriores. Isto é a essência da lei de causa e efeito.

Caso contrário, esta lei que nos traz muita tranquilidade, pacifica os nossos corações e mentes, nos dando condições de acolher os fatos mais contundentes da vida, com paciência e resignação, pois sempre haverá justificativas para os mais inesperados acontecimentos, não se aplicaria, invalidando um dos princípios basilares do Espiritismo e, consequentemente, das leis divinas, ou seja, a vida seria uma eterna caixa de surpresas, como se diz popularmente.

Entretanto, não se creia que todas as minúcias do cotidiano foram previamente delineadas, senão, por qual razão existiria o livre-arbítrio?

Há incontáveis pequenos ocorridos que não podem estar previstos, apenas os mais significativos foram acertados anteriormente, contudo, mesmo estes grandes marcos de nossas existências podem ser alterados, tudo depende da conduta que tenhamos diante deles, durante o desenrolar destes combinados acontecimentos.

Tomemos mais um exemplo no caso de doenças físicas.

Antes de reencarnar, o Espírito é informado de que há previsão de uma doença grave vinculada ao seu fígado, por razões baseadas em más atitudes passadas, devendo eclodir com certa pujança por volta dos trinta anos. Se esta alma, se conduzir corriqueiramente voltada à prática do bem, se empenhando em aprender e ajudar ao próximo, aproveitando as oportunidades de aprendizado oferecidas regularmente pelas leis divinas, esta disfunção poderá ser atenuada e, em casos excepcionais, se o indivíduo se superar em suas condutas positivas, ela pode mesmo não acontecer. Por outro lado, se esta pessoa vivenciar uma conduta retrógrada, expressando preconceitos contra tudo e contra todos, agindo com violência e muito descontrole em sua área emocional, se entregando a vícios de variada ordem, sempre se colocando pessimista em relação a tudo e a todos, poderá ter a doença visitando-a antecipadamente, bem antes dos seus trinta anos de existência e, até com força maior, do que aquela prevista durante o período da erraticidade.

O espírita deve ter consciência de que o acaso não existe.

 

Referências:

VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1987. cap. 13 – Na propaganda.

2 _______._____. cap. 18 – Perante nós mesmos.

3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 3ª Edição Comemorativa. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2007. Q. 8.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita