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por Paulo Hayashi Jr.

 

O poder do verbo e da comunicação criadora

 

O potencial criador do verbo é expresso com destaque no Evangelho de João. Desde o seu início, o verbo já existia antes mesmo da materialização dos objetos e por meio dele há a realização dos fenômenos e até mesmo da vida. O verbo representa uma classe de palavras que indica ação, estado ou sua modificação[1]. Por meio dele interagimos na vida e também expressamos e nos comunicamos com os demais. Como seres gregários, dependemos também de outras pessoas para que as obras possam ser idealizadas e realizadas.

Pelo verbo e pela comunicação conseguimos superar nossas limitações e adentrar, dependendo da nossa habilidade e competência, em modo cooperativo e de solidariedade de trabalho. O que permite a reunião de forças superiores às de um indivíduo para que a coletividade tenha condições de compartilhar conhecimentos, energia, disposição, propósitos em torno de certos objetivos.

Neste sentido, faz-se essencial que o verbo venha revestido dos sentimentos e pensamentos dignos, pois tanto o coração quanto a mente são duas fontes que influenciam a qualidade do jorro e da frutificação.

É vital a purificação do coração por meio das emoções, sentimentos e afetos que acrescentam na existência, bem como a tolerância e a generosidade para os atos ainda falhos de irmãos em ignorância. Algo similar vale para a mente. Nutri-la com leituras, músicas, filmes edificantes que permitam a elevação dos pensamentos e ideias, conceitos e conhecimentos para que as sementes fecundas possam ser semeadas.

A correta vigilância e fortalecimento do coração e da mente facilita a utilização do verbo de modo construtivo, ao invés do contrário. “Pela linguagem o homem ajuda-se ou se desajuda.[2]

Todavia, mesmo fazendo a sua parte, não é uma tarefa fácil praticar o uso favorável da palavra em todas as situações, principalmente nas conturbadas. O mundo ainda está cheio de espinhos que podem nos afetar.

Caso sentimos dificuldades em momentos de urgência e crise, lembramos que ainda temos um “botão do pânico” para evitar desastres maiores. Os pulmões e os salutares ares da paz apagam incêndios e evitam problemas tal como expresso por Mateus (15:18): “Mas o que sai da boca procede do coração, e isso que contamina o homem”.

Não responder em situações adversas, respirar de maneira profunda e em modo de lentidão faz com que o “calor do momento” passe. O que pode gerar de novo a tranquilidade dos outros órgãos para a aplicação devida do verbo e das palavras. Nas tradições orais pede-se para contar até dez para responder à obtusidade, ou então, outra via de praxe: só um minutinho. É o momento do refazimento, da respiração que permite abrandar a brasa e evitar que o incêndio se alastre. Não é por acaso que no Oriente os pulmões são referenciados como os centros da energia[3], cabendo o uso deliberado para proteger o indivíduo do uso inadequado da palavra. Evitar o curto circuito é estratégico. Como recorda Emmanuel[4]: “É imprescindível vigiar a boca, porque o verbo cria, insinua, inclina, modifica, renova ou destrói, por dilatação viva de nossa personalidade”.

Em situações de normalidade, a palavra e o verbo afirmativo auxiliam na construção da colaboração, da parceria e da elevação moral. Todavia, as provações virão em situações extremas e para não falharmos na lição, lembramos que temos diversos recursos à nossa disposição. Desde a oração bendita que acalma e energiza, o silêncio providencial e, até mesmo, a respiração lenta e profunda que evita confusões maiores.

Mais do que as respostas teóricas, necessitamos da prática e do exercício da repetição para que a aprendizagem, o conhecimento tácito, o hábito virtuoso se transformem em parte de nós. Para Emmanuel[5]: “Não se reportava Jesus à letra morta, mas ao verbo criador”. Ademais, não nos esqueçamos também que o verbo também pode ser mental e que os pensamentos repetitivos influenciam na nossa exteriorização.

Mais do que o barulho de fora, aprendamos a organizar a casa mental em todos os seus recursos e potências. Coração, mente e pulmões são órgãos que, se bem influenciados, podem dar o impulso vital à superação dos obstáculos e de nós mesmos.

Assim, aprendamos a agradecer também pelos problemas e empecilhos. Serão eles que nos proporcionarão testar nossos limites e, assim, expandi-los caso sejamos vitoriosos. Através dos verbos e da comunicação não apenas criamos o ambiente em que nos adaptamos como também fornecemos as próprias soluções. Nas recomendações do apóstolo dos Gentios, Paulo de Tarso[6]: “linguagem sã e irrepreensível para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. [7]

 


[1]Aulete Digital. www.aulete.com.br

[2] Emmanuel. Linguagem. Fonte Viva. Rio de Janeiro: FEB, 2013, p. 101.

[3] Feuerstein, George. Enciclopédia da Yoga da Pensamento. São Paulo: Ed. Pensamento, 2006.

[4] Emmanuel. O verbo é criador. Vinha de Luz, Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 210.

[5] Emmanuel. Vinha de Luz. Guardemos o ensino. Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 155.

[6] Tito, 2:8.

[7] Em homenagem aos meus queridos genitores, Paulo Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se encontram na pátria espiritual.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita