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por Americo Domingos Nunes Filho

 

Intercâmbio com os habitantes do Além


Um dos princípios básicos da Doutrina Espírita é a mediunidade, a qual foi prontamente demonstrada na Universidade de Duke, pelo Dr. Joseph Banks Rhine, estudando os chamados fenômenos PSI-TETA, alusivos às manifestações de Espíritos de indivíduos já mortos, inaugurando a era da ciência não material; em que pese o trabalho rigoroso do famoso Willian Crooks, a maior autoridade científica da Inglaterra, em seu tempo, atestando a mediunidade de vários sensitivos, em particular a médium Florence Cook; a despeito do genial naturalista Alfred Russel Wallace, após sensível resistência, vencido pelas evidências, apaixonar-se pelos fenômenos mediúnicos; apesar de afamados cientistas, sérios e dedicados, de alta notoriedade, como Auguste de Morgan, Oxon, Barkas, Chambers, Myers, Gurney, Podmore, Lodge, Kerner, Zöllner, Camille Flammarion, Paul Gibier, Weber, Fechner, Ulrici, Butlerof, Aksakof, Chiaia, César Lombroso e Charles Richet, pesquisando e comprovando que, após o fenômeno da morte, prevalece a individualidade espiritual imortal.

As religiões tradicionais negam a presença dos Espíritos dos falecidos e alegam que a sua presença, em comunicação com os homens, se verifica, raramente, pelos chamados anjos, os santos e as almas do purgatório. A despeito disso, acreditam que o “diabo”, não raro, se dissimula em “anjo de luz”, enganando a todos os que acreditam no intercâmbio com os seres extrafísicos.

O magnânimo codificador do Espiritismo, Allan Kardec, afirmou que “se os mortos vêm conversar conosco, só pode ser com a permissão de Deus, a menos que se pretenda que venham sem essa permissão, ou contra a sua vontade, o que implicaria que Deus não se importa com isso ou que os evocadores são mais poderosos que Deus. Mas notai as contradições: de um lado dizeis que só o diabo se comunica e, de outro, que se perturbam as cinzas dos mortos, chamando-os. Se é o diabo, não são os mortos; portanto, não são perturbados nem se lhes falta com o respeito. Se são os mortos, então não é o diabo”. (Revista Espírita, maio/1863, página 200, FEB.)

Nos arraiais da mediunidade, algumas vezes, Espíritos de ordem inferior se manifestam, tentando ludibriar, apresentando-se como seres do bem; contudo, são prontamente desmascarados, porquanto a escuridão não sobressai diante da luz e o mal é a ausência do bem. Essa possibilidade de engodo, de trama fraudulenta, por parte de seres atrasados espiritualmente, afeitos ao mal, foi apontada por Paulo, na Segunda Carta endereçada aos Coríntios, cap. 11, versículos 13-14: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”.

Alegam os religiosos dogmáticos que a prática da mediunidade é proibida no Antigo Testamento, citando o livro Levítico, cap. 19, versículo 31, onde está estabelecido, “ipsis litteris”, o seguinte: “Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles. Eu sou o SENHOR, Vosso Deus”. Ainda em Levítico, cap. 20, versículo 27: “O homem ou a mulher que, entre vós, for necromante ou adivinho, será morto, será apedrejado, e o seu sangue cairá sobre ele ou ela”.

A prática da mediunidade exercida de forma equivocada era proibida pelo legislador hebreu Moisés, o qual aceitava e aclamava o intercâmbio com os Espíritos esclarecidos, conforme exclamou: “Oxalá todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu espírito” (Números 11: 29).

As evocações dos mortos pela legislação mosaica não eram impedidas quando exercidas de forma superior, sem vantagem financeira, sem associação à magia negra e à necromancia. Aliás, se fosse mesmo a mediunidade anatematizada na Bíblia, de forma alguma o próprio Moisés surgiria materializado, no alto monte, junto de Elias, ao lado de Jesus, estando Pedro, Tiago e João adormecidos e cedendo ectoplasma para que o fenômeno ocorresse (médiuns de efeitos físicos), conforme descreve o evangelista Lucas, no cap. 9, versículo 32. Interessante repetir que o próprio Moisés, aparecendo do além-túmulo, põe por terra a suposta oposição bíblica à mediunidade.

No caso de Saul, evocando o profeta Samuel, através da sensitiva de Endor, é importante enfatizar que o monarca estava preocupado com seus inimigos e solicitou uma comunicação mediúnica para fins divinatórios. Não tivera êxito através dos profetas de Israel. Através das faculdades paranormais da inferior medianeira, o Espírito Samuel lhe revela que ele e seus filhos, no dia seguinte, seriam mortos. (1-Samuel 28:19)

O motivo da condenação de Saul está bem claro, conforme enfatiza a entidade comunicante, dizendo que o rei desobedeceu às ordens do chamado “Senhor”. Portanto, o monarca foi punido, segundo a Bíblia, por desrespeito a esse “Senhor”. A mediunidade está livre de qualquer acusação. A punição de Saul não tem relação com o sublime intercâmbio mediúnico.

Embora a Bíblia enfaticamente declare a presença do Espírito de Samuel, alguns setores dogmáticos, não desejando abrir os seus olhos para a presença marcante dos Espíritos imortais, atribuem a causalidade do fenômeno ao chamado “diabo”, um ser criado à parte e que vive praticando o mal.

A Primeira Epístola de João, no cap. 4, versículo 1, afirma a mediunidade, revelando que se comunicam seres espirituais esclarecidos (“provêm de Deus”) e seres inferiores  (“não deem crédito”).

É lamentável que, em respeito a dogmas, a ditados essencialmente humanos e falhos, frutos do obscurantismo religioso, ainda se mantenha, em nossa época, a determinação de se rejeitar o intercâmbio mediúnico, cuja realidade é mais uma prova da bondade e da misericórdia do Amoroso Pai, dando-nos a certeza de que os chamados “mortos” vivem e, com certeza, vibram conosco, anseiam pelo nosso progresso moral e estão à nossa espera. Deus é verdadeiramente Amor, como relata o apóstolo João (1ª Epístola 4:8).

O excelso Mestre Jesus é o maior exemplo da certeza da vida após a vida e da possibilidade de a dimensão extrafísica estar sintonizada com o mundo físico, porquanto, através do fenômeno da mediunidade de efeitos físicos, surgiu materializado, atestando a imortalidade, diante de Tomé e demais discípulos, revelando a morte da morte, continuando a viver.


 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita