Internacional
por Jorge Leite de Oliveira

Ano 15 - N° 765 - 27 de Março de 2022

 

D. José Amigó y Pellícer, autor do livro Roma e o Evangelho, diz como surgiu o livro
 

Em abril de 1874 foi lançado em Lérida, na Espanha, o livro Roma e o Evangelho, autoria de D. José Amigó y Pellícer, até então membro do clero
católico que, ao se tornar espírita, fundou o Círculo Cristão-Espiritista.

O livro causou grande polêmica e reações nada amigáveis por parte da Igreja, como o próprio autor disse ao nosso colaborador Jorge Leite de Oliveira na entrevista seguinte. [1]


*


Hoje resolvi entrevistar o elevado Espírito D. José Amigó y Pellícer, autor da obra Roma e o Evangelho, a ser reeditada em breve pela Federação Espírita Brasileira:

— Quando e onde o Sr. e sua equipe, composta de clérigos, filósofos, cientistas, resolveram investigar os fenômenos espíritas, e qual era a intenção do grupo?

Pellícer: — Foi em Lérida, na Catalunha, que começamos nosso trabalho, assim que as informações sobre as manifestações mediúnicas provindas de Paris chegaram à Espanha. A intenção inicial era a de desmascarar o movimento espírita iniciado, oficialmente, em Paris com a publicação d'O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec. Imaginava-se, mesmo, ridicularizar as teorias e fenômenos espíritas.

— Que resultou dessas pesquisas?

Pellícer: — Ao contrário de teorias ilógicas, superstições e falsa moral, deparamo-nos com uma filosofia racional e lógica, que viria ratificar, com base nos fatos, os elevados ensinamentos de Jesus. Então, fundamos o Círculo Cristão-Espiritista, decididos a divulgar publicamente o resultado de nossas pesquisas e continuar esses estudos e práticas sob o pálio da ciência experimental.

— O Sr. não pensou nas consequências dessa corajosa iniciativa, num tempo em que a Igreja imperava sobre o Estado e impunha ao mundo sua doutrina?

Pellícer: — Sabia que viriam represálias, que do exercício de nossa convicção conscienciosa e do dever da publicação dos resultados de nossos trabalhos resultariam represálias, mas não nos podíamos calar. Sacrificamos tudo às verdades que nos eram reveladas. "Como os primeiros cristãos, tivemos a fé precisa para desenrolar o divino estandarte dos ensinos de Jesus, ainda que houvéssemos de sucumbir à sua gloriosa sombra."

— E quais foram as já esperadas consequências da publicação do livro Roma e o Evangelho, além de outros trabalhos no gênero?

Pellícer: — Alguns meses após publicada essa obra, o Ministro da Instrução Pública na Espanha, marquês de Orovio, suspendeu D. Domingo de Miguel do cargo de Diretor da Escola Normal de Lérida e a mim, segundo professor dessa escola, em virtude de nossas opiniões filosófico-religiosas divulgadas no Círculo Cristão-Espiritista.

— Essa represália o fez desistir de lutar pela divulgação da nova revelação do Cristo?

Pellícer: — Pelo contrário, deu-me mais coragem para continuar os trabalhos já iniciados com a fundação do Círculo Cristão-Espírita, que se expandiu de modo considerável, graças à adesão de grande número de espanhóis e o apoio de estudiosos de mente aberta à nova revelação cristã.

— Quais são suas palavras finais ao nosso leitor?

Pellícer: — Repito o que disse em "Quatro palavras ao leitor": 


Quando censuramos, referindo-nos ao clero ou às autoridades da Igreja, deve isso ser entendido como dirigido aos erros e abusos, nunca porém aos indivíduos ou classes; pois que, se nos julgamos autorizados a censurar mistificações, direitos, não presumimos ter de condenar os que porventura veem o bom uso no abuso — e a verdade no erro.

E como poderíamos condenar, se o princípio capital da nossa Doutrina é a caridade e o perdão?

Tudo tem sua razão de ser — e tudo contribui e coopera para o cumprimento da Lei que preside à Criação.

Moisés não podia deixar de preceder a Jesus, porque o povo hebreu, então grosseiro, material e prevaricador, não estava em condições de receber o Evangelho.

Tampouco Jesus não ensinou tudo o que sabia, porque a geração do seu tempo não suportaria o peso de todas as verdades (João, 16:12).

Por isto, Ele serviu-se de alegorias e de parábolas que, se no momento se prestavam a errôneas interpretações, mais tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro sentido.

Quem, entretanto, poderá com razão acusar Moisés, pela dureza das suas leis, e Jesus, por haver falado ou dito em linguagem obscura o que não convinha revelar?

A inspiração e a palavra de Deus são sucessivas, e a humanidade vai recolhendo-as à medida das suas necessidades.

Por conseguinte, não podemos culpar a Igreja Romana por erros que não são seus, mas, sim, da miséria dos tempos e da ignorância das gerações que se têm sucedido após a morte de Jesus.

Julgamos ter manifestado com bastante clareza os nossos pensamentos: tudo pela ideia — nada contra as pessoas (PELLÍCER, J. A. y. In: Roma e o Evangelho. 8. ed. FEB, 1995).

 

— É verdade, Amigó, as palavras que Jesus disse que ainda tinha de nos revelar, não podiam ser ditas em sua época. Por isso, ele retornou, e, através do Espírito de Verdade, que preside, em seu nome, o Espiritismo, volta ao mundo atual, para, acima de todo preconceito, má vontade e perseguição humana, permanecer conosco para sempre. Siga em paz e continue, onde estiver, sua bela obra em nome do Cristo.

Pellícer: — ¡Adiós, amigo, salud y paz!

— ¡Paz y luz, Amigó!

 

[1] Como o leitor deve ter percebido, esta é uma entrevista fictícia, embora fundamentada em fatos reais.


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita